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AL TEM 2ª MENOR TAXA DE MÉDICOS A CADA MIL HABITANTES NO NORDESTE

Situação é mais crítica no interior, onde atuam 897 profissionais para uma população de 2,3 milhões

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Imagem ilustrativa da imagem AL TEM 2ª MENOR TAXA DE MÉDICOS A CADA MIL HABITANTES NO NORDESTE
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Formada médica há três anos, a alagoana Mayara Honorato, de 28 anos, atuou até agora somente em cidades do interior de Alagoas. Ela conta que a escolha por cursar Medicina surgiu após passar por uma situação familiar que a fez decidir que gostaria de cuidar de outras pessoas. Um relatório do Conselho Federal de Medicina (CFM), intitulado “Demografia Médica Brasileira”, mostra que Alagoas é o segundo estado do Nordeste com menor taxa de médicos a cada mil habitantes. É 1,5 profissional para cada grupo deste. Somente o Maranhão apresenta situação pior, com taxa de 1,08. A taxa alagoana é a sexta pior do Brasil, que tem no Pará, com taxa de 1,07, o pior cenário nacional.

No interior, onde Mayara Honorato atuou até agora, a situação é ainda pior. Os alagoanos que residem fora da capital contam com menos de um médico a cada mil habitantes, a taxa é de 0,39, que é a terceira pior do Nordeste, à frente somente de Sergipe (0,26) e Maranhão (0,38). Em números absolutos, são 897 médicos atuando no interior de Alagoas para atender uma população de 2,3 milhões de habitantes.

A jovem médica faz parte também de outra estatística. Alagoas é o estado brasileiro com maior participação feminina na Medicina. São 5.266 registros médicos ativos no Estado. Destes, 2.718 (51,6%) são de mulheres e 2.548 (48,4%) são de homens. Além disso, o estudo mostra que o Estado lidera outro ranking, o da idade média mais alta entre os profissionais. Em Alagoas, os médicos têm, em média, 49,2 anos. Os estados com médicos mais jovens são Tocantins e Rondônia, com média de idade de 41,6 anos.

Mayara opina que a distribuição irregular de médicos entre as regiões é uma realidade do Brasil inteiro, e aponta para uma ausência de investimento na atenção primária. Ela conta que percebe um sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e que há em prática no País um modelo “hospitalocêntrico”, que é centrado em cuidados complexos. Outro ponto que Mayara Honorato cita é que a maioria dos programas de residência médica está centrada no eixo Sul-Sudeste e que a atuação nos interiores está atrelada, muitas vezes, à falta de perspectiva. A médica atuou durante esse período por meio do programa federal “Mais Médicos”, que visa justamente levar esses profissionais para as regiões mais remotas do Brasil. Mayara Honorato classificou a experiência como “enriquecedora”. “É grande a responsabilidade e o número de pacientes, na cidade em que trabalhei, era de 3.200 usuários cadastrados. Mas foi uma experiência muito boa, de aprendizado humano”, resume.

Sobre a escolha de que especialidade seguir, a médica conta que ainda não decidiu, mas está propensa à psiquiatria. “O que pesa é a maneira com que a gente pensa Medicina”, pontua. Ela diz que essa escolha depende do perfil do profissional, mas que sente uma orientação “na raiz” da Medicina para áreas mais rentáveis e que isso ocorre em razão da falta de investimentos nas áreas de atenção primária.

A maioria dos médicos de Alagoas, 3.284 (62,4%), são especialistas. Os outros 1.982 (37,6%) são generalistas. Proporcionalmente, Alagoas possui o maior percentual de especialistas do Nordeste e o sétimo do Brasil. A especialidade médica mais comum em Alagoas é a pediatria, com 476 profissionais. Logo após aparece a ginecologia e obstetrícia, com 360. Completam a lista a cirurgia geral, com 333, e a cardiologia com 163. Já as especialidades com o menor número de adeptos em Alagoas é encabeçada pela medicina de emergência, que consiste na abordagem e manejo de situações que representam risco imediato à vida. Segundo o CFM, não há nenhum especialista desse ramo em Alagoas. Logo após, a genética médica aparece com apenas cinco adeptos em Alagoas. Completam a lista de especialidades com menor adesão a cirurgia de mão, com seis profissionais, e a medicina nuclear, com nove.

CENÁRIO NACIONAL

Em todo o País, o número de médicos cresceu fortemente nos últimos anos, atingindo mais de 500 mil profissionais, uma média de 2,4 para cada mil habitantes. Entre 2010 e 2020, o País ganhou 180 mil novos médicos. A taxa de aumento do número desses profissionais foi maior do que a de crescimento da população em geral, ampliando o indicador de 1,7 para 2,4 por mil habitantes nos últimos dez anos. Contudo, o País ainda está abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 3,4 para cada mil habitantes. O Brasil vem atuando para ser admitido no grupo. Entre 2010 e 2020, a média de profissionais que deixaram a carreira a cada ano ficou estável entre 1,2 mil e 1,5 mil. Contudo, o número de egressos dos cursos de Medicina anualmente foi de 12,7 mil para 21,9 mil nesse período. Segundo o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, diante do grande número de egressos, a cada ano há deficiência para poder dar continuidade à formação adequada. “Não existe infraestrutura hospitalar que permita aumento de vagas de residência para acompanhar esse aumento exponencial de formandos no Brasil”, pontuou. Mas o estudo também verificou que, apesar do incremento na oferta de médicos, essa está distribuída de forma desigual no território brasileiro. As regiões Sul e Sudeste e em estados mais ricos ou com produto interno bruto per capita mais alto, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Distrito Federal, possuem taxas muito maiores do que os demais. No Sudeste, a proporção médico/habitante é de 3,15 e na Sul, 2.68. Na capital, a média é de 5,11. Já no Norte e Nordeste o quadro é bem diferente, com taxas respectivas de 1,3 e 1,69 profissional para cada mil habitantes. O Pará, por exemplo, possui a menor média, de 1,07 médico para cada mil habitantes, cerca de cinco vezes menos do que a capital do País. Na comparação entre capitais e interior, também se verifica desigualdade. Enquanto as cidades do interior abrigam 76,2% da população, elas possuem apenas 45,7% dos médicos. E o crescimento tem sido lento: em 2017 eram 44,9% profissionais dessa carreira. Já as capitais são local de residência de 23,8% dos brasileiros, mas contam com 54,3% dos formados em Medicina. O estudo também verificou o perfil demográfico da profissão. Nas últimas duas décadas, houve um acréscimo na proporção de mulheres. Se em 1990 elas representavam 31% dos profissionais, em 2020 chegaram a 47%. Em 2019, 57,5% dos novos registros dos conselhos regionais de Medicina eram dados a médicas, enquanto 42,5%, a médicos. Com a abertura de novos cursos e entrada de mais pessoas por ano, a idade média caiu, chegando a 45 anos em 2020. Por causa do incremento de mulheres na carreira, essas possuem uma média de idade menor, de 42 anos. Já no caso dos homens, esse índice é maior, de 48 anos.

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