Cidades
COMERCIANTES TEMEM PERDER RENDA APÓS NOVAS RESTRIÇÕES
Trabalhadores do comércio da capital já relatam dificuldades financeiras durante a Fase Laranja


Perto de completar uma semana desde que Maceió entrou para a fase laranja de isolamento social, após decreto governamental, trabalhadores do comércio da capital já relatam enfrentar dificuldades financeiras com a diminuição do horário de funcionamento. Eles criticam, ainda, a falta de fiscalização por parte das autoridades, que tem permitido aglomerações em outros setores, como o de transporte público.
No centro da capital, o movimento de consumidores no horário permitido pelo decreto do governo do Estado ainda não foi completamente afetado. Ainda é possível ver uma quantidade considerável de pessoas circulando pelas ruas do comércio. Apesar disso, Rosinei Bezerra, que tem uma banca de revista no local há 34 anos, e disse que o rendimento dela diminuiu cerca de 50% nos últimos dias.
“Eu faturava 200 reais por dia, as vezes nem isso consigo mais. Os comerciantes tem sofrido com os decretos. Se você olhar aqui nas lojas não tem aglomeração, em compensação, nas filas dos bancos e loterias, ou dentro do ônibus, é gente por cima do outro. Deveria haver mais fiscalização nestes locais”, contou.
Ela disse, ainda, temer um possível retrocesso à fase vermelha de isolamento social, por acreditar que a situação financeira deve ficar ainda mais complicada. No entanto, ela entende que a medida é necessária. “Não tenho renda oficial com carteira assinada. Vou ter feijão e ovo pra comer, não vou passar fome, mas não sei como vou pagar as contas. Mesmo assim, queria que o governo fechasse logo pra isso passar. Tenho filha adolescente e sei que é difícil pra eles entenderem que é preciso usar máscara e se cuidar”, disse.
A categoria de trabalhadores cobra, ainda, uma intensificação na fiscalização nas lojas do local. Eles relatam que lojas maiores não estão cumprindo as determinações do governo e abrindo ou fechando nos horários errados. “As lojas maiores aqui do centro não estão cumprindo o horário de 9 às 17, determinados pelo governo. Seria necessário uma maior fiscalização aqui. Os empresários precisar colaborar também”, disse a vendedora Cícera Santos.
Para ela, restringir o funcionamento do comércio e não coibir as aglomerações no transporte público é uma contradição. “Querem prejudicar o comércio, mas os ônibus estão superlotados. Não adianta abrir mais cedo e fechar mais cedo, se quando a gente sai, pega ônibus lotado. Além disso, a fiscalização nos bares só acontece na parte baixa da cidade. Mas nos bairros, os bares de pequeno porte não estão fechando como manda o decreto. Minha mãe tem 70 anos e eu tenho filho pequeno, fico com medo de estar na rua, trabalhando e passar a doença para eles”, afirmou.
Há, ainda, quem tenha conseguido aumentar seu faturamento neste período de aumento dos casos de Covid-19. É o caso do ambulante Luiz Tsere, que veio do Mato Grosso há dois anos pra trabalhar em Alagoas. Com o início da pandemia, ele ficou sem emprego e decidiu vender máscaras na rua do comércio. “O movimento em dezembro foi bom, depois caiu um pouco quando as vacinas começaram a ser aplicadas aqui no Estado. Mas como o número de casos voltou a subir, as pessoas passaram a procurar mais. Nos últimos dias o movimento tem sido bom para mim” disse Luiz.
Penalização seletiva incomoda trabalhadores
Muitos comerciantes tem se sentido prejudicado ao ver seu rendimento prejudicado pela restrição do horário de funcionamento do comércio e, paralelamente, ver que bares e restaurantes seguem registrando aglomerações. Claudia Vanuza, comerciante há 30 anos e há 8 anos trabalhando no Shopping Popular, fala que tem até fornecido máscara à consumidores, para evitar um novo fechamento.
“Ele (o governo) deveria deixar aberto e diminuir a quantidade de dias, fechar nos finais de semana, mas não todos os dias. Onde está a população em massa é no bar, praia e festa clandestina, mas aqui a gente está se cuidando, quando o cliente não está usando a máscara, a gente pede pra colocar, eu mesma dou. Tudo para evitar que feche. Não é só uma barriga pra sustentar, são várias famílias que dependem disso aqui. Fora que muita gente aqui não recebeu ajuda do governo. Então fica muito difícil se fechar.” disse.
Josefa Nunes, que vende roupas no Shopping Popular, conta que também tem feito o possível manter o local aberto, mas diz que falta consciência da população. "Isso aqui é meu único meio de sobreviver. Sustento minha casa com o que tiro daqui. Se fechar, eu não sei o que faço. Ano passado eu recebi o dinheiro do governo, mas não é a mesma coisa. Isso aqui é minha vida, o governo não pode fechar e penalizar quem está fazendo o certo. Não vejo a hora dessa vacinar chegar para todo mundo, só assim vamos conseguir viver em paz novamente”, contou.
Proximidade da Semana Santa traz esperança, mas desrespeito aos protocolos preocupa
Em um dos locais de comércio mais movimentados da capital, no Mercado da Produção vigora a esperança de que o movimento volte a melhorar com a proximidade da Semana Santa, celebração religiosa em que muitos devotos optam por deixar de consumir carne vermelha por alguns dias. Dona Maria chega de madruga para comercializar camarão no mercado. Mesmo com as diferenças apresentadas pela pandemia, a idosa disse que o movimento no local vai bem e que espera melhorar ainda mais próximo da tradição religiosa..
Ela diz que, caso o governo feche o comércio, muitas pessoas que trabalham no mercado vão morrer de fome.
“O movimento está bom, só não está melhor por causa desse vírus. Mas é melhor está assim do que fechado, porque aí muita gente morreria de fome. Não posso reclamar”, afirmou. Ela diz, ainda, que o mercado está cumprindo o horário de funcionamento estabelecido no decreto. Mas afirma que muitos tem desrespeitado os protocolos de segurança sanitária.
“Estamos cumprindo o horário. É melhor cumprir para poder trabalhar. Se fechar, vamos morrer. Ou o governo dá dinheiro ou a gente morre. Mas era bom que tivesse fiscalização é suspendesse as pessoas que não obedecem os protocolos, porque muita gente não usa máscara por aqui e isso é prejudicial para quem usa a máscara e mesmo assim não está protegido”, disse.
Jeane da Costa foi ao mercado comprar camarão, nesta quinta-feira (11), reclamou da quantidade de pessoas sem máscara. “O que mais vejo são pessoa sem máscara. Se multasse as pessoas num instante usava. Isso não é só aqui, é em todo o lugar”, disse a consumidora.