Após mais de um ano de pandemia, com o avanço da vacinação contra a Covid-19, Maceió chega a faixas de idade abaixo dos 30 anos, trazendo a esperança de um 2022 no qual estejamos superando as restrições sanitárias. Para os alagoanos mais jovens, a proximidade da imunização é um alento após um período bastante difícil, com consequências emocionais e psicológicas. “Essa pandemia me prejudicou muito em todos os sentidos, acho que a todos, em relação a faculdade, trabalho, tudo isso tem sido muito mais difícil agora, e a falta dessas oportunidades tem afetado meu psicológico bastante”, conta Mônica Pereira, de 21 anos. Para ela, que saiu da casa dos avós para preservá-los de estarem expostos ao vírus, o vislumbre da imunização é motivo de segurança. “Estou bem esperançosa quanto a isso, espero que chegue o quanto antes. Me sinto mais ansiosa, assim como todo mundo, eu também não vejo a hora de tudo isso acabar”, diz.
Hoje morando com mãe e com o padrasto, a jovem diz que, ao contrário do início da pandemia, já flexibiliza um pouco a possibilidade de sair de casa. “No começo eu confesso que tive sim esse cuidado, mas, atualmente, tenho saído um pouquinho mais do que antes”, revela.
O coronavírus em Alagoas já fez, desde o início da pandemia, 48 vítimas menores de 19 anos e 87 entre 20 e 29 anos, segundo o último boletim epidemiológico do Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde do estado (CIEVS/AL).
Ainda segundo os dados, a faixa de 20 a 29 anos ocupa hoje o terceiro lugar em ocorrências de Síndromes Gripais associadas ao coronavírus, com 42.295 casos, abaixo apenas das faixas de 40 a 49 anos (com 42.723 casos) e 30 a 39 anos (com 50.717 ocorrências), maioria dos casos. Em crianças e adolescentes, até os 19 anos, foram 21.790 notificações.
Já em casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), no entanto, as faixas mais jovens são as que acumulam o menor número de ocorrências, com 908 casos em indivíduos entre 20 e 29 anos e 690 casos dos 0 aos 19 anos.
DESAFIOS PARA OS PAIS
“No início foi um pouco difícil ter que manter as crianças em casa, convencer que não podiam estar indo na casa de amigos como antes, sair para onde queriam e passear. Tive que estar sempre em cima”, conta Maria Margarida da Silva, mãe de três meninos de 8, 15 e 21 anos.
Para o mais velho, Alysson Douglas, as consequências do isolamento foram perceptíveis. “A falta de liberdade e o isolamento social me deixaram muito mal. Não conseguir realizar coisas que antes eram rotineiras, não ter contato com amigos... Comecei a ter muita ansiedade e irritabilidade constante”, narra o rapaz.
Nesse contexto, a segurança da imunização para ele, é a principal expectativa. “Estou um pouco mais seguro para sair e confesso que iria me sentir mais relaxado sim. Espero em dois meses estar vacinado. Mas, fiquei bastante preocupado, até hoje não apresentei sintomas, então, não sei se sou assintomático ou só ainda não peguei o vírus. Sempre fico com o pé atrás”, diz. Já sua mãe revelou que, frente a teimosia, saber que a imunização se aproxima é tranquilizador. “Não sei quanto aos mais novos, mas me tranquilizo em saber que ele já vai tomar vacina”, conta Maria.
Já para Letícia Costa, de 22 anos, a imunização completa de todos a sua volta é a única espera para se sentir segura. “É a minha maior expectativa ultimamente. Esperei muito tempo por isso e só me sentirei segura para fazer qualquer coisa quando eu estiver vacinada. Acho que até o fim do ano já tenha tomado as duas doses”, salienta. Para ela, que chegou inclusive a ter casos de febre psicológica, apreensiva de ter se contaminado, e sentiu os quadros psicológicos e emocionais se agravarem com a pandemia, o desleixo de muitos pelas restrições foi e é o maior motivo de apreensão.
“Há muita irresponsabilidade de vários jovens em relação à Covid, agindo como se a pandemia não existisse, chegando a frequentar até festas. Existem muitas informações falsas sendo propagadas a respeito da doença desde o início da pandemia, o que com certeza fortaleceu esse cenário”, desabafa.
Para a mãe de Letícia, Dona Clerenilda, a consciência da filha em relação às restrições foi um motivo de alívio. “Fui mais orientada do que orientei na verdade. Ela e a irmã são bem conscientes. Não vejo a hora que a imunização aconteça, com certeza mais tranquila”, diz.
FALSA IMPRESSÃO DE SEGURANÇA
Para a médica infectologista Vânia Simões Pires, os alagoanos mais jovens acabaram por se sentir mais seguros, devida impressão de que a transmissão entre eles seria menor. “Talvez pelo fato de que a Covid 19 se mostrou mais branda nos mais jovens, isso deixou uma falsa impressão de que a transmissão seria menor entre eles. No entanto isso não acontece. A transmissão pode ocorrer em qualquer faixa etária, inclusive nos vacinados, e pode ocorrer doença grave e até morte em jovens”, destaca a profissional.
Observando uma menor adequação às medidas de prevenção, a médica alerta para a necessidade da continuidade dessas práticas. “Temos observado aglomeração e uso inadequado de máscaras. Mesmo entre os indivíduos vacinados, e com a vacinação ocorrendo no país, os cuidados devem ser mantidos. Observemos o número de casos novos aumentando em algumas regiões onde a vacinação ainda não conseguiu o patamar e flexibilizaram”, alerta. Dessa maneira, apenas seria seguro pensar num relaxamento após 70 a 80% da população imunizada. Isso inclui um avanço para faixas ainda mais jovens, para as quais ainda não há liberação de imunizante no Brasil. “Priorizamos os grupos de maior risco para doença grave, mas os estudos da Pfizer já permitem a vacinação para os maiores de 12 anos. Nos EUA já estão vacinando a partir de 3 anos, mas tudo tem de ser utilizado pelos órgãos reguladores locais, no nosso caso a Anvisa”, conclui.
* Sob supervisão da editoria de Cidades.