No início da pandemia do novo coronavírus, ainda no primeiro trimestre de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertava sobre os países que não estavam investindo na testagem em massa da população. Os meses se passaram, o apelo por mais testes foi renovado e os estados brasileiros seguiram sem capacidade de testar e isolar os casos suspeitos de Covid-19. Para o professor Gabriel Bádue, do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, vinculado à Faculdade de Nutrição da Ufal, a testagem é um dos gargalos no enfrentamento da pandemia no estado. Com 284, 6 mil testes realizados até o dia 2 de fevereiro, que corresponde a 8.529 testes por 100 mil habitantes, Alagoas está abaixo da média nacional que é de 15,6 mil testes por 100 mil habitantes, aponta o pesquisador. “Em comparação com os demais estados, Alagoas ocupa a segunda pior posição neste quesito, à frente apenas do Maranhão que realizou 504.956 testes, que proporcionalmente a sua população corresponde a 7.137 testes por 100 mil habitantes”, afirma Bádue. Sobre o grande número de casos em investigação, se é reflexo da falta de testagem e qual prejuízo isso pode trazer, Gabriel Bádue lembra que, segundo o Ministério da Saúde (MS), um indivíduo com quadro respiratório agudo é notificado como suspeito quando apresenta ao menos dois sintomas dentre uma lista definida pelo protocolo do MS. Já a confirmação pode ser realizada por um dos seguintes critérios: clínico, clínico-epidemiológico, clínico-imagem ou laboratorial.
“A partir dessa definição, as secretarias de saúde devem responder como este protocolo está sendo executado nas unidades de saúde para fins dessa notificação. Uma hipótese é de que os casos só estejam sendo confirmados por meio de critério laboratorial, o que, dada a dificuldade com testagem, faz com que o número de suspeitos seja elevado. Entre os prejuízos que essa situação pode trazer está a dificuldade de estabelecer estratégias de combate à pandemia, como monitoramento de casos e rastreio de cadeias de contágio, o que possibilitaria um controle mais efetivo da transmissão”, finaliza.
Em Alagoas, o número de casos suspeitos continua alto, reflexo da dificuldade em relação à testagem do novo coronavírus, segundo avaliação de especialistas. Em agosto de 2020 – meses após declarada a pandemia do novo coronavírus – um dos diretores da Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que o mundo ainda não tinha investido o suficiente em estratégias que ajudariam a conter a disseminação, como testagem em massa, rastreamento, isolamento e quarentenas.
TESTES RÁPIDOS SÃO INAPROPRIADOS, AFIRMA PROFESSOR
Na opinião do professor Sérgio Lira, que integra o Grupo de Modelagem Científica e Simulação do Surto de Covid-19, que conta com pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) (áreas de Computação, Física e Matemática), assim como no restante do país, a testagem no estado segue muito baixa. Além disso, continuamos dependentes dos chamados testes rápidos de anticorpos, que não são apropriados para diagnósticos e deveriam ser substituídos por testagem molecular RT-PCR ou rápidos de antígenos (que são mais confiáveis e estão recentemente disponíveis no país). “De acordo com os dados divulgados pela Sesau-AL, são realizados cerca de 200 testes RT-PCR diários no Lacen-AL, com uma taxa próxima de 50% de testes positivos para covid-19. Para efeito de comparação, o estado americano do Mississíppi que possui uma população semelhante à de Alagoas testa cerca de 6 mil pessoas por dia e possui uma taxa de 10% de positivos. De acordo com o CDC americano, uma porcentagem de positivos acima de 10% já considerada na mais alta categoria de risco e indica descontrole na testagem de casos, deveríamos aumentar os testes para mantê-la abaixo de 5%”, explica Sérgio Lira.
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