O cancelamento da queima de fogos no réveillon na orla de Maceió e a restrição à quantidade de pessoas nos eventos de fim de ano em Alagoas – medidas do governos municipal e estadual, por causa da pandemia do coronavírus – caíram como uma bomba no setor hoteleiro, que já começou a registrar prejuízo justamente no momento em que tentava se reerguer após meses da pandemia.
Mas não é só o setor hoteleiro que se queixa da determinação do governo, motoristas de aplicativos, taxistas, ambulantes – profissionais que faturam quando o turismo aquece – estão indignados com a decisão. Também reclamam do silêncio dos órgãos fiscalizadores durante a campanha política encerrada há poucos dias, que gerou aglomeração em várias cidades e pode ter elevado os casos de Covid em Alagoas.
Para André Santos, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Alagoas (ABIH-AL), os empresários respeitam a medida já que se trata de saúde e combate à Covid, mas que não há justificativa para o cancelamento do réveillon. “O número de casos e mortos estava caindo. O que aconteceu, que eu vejo, foi uma questão política da campanha e a ausência do MP [Ministério Público], que deveria ter fiscalizado. A hotelaria respeita, mas não concorda com a decisão. Passamos de 6 a 7 meses fechados e quando o setor começa a se reerguer vem esse cancelamento. Tive informações que já começaram a pedir reembolso e cancelar reserva em hotéis”, declara André Santos. “Todo mundo tinha esperança de que os ganhos dessem para aliviar diante de tanta perda que foi o ano todo. Aí vem um decreto depois das eleições totalmente duvidoso. Ninguém confia mais nessas autoridades. Enquanto isso nas eleições a gente viu carreatas, todo tipo de aglomeração podia. Agora os eventos com 300 pessoas pode, com 400 não. A gente vê isso com bastante chateação. É patético”, fala Anselmo Romão, motorista por aplicativo e representante da categoria. “Um prejuízo grande para a categoria, porque não vamos ter o serviço de transporte de pessoas, tanto indo levar até os eventos quanto na volta dos eventos. Ao logo do ano, aguardamos este momento para recuperar perdas do período de pandemia e da concorrência desleal”, explica Fernando Ferreira, do Sindicato dos Taxistas do Estado de Alagoas (Sintaxi). “Nós nos sentimos prejudicados com essa medida. Nossa expectativa é de ano em ano pagar nossas dívidas com essa época e foi frustrado. Agora não sei o que vai ser da gente. Era a coisa boa que a gente tinha no final e agora o táxi está extinto. Agora eu estava pensando em pagar meus pregos, infelizmente o governo nos deu esse presente”, disse José Carlos da Silva, que atua há 35 anos como taxista.
AMBULANTES
O ambulante Lucas Gabriel, que vende churros na Pajuçara, disse que fica triste porque não vai poder trabalhar na virada do ano. “A gente não tem voz, a gente queria que tivesse sido normalizado e ficasse de um jeito que pudesse trabalhar”, lamenta. Já Marcelo dos Santos explica que entende que o cancelamento é para o bem de todos para proteger contra a Covid, mas que prejudica o ambulante. “Principalmente na noite do réveillon, que é quando a gente ganha um dinheirinho a mais”, acrescentou o ambulante. Nesta semana, o governo de Alagoas informou que os tradicionais réveillons previstos para ser realizados em Maceió e nos municípios do interior estão proibidos, em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Além da queima de fogos na orla de Maceió, evento cancelado pela prefeitura, ficou definido que as festas só podem ter até 300 pessoas e realizadas em locais abertos, com respeito às normas sanitárias e de distanciamento social.