FÁBIA ASSUMPÇÃO A disputa por uma vaga na Escola Estadual Benedita de Castro, no Clima Bom, que sequer foi inaugurada, levou centenas de pais a enfrentar uma longa fila, ontem de manhã, sob sol e chuva. Apesar de o período de matrícula se estender até amanhã, a maioria não quis arriscar e foi tentar garantir a vaga para os filhos no primeiro dia. Devido ao tumulto em frente à escola, policiais do Batalhão Escolar da Polícia Militar tiveram que ir ao local para organizar as filas. Em meio a toda confusão, apareceram denúncias de lideranças comunitárias do bairro de que algumas pessoas estariam, há quase 15 dias, guardando lugar na porta da escola, cobrando para isso R$ 40,00. “São as mesmas pessoas que vendem vagas no posto de saúde”, afirmavam os diretores da Associação Recreativa dos Moradores do Clima Bom, Gilmar Mendonça e Telma Alves Correia. Alguns pais chegaram ao local ainda de madrugada, mas não quiseram confirmar a denúncia. A dona de casa Maria Vitória Tenório chegou às 3 horas para tentar uma vaga para o filho no 1º ano do Ensino Médio. Segundo ela, não há mais vagas nas outras escolas da comunidade. “Estou muito esperançosa de conseguir uma vaga nessa escola, pois não tenho outra opção”. Para enfrentar a longa fila que se formava ao redor da escola – e até a lama no meio da rua - alguns pais mais prevenidos levaram bancos, cadeiras e até guarda-chuvas, que tanto serviam para proteger da chuva como do sol. A dona de casa Severina Faustino entrou na fila às 5 horas, e às 9 horas ainda estava bem longe da entrada da escola. Ela tentava conseguir uma vaga na 5ª série para um dos filhos. Ela classificou de “baixaria” o fato de algumas pessoas estarem acampadas há mais de 15 dias na porta da escola. “Não vejo necessidade para isso”. Vagas A escola, que oferece 2.100 vagas da 5ª a 8ª série e para os três anos do Ensino Médio, ainda não foi inaugurada pelo governo. Mas vai iniciar o ano letivo em março, como as demais escolas da rede, de acordo com o coordenador de Ensino da Secretaria Executiva de Educação (SEE), Neilton Nunes. Ele enfatizou que a secretaria condena a atitude de pessoas que estariam vendendo lugares na porta da escola, se aproveitando do desespero de alguns pais para conseguir uma vaga. “Essas pessoas não terão nenhuma vantagem sobre as outras”, assegurou. Para acelerar o atendimento foram colocados 10 funcionários para fazer a matrícula, nos dois horários. Mas a maior concentração de pessoas ocorreu na parte da manhã. Para evitar maiores confusões, a entrada de pessoas na unidade era limitada a 10. Cadastro No bairro do Clima Bom, existem cinco escolas da rede estadual. Neilton reconheceu que a demanda por vagas nas escolas públicas cresce a cada ano. Ele atribui isso à credibilidade que as escolas públicas reconquistaram nos últimos anos. Segundo ele, a secretaria vai fazer um cadastro dos alunos excedentes para distribuí-los em outras unidades ou até alugar novos prédios. Na própria Escola Benedita de Castro, que possui 15 salas de aula, Neilton informou que era possível ampliar as vagas com a utilização de outras salas, como a do videoescola. Além dos novos alunos, a escola vai receber os transferidos de outras unidades, como do Caic da Ufal e da Escola Zumbi dos Palmares, no Conjunto Rosane Collor. Para as lideranças comunitárias, a maior carência do bairro está concentrada da 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental. Um levantamento feito pela associação com mais de 500 pessoas do bairro constatou que há 147 crianças fora da escola. Neilton Nunes, da Coordenadoria de Ensino da SEE, explicou que a responsabilidade pelo Ensino Fundamental da 1ª a 4ª série é do município. Mas o Estado vai procurar firmar convênios com a Secretaria Municipal de Educação para atender à demanda dessa clientela.