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Nº 5882
Cidades Raphael Melo conta que contraiu a doença com a esposa, que também é professora

LETALIDADE FOI MAIOR ENTRE 30 E 39 ANOS

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Por Hebert Borges | Edição do dia 13/03/2021 - Matéria atualizada em 20/03/2021 às 12h14

Já o professor de Educação Física Raphael Bezerra de Melo, de 36 anos, está em outro grupo em que a Covid-19 também cresceu em Alagoas, que é o de pessoas entre 30 e 39 anos. Nessa faixa etária, o número de infectados cresceu 39%, saindo de 22.830 infectados em 12 de dezembro de 2020, para 31.818 infectados na última sexta-feira (12). Só que, diferente dos jovens entre 20 e 29 anos, a letalidade é mais alta nessa faixa. As mortes por Covid-19 de pessoas com idade entre 30 e 39 anos saíram de 83 para 114 nos últimos três meses, um crescimento de 37%. Em números absolutos, foram 31 mortes no período, o que dá, em média, uma a cada três dias. O educador físico conta que nunca teve o pensamento de que a doença não poderia afetar jovens, mas a princípio de que poderia ser mais amena. No entanto, a realidade lhe foi mais severa. Infectado, Raphael Melo precisou de oxigênio. “Tudo acontece muito rápido, eu tive muito medo, principalmente no momento em que eu precisei fazer uso do oxigênio e de me interna”, lembra. Ele lembra que a doença começou de forma leve nele, mas logo depois se agravou e ele temeu pela vida. Segundo ele, o começo foi tranquilo, com febre pontual e diária, sintomas de gripe leve. Só que, do sétimo para o oitavo dia começaram os problemas respiratórios e o internamento. “O mais difícil é a respiração, é o medo que dá puxar o ar e o ar não vir. E quando você está nesse momento você não pensa em outra coisa, só quer respirar. Realmente a gente tem medo de morrer, em vários momentos eu tive medo de morrer”, revela. Raphael Melo conta que contraiu a doença com a esposa, que também é professora. Aos jovens, ele deixa um alerta. “Continuem cuidando dos seus idosos. Mas redobrem seus cuidados, porque a doença agora não está mais escolhendo. Não está escolhendo como comorbidades, idades”.

MUDANÇA DE PERFIL

Ainda não há dados gerais consolidados que expliquem essa mudança de perfil dos pacientes e da doença. Entre as hipóteses estão maior exposição ao vírus dos mais jovens, circulação de novas variantes do coronavírus, demora em ir para o hospital e mais uso de recursos terapêuticos de longa duração. “Há uma clara percepção nas últimas semanas de que o perfil mudou. No nosso serviço, os pacientes mais jovens e mais graves têm sido uma constante na UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, diz o médico intensivista Ederlon Rezende. O infectologista David Uip, do Hospital Sírio-Libanês, diz que, na prática clínica, o tempo médio de internação dos seus pacientes com Covid-19 na UTI passou de 13 para 17 dias, e a média de idade caiu dez anos. “Antes víamos muito mais pacientes agudizados de 60 para cima, agora estamos vendo de 50, mas também ainda mais jovens. Eu internei um estudante de medicina de 22 anos. Tivemos duas meninas de 36 anos na UTI. Todos saíram vivos”, diz ele. A cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar, professora da Universidade de São Paulo (USP) e médica do InCor (Instituto do Coração), tem a mesma percepção. “Estou com pacientes jovens, de 30, 30 e poucos anos, internados, intubados. Isso a gente não via antes nesse volume. É paciente de Manaus, de Mato Grosso, de Rondônia, de Brasília, de São Paulo”, relata. Na sua experiência, o tempo de permanência desses pacientes em UTI também mudou. No ano passado, era de até 14 dias, em média, agora está batendo em 20 dias. O médico intensivista Cristiano Augusto Franke, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, é outro que observa uma mudança de perfil dos internados na terapia intensiva. “É claro que ainda temos pessoas mais idosas, mas antes não víamos tantos jovens sem comorbidades chegando muito graves e com um tempo de internação prolongado. Isso tem estrangulado o sistema. Estamos com as UTIs lotadas”, diz. Segundo Suzana Lobo, presidente da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), relatos assim têm chegado de várias partes do país, embora também haja serviços que ainda não registraram mudanças no perfil de pacientes. “Mais jovem e mais graves é uma percepção generalizada, já o período de permanência tem variado. Vamos precisar de mais tempo para ter um dado global”, afirma.

De acordo com ela, há muita variabilidade regional e diferentes estruturas de UTIs. Agora, com a circulação das novas variantes, será preciso avaliar também se elas, além do potencial de maior transmissibilidade, vão influenciar no maior tempo de internação. Com informações da Folhapress

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