Pastoral decreta fim da tr�gua na disputa por terras
FÁBIA ASSUMPÇÃO O coordenador estadual da Pastoral da Terra (CPT), Carlos Lima, acredita que 2004 será o ano de acirramento das lutas no campo pela reforma agrária. A avaliação foi feita, ontem, durante a abertura da assembléia anual realizada pela C
Por | Edição do dia 04/02/2004 - Matéria atualizada em 04/02/2004 às 00h00
FÁBIA ASSUMPÇÃO O coordenador estadual da Pastoral da Terra (CPT), Carlos Lima, acredita que 2004 será o ano de acirramento das lutas no campo pela reforma agrária. A avaliação foi feita, ontem, durante a abertura da assembléia anual realizada pela CPT, no Centro Dom Adelmo Machado, no Vergel do Lago. O encontro reúne 120 trabalhadores rurais de nove acampamentos, três assentamentos e quatro de áreas de posseiros do movimento em Alagoas. Além disso, participam lideranças nacionais e integrantes da Igreja Católica, que dão apoio ao movimento pela terra. Na avaliação dos líderes do CPT, o primeiro ano do governo Lula em relação à reforma agrária ficou aquém do esperado pelos movimentos sociais. O governo tinha uma estimativa de assentar 60 mil famílias e só foram assentadas 13 mil, lembra Carlos Lima. Em Alagoas, a situação foi ainda pior: as 1.700 famílias que deveriam ser assentadas, em 2003, não passaram de 170. E não houve nenhuma família assentada ligada à CPT. Os movimentos sociais afirmam que existem, hoje, dez mil famílias acampadas em Alagoas, aguardando a posse da terra só da CPT são 1.800. Carlos Lima diz que os movimentos sociais deram uma trégua ao governo no ano passado, já que era o primeiro ano de Lula na presidência. Só que este ano promete ser um ano de grande disputa no campo, na avaliação do dirigente da CPT. O governo Lula priorizou outras reformas no seu primeiro mandato, como a da Previdência e Tributária, e não priorizou a reforma agrária, critica Carlos Lima. A bandeira de luta dos movimentos sociais, este ano, será para a implantação do Plano Nacional de Reforma Agrária, que foi apresentado ao presidente Lula em novembro. Os movimentos estabeleceram no plano uma meta de assentamento de 1 milhão de famílias em três anos. Mas o governo acenou com 400 mil. Se o governo Lula conseguir atingir essa meta será muito bom, já que em oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso foram apenas 500 mil famílias assentadas, afirma Carlos Lima. Conter a violência no campo continua também na pauta dos movimentos sociais. Nos últimos 10 anos, de acordo com a CPT, 39 trabalhadores rurais foram assassinados no Estado e nenhum dos responsáveis foi punido. No ano passado, no dia 7 de setembro, um trabalhador rural do assentamento Dom Helder Câmara, em Craíbas, foi assassinado por questões ligadas à terra. No governo Ronaldo Lessa foram cinco trabalhadores rurais assassinados, sem prisão dos acusados. Carlos Lima também vê com preocupação a mudança no comando do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em Alagoas. Para ele, houve um retrocesso com a saída do agrônomo Mário Agra. Foi inoportuno tirar uma pessoa que conhece de perto a questão da terra em Alagoas e vinha mantendo um entendimento com os movimentos sociais. A assembléia anual da CPT tem como objetivo planejar as atividades do movimento para 2004 e fazer um balanço do ano passado. Durante a abertura do encontro foi entregue o prêmio Dom Helder Câmara para as personalidades que se destacam na luta pela terra. Este ano, o premiado foi o padre André da Bahia.