Militares de Mianmar tomaram o poder no país ontem e detiveram integrantes do governo, inclusive a líder política Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz em 1991; e o presidente do país, Win Myint. De acordo com a agência Associated Press, uma junta militar pretende ficar no governo durante um ano. Eles acusam os governantes depostos de estarem no poder graças a uma fraude eleitoral. Há dois meses, o partido Liga Nacional pela Democracia venceu uma eleição que opositores, impulsionados por militares, acusam de serem fraudadas — o que o presidente e as lideranças governistas de Mianmar negam. “Eu quero dizer ao nosso povo que não responda intempestivamente, e quero que ajam de acordo com a lei”, pediu o porta-voz do governo, Myo Nyunt, em entrevista à agência Reuters. Ele também teme ser preso. Uma rede de televisão controlada pelos militares de Mianmar confirmaram que as prisões ocorreram em resposta ao que chamaram de “fraude eleitoral” e declararam estado de emergência. Segundo relatos divulgados pela agência Reuters, militares cercaram também a prefeitura de Yangon, a maior cidade de Mianmar. Além das prisões, os telefones da capital de Mianmar, Naypyitaw, estavam sem linha desde o início da manhã. A rede de televisão estatal MRTV também ficou fora do ar — segundo a emissora, por “razões técnicas”, sem dar mais detalhes. E moradores do país relataram que serviços digitais estão sem funcionar. Na semana passada, o chefe militar Min Aung Hlaing — que, segundo o jornal “Guardian”, é a pessoa mais poderosa em Mianmar — afirmou que havia encontrado “desonestidade e injustiça no pleito”. Os governistas venceram por ampla maioria, mas a oposição apoiada pelas Forças Armadas afirma ter encontrado 8,6 milhões de casos de fraude. Perguntado, à época, se o país corria risco de um golpe militar, um porta-voz das Forças Armadas respondeu: “Nós não diremos que o Exército tomará o poder. E também não diremos que não”. Eleição conturbada em Mianmar Mianmar passou em novembro de 2020 por eleições no Parlamento bastante criticadas por não permitir a participação de minorias étnicas. Praticamente todos os muçulmanos rohingyas não votaram, porque eles se encontram em campos de refugiados em Bangladesh ou porque perderam a nacionalidade birmanesa.
A imagem de Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz de 1991, que continua muito popular em Mianmar, foi muito afetada no cenário internacional pela crise dos rohingyas. O país é acusado de cometer genocídio contra essa população, e a ativista e principal liderança política birmanesa chegou a ter prêmios retirados por causa das acusações.