Alagoas não tem estrutura para verificar mutações no novo coronavírus e, até agora, não fez o envio de amostras para laboratórios de referência nacional verificarem a circulação de variantes no Estado. A informação foi dada pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) após questionamento da Gazeta de Alagoas. Variações como a de Manaus se mostraram mais infecciosas. Como Maceió recebeu pacientes do Amazonas e a chegada de muitos turistas de vários estados, há preocupação de que a nova cepa já esteja circulando em Alagoas, o que pode agravar a situação da pandemia no Estado. O procedimento de verificação, chamado de sequenciamento genético, busca constatar mudanças na estrutura do micro-organismo e determinar possíveis variações. Segundo a Sesau, cabe ao Laboratório Central de Alagoas (Lacen) e ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) detectar possíveis casos, mas os testes não são feitos no estado. Até o momento, o envio de amostras não foi feito pela secretaria para os laboratórios. O procedimento não ocorreu, segundo a assessoria, porque não há suspeita da circulação de alguma variante no estado. O infectologista Fernando Maia diz que, em princípio, não acredita ter havido um descuido por parte do Governo Estadual, mas defende um cuidado maior e que a testagem poderia ter sido feita anteriormente. Nesta quarta-feira (27), entre as mortes confirmadas pela Covid-19, havia um adolescente de 14 anos e um jovem de 25, ambos sem comorbidades. “É possível que essa variante de Manaus, por ser mais transmissível, esteja atacando pessoas que escaparam das outras cepas virais”, disse.
Óbitos como esses, que sempre ocorreram, mas vêm se tornando mais comuns, deveriam deixar as autoridades mais alertas, segundo ele. “O Estado deve encaminhar amostras para análise quando se verifica uma mudança nos casos da pandemia, ou quando acontece algum caso fora do comum”, explica. O Ministério da Saúde também pode fazer solicitações, caso julgue necessário. Ele acredita que, antes da chegada dos pacientes de Manaus, a secretaria poderia ter feito testagem. “Inclusive para saber se essa cepa amazonense já estaria em circulação por aqui”, defende. Os testes, contudo, não foram feitos até hoje. Dois pacientes vindos do Amazonas faleceram nesta quinta-feira (28) na capital. Fernando Maia diz que, apesar de a chegada dos pacientes ser um indicativo de maior atenção, esse sequer é o maior fator de risco. “Há pessoas viajando de todos os lugares do Brasil para Maceió e saindo também”, explica. Questionada se há maior investigação quando ocorrem óbitos como os de quarta (27), a Sesau afirmou que o fluxo de análises de testes no Lacen segue o mesmo de sempre.
INCÓGNITAS
Diferentes variações do vírus vêm levando países a fecharem suas fronteiras e adotarem, novamente, medidas mais rígidas de isolamento social. Uma variação do novo coronavírus vinda do Reino Unido, por exemplo, levou diversos países da Europa a impedirem voos britânicos para suas fronteiras. A variante, chamada de B117, já foi detectada em território nacional. Pesquisadores teorizam que a nova variante surgida em Manaus é responsável pela nova explosão de casos. A imunidade adquirida em meados de 2020, quando a pandemia atingiu fortemente o Amazonas, não é tão efetiva contra a mutação. Os novos tipos de vírus também preocupam os infectologistas quando o assunto é imunização: não está claro se as vacinas são tão eficazes contra variantes do vírus quanto são com a primeira linhagem, surgida em Wuhan e que tomou o mundo no ano passado.
Empresas farmacêuticas já fazem testes para verificar a eficácia dos imunizantes contra diferentes variações. A Novavax, por exemplo, afirmou que sua vacina é menos eficaz contra uma variante recente, que surgiu na África do Sul.
Os principais imunizantes usados na campanha de vacinação no Brasil e, também, em Alagoas, são a Coronavac, do laboratório chinês Sinovac, e a vacina da Oxford/AstraZeneca. Nenhuma das duas publicou estudos sobre a eficácia de suas vacinas contra a variante de Manaus. Ambas afirmam, contudo, que as vacinas devem ser eficazes contra a variante inglesa.
* Sob a supervisão da Editoria de Cidades