União dos Palmares - Depois de oito meses fechados, os portões da fortaleza do Quilombo dos Palmares reabrem hoje em comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra, mas não para todos que querem reverenciar os 325 anos da morte do líder negro “Antônio” Zumbi dos Palmares, ocorrida em 1695. No ano passado, mais de 34 mil turistas estrangeiros, brasileiros e estudantes também de diversas nacionalidades visitaram a Serra da Barriga. Este ano, o governo de Alagoas, a Secretaria de Estado da Cultura, o Ministério da Cultura, a Fundação Zumbi dos Palmares e a prefeitura local, em conjunto, limitaram o acesso a 300 pessoas e informaram que, por causa de decreto estadual (nº. 71467 de 29 de setembro de 2020),o distanciamento social está mantido na serra para evitar a contaminação do Coronavírus. As cerimônias religiosas celebradas centenariamente no platô da serra por religiões de matriz africana serão realizadas de forma simbólica, diz o comunicado ao indicar que não haverá permissão para grandes concentrações. Os seguranças da área de 240 hectares do sítio histórico da serra tombada como Patrimônio Cultural Nacional dizem que será monitorado o cumprimento do distanciamento social. O acesso terá de ser com máscara. Haverá luvas, álcool em gel e medição de temperatura para os visitantes. O parque abre com horário de funcionamento das 7h às 17h, com acesso limitado, a partir de hoje, para 300 pessoas por dia. O controle do acesso acontecerá no meio da serra por servidores da equipe da segurança florestal da área. A entrada, no entanto, será feita de forma democrática e obedecerá à ordem de chegada do visitante. “Esta é a primeira vez que ocorre acesso limitado e de forma atípica ao solo sagrado do platô da Serra da Barriga por causa do risco da pandemia”, explicou a presidente da Fundação Municipal de Cultura, Izabel Gomes. “A decisão de limitar a presença das pessoas está expressa em decreta conjunto dos governos federal, estadual e municipal. Gostaríamos muito que todos pudessem ter acesso, como acontecia todos os anos. Essa é uma data importante para o nosso país porque faz reverências aos nossos ancestrais, infelizmente vivemos um momento de cuidados sanitários necessários”. Izabel Gomes revelou ainda que, até que haja a vacina para proteger as pessoas contra a Covid-19, o acesso ao topo da serra permanecerá limitado. Lembrou que o acesso terá que ser com máscara. No portão da fortaleza do Quilombo e pontos estratégicos haverá álcool em gel. “Precisamos da compreensão de todos”.
O prefeito reeleito de União dos Palmares, Areski Freitas (MDB), disse que a situação da pandemia da cidade está sob controle. “Conseguimos sensibilizar a população para respeitar as medidas de distanciamento social. Só temos dois casos em tratamento. Não há paciente entubado e, nos últimos dias, não registramos óbito decorrente de complicações do coronavírus”, disse o prefeito. Mesmo assim, enfatizou que é preciso manter o controle no acesso ao solo sagrado. “Gostaríamos de abrir para receber milhares de visitantes. Infelizmente temos o vírus circulando em todo o País, e isso nos obriga a adotar medidas de controle sanitário”.
Fundação
“As medidas sanitárias e a fiscalização são decorrentes de uma articulação da Fundação Palmares, governo do Estado e prefeitura de União, e elas permitem a reabertura que o parque da Serra da Barriga seja reaberto”, disse à TV Gazeta o diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Palmares, Laércio Fidélis. Na área onde tem construído uma réplica cenográfica do Quilombo dos Palmares, no platô da Serra da Barriga, acontecem todos os anos, neste dia, atividades religiosas e artísticas para marcar e reverenciar a luta contra a escravidão no Brasil e de líderes da resistência. O quilombo foi aniquilado por tropas portuguesas 1694. Um ano depois, em 20 de novembro, Zumbi foi capturado, teve a cabeça decepada e exposta na Praça do Carmo, em Recife. Segundo historiadores como o professor pesquisador Zezito Araújo, um dos alagoanos que trabalharam no reconhecimento da área do sítio histórico da Serra da Barriga e contribuíram no processo de tombamento que ocorreu pelo Ministério da Cultura em 1985, “o Quilombo dos Palmares recebia negros que fugiam dos presídios, das senzalas, das fazendas e formaram aqui [no platô da Serra] a primeira República das Américas. Mas a luta de Zumbi ainda não acabou”.