A pandemia deixou os alagoanos mais ansiosos e deprimidos e, com isso, aumentou de forma significativa a procura por atendimento em serviços de saúde mental tanto na rede privada quanto na pública.

Especialistas afirmam que os efeitos negativos do prolongamento e do agravamento da pandemia no país farão com que essa demanda continue em alta nos próximos anos.

De acordo com Átila Antônio, que trabalha como psicólogo em Alagoas há 13 anos, as queixas mais comuns de seus pacientes são reflexos direto de como a pandemia do novo coronavírus vem afetando a saúde mental das pessoas.

“As principais queixas estão relacionadas ao medo de não saber o que vai acontecer em relação ao emprego, a vida, como será esse novo normal que todos falam” disse. E completa: “Recebi queixas sobre relacionamentos também, muito pelo fato das pessoas terem que conviver sob o mesmo teto por mais tempo, o que faz aparecer mais atritos”. Para aqueles que querem evitar deslocamentos e ter mais praticidade, o atendimento psicológico on-line é uma opção que vem se popularizando.

ATENDIMENTO VIRTUAL

Andressa Pereira Lopes, que trabalha como psicóloga há 10 anos, explicou que, antes da pandemia, realizava os atendimentos somente na modalidade presencial. A partir de março de 2020, em função da pandemia, durante um período, precisou atender de modo completamente on-line. “Todos os atendimentos foram adequados para o ambiente virtual. Posteriormente, foi liberada a retomada de atendimentos presenciais. Desde então, o consultório funciona tanto na modalidade presencial – obedecendo todos protocolos de higienização e segurança (uso obrigatório de máscara, distanciamento, álcool em gel disponível para paciente, higienização de mobiliário e sala) – quanto na modalidade online”, disse.

E completa: “Percebo que alguns pacientes gostaram do modo on-line e não consideram mais voltar para a modalidade presencial. Já outros, optaram por retornar para o presencial”.

Ela disse, ainda, que, na pandemia, viu seu trabalho ser mais que essencial para muitas pessoas. “A pandemia evidenciou para muitas pessoas a dimensão psíquica que compõe o ser humano. Todos estão tendo de lidar com a dinâmica dessa doença, que é algo que demanda muito de nossas mentes. Com isso, muitos que já sentiam vontade de fazer terapia, entenderam esse cenário da pandemia como um momento ideal para iniciar o processo terapêutico, ou mesmo, para utilizar os serviços de aconselhamento e plantão psicológico que foram criados em função desse contexto; e outros que nunca haviam pensado nessa possibilidade, passaram a entender o psicólogo como um profissional habilitado para ajudá-los na busca de saúde mental, de um bem-estar psíquico. A demanda para atendimento cresceu tanto no consultório, como também nas faculdades, centros universitários e universidades, e em locais habilitados a oferecer atendimento profissional gratuito à população”, falou.

ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Ela também comentou sobre as queixas ouvidas durante as suas consultas. “As principais queixas têm sido ansiedade elevada e depressão, mas vale destacar que são queixas frequentes desde antes da pandemia. Num cenário de muitas perdas, diminuição de interação e contato físico, é natural sentir medo, ansiedade e tristeza, afinal, essas emoções fazem parte das nossas vivências cotidianas. Porém, quando se observa que essas emoções se tornam muito intensas e frequentes, a ponto de prejudicar o funcionamento da rotina, é um sinal para redobrar o cuidado e buscar ajuda da terapia”.

Sobre o aumento de casos de ansiedade na pandemia, a profissional ressalta: “Percebo que, nesta fase, onde as pessoas estão sendo vacinadas e muitas já estão trabalhando presencialmente, algumas estão tentando e conseguindo controlar mais a ansiedade. O que não significa que deixem de ter ansiedade, até porque não há como eliminá-la, já que ela é um sentimento inerente ao ser humano”. “Todos nós fomos e continuamos sendo impactados pela pandemia. Penso que lançar esse olhar é importante, pois permite-nos entender em comunidade com o outro, não perder nossos laços, mesmo que distantes. Acredito que é sempre tempo para fortalecer as bases sobre as quais você elevará a saúde de sua mente: busque atividades que te façam bem, a companhia (mesmo virtual) de quem te faz se sentir melhor, a fé que te preenche e te acalma, a arte que te engrandece... E, se sentir que o problema é um pouco maior do que você pensava, que não está conseguindo enfrentar isso só, não tenha vergonha de procurar ajuda profissional”, acrescentou.