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Nº 5885
Cidades Milhares de moradores tiveram que abandonar suas casas devido ao desastre provocado pela exploração de sal-gema

DESASTRE AMBIENTAL CAUSADO PELA BRASKEM COMPLETA QUATRO ANOS

Mais de 57 mil pessoas de quatro bairros da capital alagoana foram prejudicas pela ação da companhia

Por Greyce Bernardino | Edição do dia 03/03/2022 - Matéria atualizada em 03/03/2022 às 04h00

O desastre ambiental causado pela exploração de sal-gema pela Braskem em Maceió completa 4 anos nesta quinta-feira, 3, e soma mais de 57 mil pessoas atingidas em quatro bairros da capital: Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto. Alguns trechos do bairro do Farol também foram afetados pelas rachaduras, segundo o último relatório da Defesa Civil Municipal. Atualmente, as ruas desses bairros estão desertas. Casas estão tomadas por rachaduras e algumas até precisaram ser demolidas pela Defesa Civil de Maceió - em razão das fissuras e afundamentos. Quem era morador, não esconde a dor da perda do seu lar. Muitos receberam indenizações da mineradora, mas reclamam que o valor é baixo e todo o processo para receber a quantia ocorre em ‘passos lentos’. Muitos outros ainda estão em fase de negociação, à espera de um desfecho para seus dramas. E há ainda o caso de família prejudicadas que nem sequer tiveram ainda direito ao diálogo com a Braskem, como as que habitam os Flexais de Baixo e de Cima, na região de Bebedouro. Por isso, inúmeras manifestações já foram realizadas na capital alagoana, para cobrar celeridade nos entendimentos e nos pagamentos. Muitos comerciantes também precisaram recomeçar em outro local. A estimativa é que mais de 4 mil trabalhadores foram afetados pelas rachaduras, segundo levantamento das associações dos bairros. O Hospital Hapvida também teve de ser realocado, passando a funcionar em outro ponto da cidade. Também foram realocados lojas, supermercados, escolas e postos de combustíveis. O comerciante Júlio Brandão, de 34 anos, tinha um depósito de bebidas no bairro Pinheiro. O estabelecimento, há 10 anos, era fonte de renda dos parentes que moram com ele: esposa, filha e dois primos. O local também era a moradia da família. Ele conta que ainda não caiu a ficha que teve que largar o seu negócio, mesmo após ter recomeçado em outro lugar. O movimento, no entanto, não é o mesmo. “Foi um baque quando recebi a notícia de que tinha que sair. O mais difícil foi ver tudo sendo demolido, porque estava condenado. Estou tentando me erguer com o mesmo depósito, sendo que em outro bairro. Mas, confesso: o movimento não é o mesmo. Estou sofrendo. Minha família toda está sentindo a perda”, disse. Júlio, assim que teve seu depósito demolido, recebeu da mineradora um auxílio e alugou um novo imóvel. Um ano depois, foi indenizado e hoje já tem sua casa própria, onde também funciona o depósito. Já a aposentada Claudiane Bezerra, de 57 anos, teve sua casa demolida no final do ano passado e, até o momento, espera por sua indenização. Ela era moradora do bairro do Bebedouro há 35 anos e disse ter a sensação de que parte de sua vida não existe mais. “Eu não lembro mais dos momentos bons que vivi no bairro. Só me lembro das casas sendo demolidas por máquinas, ou imóveis com rachaduras, sem teto e paredes. É muita dor. Sem falar que ralei muito para ter essa casa, para quitar ela. Foi minha primeira casa depois que casei com o meu marido”, disse. Humberto Tadeu, de 35 anos, tinha acabado de se mudar para o bairro do Pinheiro quando soube que tinha de deixar o local: “Estava morando no Pinheiro há três meses. Me lembro como hoje de toda a movimentação após o abalo sísmico. Muita correria e, depois, o aparecimento das rachaduras. Morava em um prédio e o meu apartamento foi o primeiro a sofrer com as fissuras. O dono até tentou me manter no local, mas sabia que aquilo iria se agravar, por isso, optei por sair. Mas, já estava muito adaptado ao local, a casa”, relembrou. Procurada pela reportagem, a Braskem informou que até o dia 25 de fevereiro de 2022, dos 14.422 imóveis afetados pelas fissuras, 14.049 (97%) já haviam sido desocupados de forma preventiva, com as mudanças feitas e pagas pela Braskem - por meio do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação -, além de auxílio-aluguel, auxílios financeiros e outros serviços gratuitos para famílias, comerciantes e empresários incluídos no Programa. Além disso, 13.080 propostas de compensação financeira foram apresentadas, das quais 11.391 foram aceitas e 10.229 pagas. A mineradora informou, ainda, que a diferença entre o número de propostas apresentadas e aceitas se deve aos prazos que as famílias, comerciantes e empresários têm para analisar os valores oferecidos ou solicitar a reanálise. "A média de apresentação de propostas é de 700 por mês, com 1.200 profissionais dedicados ao Programa, e o índice de aceitação é superior a 99%, com apenas 54 propostas recusadas. O valor pago até o momento pela Braskem em indenizações, auxílios financeiros e honorários de advogados supera R$ 2 bilhões". Ainda segundo a Braskem, empresa decidiu adotar todas as medidas necessárias para apoiar a desocupação preventiva das áreas de risco em Maceió e realocação das famílias, comerciantes e empresários, antes mesmo da assinatura de um acordo. O acordo assinado com as autoridades em janeiro de 2020 garante o pagamento de auxílios financeiros, serviços gratuitos - mudança, apoio para obtenção de documentos, apoio à realocação dos animais de estimação, apoio psicológico, entre outros - e que famílias, comerciantes e empresários possam ser indenizados.

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