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Nº 5759
Cidades

Prefeito alagoano faz cr�tica � Chesf e defende privatiza��o

ROBERTO VILANOVA Piranhas – O prefeito Inácio de Loiola  defende a privatização da  Companhia Hidrelétrica do São  Francisco – Chesf. Primeiro prefeito de uma cidade ribeirinha a defender a venda da empresa, ele reage às críticas a sua posição com argu

Por | Edição do dia 07/04/2002 - Matéria atualizada em 07/04/2002 às 00h00

ROBERTO VILANOVA Piranhas – O prefeito Inácio de Loiola  defende a privatização da  Companhia Hidrelétrica do São  Francisco – Chesf. Primeiro prefeito de uma cidade ribeirinha a defender a venda da empresa, ele reage às críticas a sua posição com argumentos numéricos. Na ponta do lápis o prefeito de Piranhas traça os números que contam a história dos investimentos públicos na região sob a jurisdição da Chesf. E pergunta: “Qual a região no mundo que recebeu 30 bilhões de dólares em investimentos, nos últimos cinqüenta anos, e não é hoje um eldorado?” Predadora O prefeito de Piranhas defende a privatização da Chesf, por entender que, somente assim, a região do baixo São Francisco, de Delmiro Gouveia até Piaçabuçu, vai se desenvolver. Quando se referiu aos 30 bilhões de dólares em investimentos na região, Inácio inclui os projetos para produção de energia elétrica – “Só a usina de Xingó, considerada como a mais barata, custou 3,5 bilhões de dólares”, disse. Embora reconheça o papel desempenhado pela Chesf, a partir da inauguração da primeira usina, em 1954, o prefeito Inácio Loiola sustenta que a empresa, hoje, virou predadora do rio. Agrônomo formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Inácio aponta o represamento da água nas barragens como a causa da perda de nutrientes no rio e a emersão de vidas marinhas que, antes, viviam no fundo do rio. “A água é liberada depois de até uma semana represada na barragem. Nesse tempo fica limpa, mais transparente. Os raios do sol conseguem penetrar no fundo do rio e traz à superfície essa espécie de alga do São Francisco”, ensinou. Benefícios Inácio explicou que a Chesf possui projetos para produção de energia na Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, mas os benefícios trazidos pelos investimentos de 30 bilhões de dólares ficaram restritos aos territórios baianos e pernambucanos. “Basta olhar; onde estão os grandes projetos para produção agrícola irrigada no semi-árido do São Francisco? Estão na Bahia e em Pernambuco. O que sobrou para Alagoas e Sergipe; não falo nem Sergipe, porque lá o governo conseguiu irrigar o semi-árido com água de Xingó. Digo apenas nós, alagoanos: o que sobrou para nós?” Com a privatização, o prefeito acredita que a situação vai se reverter. Ele raciocina sobre a proposta do governo federal, de dividir a Chesf em três unidades – uma delas Xingó. “Quem comprar Xingó vai precisar de água, pois sem água a usina não funciona. Logicamente, para ter água é preciso cuidar do rio; e cuidar do rio significa fazer saneamento. Isto já é uma melhora. Mas vêm os agregados, com o surgimento de projetos agroindustriais”. Inácio reconhece que a Chesf desempenhou papel fundamental na industrialização do Nor-deste –“Sem a Chesf o Nordeste não teria avançado nos projetos industriais. Reconheço isto”. Mas o prefeito sustenta que, hoje, o papel se inverteu, devido à relação custo-benefício. “Enfrentamos problemas sérios, o Rio São Francisco está ameaçado pela degradação. Eu nasci aqui em Piranhas, me criei tomando banho no rio e vendo a fartura que existia. O pitu, que hoje custa uma fortuna, era dado de cortesia a quem tomava uma pinga. Era o tira-gosto mais comum da cidade. Hoje, é raro e caro. Várias espécies de peixe também desapareceram. Quem quiser comer um surubim, por exemplo, tem de encomendar um mês antes. Eu pergunto: vale a pena?” Contra Canal O prefeito de Piranhas também criticou o projeto do Canal do Sertão, que ele considera uma insensatez. Olhando a imensidão do Rio São Francisco, mesmo degradado, Inácio aponta: “Olhe aí um canal natural. Foi Deus quem fez e nós não conseguimos enxergar isto. Mas estamos cuidando de fazer outro canal. Isto não tem cabimento”. Inácio sugere recuperar a calha do Rio São Francisco e de seus afluentes – Ipanema, Capiá e Traipu; a partir daí, seriam executados projetos de irrigação que poderiam se estender de Delmiro Gouveia a Arapiraca. “Se nós possuímos o canal natural, que é o Rio São Francisco, por que pensar em construir outro canal? Não posso entender”.

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