Cidades
‘RETORNO DO ANO LETIVO DEVE TER RIGOR MUITO GRANDE’, DIZ ESPECIALISTA
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“Não temos acesso público rápido e fácil aos dados dos Censos Educacionais, como existia anteriormente. Informações sobre evasão e repetência em 2020 e 2021, que deveriam estar bastante acessíveis, não são encontradas de forma simples. Basicamente, ainda estamos com os dados oficiais de 2019, antes da pandemia”, revela a professora Sandra Lúcia dos Santos Lira, do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas, ao tentar mensurar o impacto dos últimos anos na Educação do estado. O relato da especialista demonstra que avaliar os danos ao processo de aprendizagem de crianças e adolescentes após os anos de pandemia de Covid-19 não se mostra uma tarefa fácil. Apesar das campanhas sobre a modalidade online, a exclusão digital e dificuldades de conexão, muito relacionadas à segregação social que já existia antes da pandemia, impossibilitaram ou prejudicaram os últimos dois anos letivos na vida escolar de vários alagoanos. Agora, a divulgação do calendário escolar do ano letivo de 2022 é motivo de atenção especial para todos os setores da educação. Com o aumento expressivo no número de casos de Covid e influenza, as gestões municipal e estadual reavaliam o cenário de retomada, e as instituições de ensino superior já se posicionam contra a retomada presencial das aulas. Para a educação básica, as datas seguem mantidas, tendo em vista campanhas de apoio e incentivo à vacinação das crianças de 5 a 11 anos. No entanto, a ainda incerta retomada não significa reposição do tempo perdido. Para Sandra, seria necessária um acompanhamento individualizado dessas crianças e adolescentes para que o progresso escolar de cada um fosse avaliado após o período remoto. “Temos perdas concretas na aprendizagem, tanto nas redes públicas como nas redes privadas. Porém, as perdas das crianças das redes públicas tendem a ser maior, pois esta população não apenas sofre os efeitos da crise sanitária, mas também da crise econômica e social. O ideal seria que cada escola fizesse avaliações diagnósticas dos estudantes e realmente ofertasse recuperações paralelas, com projetos interdisciplinares e atividades que fortaleçam os vínculos com a escola, com o convívio social, afetivo, fazendo da escola espaço de acolhimento. Seria o momento de ofertar tempo integral para todos”, aponta a especialista. Com a nova onda de casos de Covid-19, relaxar quanto às prevenções e voltar à convivência “normal” ainda deve ser uma realidade distante. “O retorno do ano letivo precisa ter um rigor muito grande nos protocolos sanitários – máscaras, higienização, protocolos para alimentação, exigência rigorosa da vacinação de todos – e melhoria da infraestrutura com a ventilação natural de salas de aula e demais espaços escolares. Exigir tais procedimentos é dever de toda a sociedade. Creio que há um sentimento no povo brasileiro de que precisamos superar todas as dificuldades e reconstruir direitos”. Contudo, esse aprimoramento estrutural é um desafio para os servidores. Segundo o Sinteal, as limitações estruturais das instituições de ensino refletiram significativamente na capacidade das escolas nesse período, inclusive, atrasando o calendário do ano passado, tendo em vista que ainda há unidades de ensino concluindo suas atividades relativas de 2021. “As expectativas que nos chegam é de que o ano letivo de 2022 terá mais escolas fazendo o atendimento, tendo em vista que muitas não reiniciaram as aulas presenciais, por conta da precariedade da estrutura física”, aponta Edna Lopes, diretora da entidade.