Atuar na linha de frente da Covid-19 tem sido desafiador para os profissionais de saúde. Sem trégua, de março até os dias atuais, médicos, enfermeiros, técnicos, seguranças, serviços gerais, secretárias e tantos outros que atuam diretamente para o funcionamento da saúde em Alagoas, demonstram exaustão devido à jornada de trabalho durante á pandemia. O diretor-médico da Santa Casa de Maceió, Artur Gomes Neto conta que está trabalhando todos os dias desde o começo da pandemia. “Não parei um dia sequer. Mantive meu consultório, com atendimento de convênio e do SUS. O pensamento é muito preocupante porque a impressão é que não vai acabar mais porque quanto mais atendemos, mais aparecem casos. A gente enxerga a tristeza de muitas pessoas partirem e isso de alguma forma influencia mentalmente e cansa”. O médico diz que, quando os profissionais começaram a observar esse novo aumento, por causa de ‘tantas coisas que as pessoas negligenciaram’. “A campanha política, as pessoas sabiam que podiam se contaminar e todo mundo foi na onda, naquele oba oba e parecia que não existia vírus e a gente pensa, né, poxa, tanto esforço para voltarmos a estaca zero, onde os casos estão aumentando gravemente e a gente novamente pensando na possibilidade de ter que arrumar mais leitos devido a escassez que está sendo agora”, relata. Sobre estar cansado, Artur diz que não se sente cansado porque nasceu para isso, mas, revela estar preocupado com a nova onda.
“Não me sinto cansado porque sou médico, é a minha profissão é ser médico e a gente não cansa. A gente pensa um pouco de tempo para descansar e volta com a mesma energia para atender, no sentido de curar e dar conforto. Isso é o mistério da nossa profissão, se dedicar ao próximo não importa como e quando; se tem dinheiro ou não tem, ou pelo menos confortar”, afirma.
Em pedido, Artur Gomes diz que gostaria que as pessoas ouvissem os profissionais da saúde. “A gente se preocupa tanto com prevenir, com o tratar e as discussões políticas com relação a droga que esquecem o básico, que é prevenir a doença, que é usar máscara [ainda tem gente que se revolta por ter que usar], em lavar as mãos, com a higiene que é uma coisa natural e, principalmente de estar distante por um período para que a gente possa controlar a doença e imunizar a população, com a vacina ou com a própria natureza, correndo de pessoa a pessoa, mas, de uma maneira devagar, de modo que a gente possa atender a todos sem saturar o sistema de saúde”.
Já para quem vai para às ruas, como o enfermeiro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Douglas Medeiros, que trabalha em uma escala de 12 horas diurnas e 12 noturnas, com seis horas de folga, os atendimentos relacionados à Covid-19 voltaram a crescer. “De uns dias para cá, sentimos, na prática, um aumento no nosso atendimento, quando chegamos nas UPAs, isso fica bem claro, pois os leitos que até poucos dias estavam desocupados, hoje já vem com uma certa demanda”, conta Douglas Medeiros. Para ele, do começo da pandemia até agora, o nível de estresse não passou. “O que deixa-nos mais tensos é saber que a população não está nem aí para os cuidados, onde você vai, encontra uma muvuca”. O enfermeiro conta, ainda, que tem tomado todos os cuidados com os familiares. “É chegar em casa, olhar para a família, com aquele cuidado, pois antes abracavamos, beijavamos, mas, hoje não fazemos mais isso. Isso me deixa super triste, pois, nós, brasileiros, gostamos desse contato”. Ele conta que se sente cansado devido à pandemia, tanto pelo tempo de um atendimento, quanto as roupas que vestem e classifica; “cansaço físico e mental”. “Todos tem que se policiar, usar máscaras quando sair, evitar o que mais gostamos que é o contato, o abraço, ainda não sabemos tudo sobre esse vírus, só sabemos que ele não escolhe classe, gênero, crenças, por isso o melhor cuidado é o distanciamento social”, concluiu.