Obra hídrica mais importante de Alagoas e a segunda maior do País, o Canal do Sertão se arrasta desde 1990. Dos 250 quilômetros previstos, construiu menos da metade, já engoliu mais de R$ 3 bilhões e ainda não há previsão de conclusão. O Tribunal de Contas da União (TCU) detectou irregularidades, superfaturamento e mandou suspender a construção do trecho cinco. O trecho quatro será concluído até o final de março por conta da intervenção da bancada federal e em especial do senador Fernando Collor (PROS), que conseguiram junto ao governo federal a liberação de recursos para pagamento de atrasados com a construtora Odebrecht e, assim, a obra foi retomada. Enquanto a obra não é concluída, a seca volta a castigar o semiárido. Prefeitos de 40 municípios da região decretaram “situação de emergência”, pedem água tratada e ajuda para socorrer mais de 300 mil sertanejos da zona rural. A esperança de mudar o cenário de miséria e desolação é o Canal do Sertão. Mas não há certeza da continuação do trecho cinco. O TCU recomendou ao governo de Alagoas fazer nova licitação, e ao Ministério da Integração Regional que interrompa o repasse de recursos para o novo trecho. O tribunal só voltará a fiscalizar a obra após a correção das irregularidades. O canal tem hoje mais de 100 quilômetros com água do rio São Francisco, captada no Vale do Moxotó, em Delmiro Gouveia, e segue até o município de São José da Tapera. A construção do trecho quatro garante mais de 700 empregos e movimenta a economia do Sertão. A Odebrecht confirmou o recebimento de atrasados, diz que os pagamentos estão em dia e promete entregar a conclusão dos 32 quilômetros do trecho até o final de março. Já o trecho cinco deverá ser construído pela construtora Queiroz Galvão, a mesma que fez os trechos dois e três, que também apresentaram irregularidades. O TCU conseguiu recuperar mais de R $180 milhões pagos a mais. No trecho cinco, o órgão constatou, em 2018, novas irregularidades e orientou o governo federal a suspender o pagamento. Isto pode provocar nova paralisação da obra. Segundo fiscalização do TCU, "há indícios de que a isonomia do certame e a ampla competitividade foram violadas na proposta de repactuação, não havendo como garantir que a proposta mais vantajosa foi selecionada. A realização de uma contratação decorrente de certame que não observou tais princípios da licitação não é condizente com a economicidade, a eficiência e a legitimidade – parâmetros norteadores na atuação do gestor de recursos públicos, aos quais este possui o dever legal de observância”. A fiscalização recomendou ao governo de Alagoas e ao Ministério da Integração Nacional que promovam nova licitação para a construção do trecho cinco. A decisão não inviabiliza a participação da própria Queiroz Galvão no processo. Situação semelhante aconteceu durante a construção dos mais de 30 quilômetros do trecho quatro. A fiscalização do TCU constatou superfaturamento e a Odebrecht devolveu recursos. Enquanto isso, os sertanejos cobram água dos caminhões pipa da Defesa Civil. A coordenação estadual da do órgão confirma os prejuízos da estiagem e espera a liberação de R$ 12 milhões do Ministério da Integração Regional para contratar caminhões. O coordenador da Defesa Civil, coronel Moisés Melo, disse que choveu em algumas regiões do semiárido. “A chuva não foi suficiente para atender a maioria dos 40 municípios do Sertão e Agreste. Estamos em contato com a Comissão Nacional de Defesa Civil, trabalhando a liberação de recursos para contratar carro pipa e aumentar a distribuição de água tratada nos municípios em situação crítica”. Ele explicou que a água da chuva armazenada é imprópria para o consumo humano. “A maioria dos municípios precisa de água potável urgente”, reconheceu.