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SOBREPESO E OBESIDADE INFANTIL AUMENTAM DURANTE A PANDEMIA

Profissionais citam importância da qualidade da alimentação e do exercício físico para evitar problemas mais graves na vida adulta

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Imagem ilustrativa da imagem SOBREPESO E OBESIDADE INFANTIL AUMENTAM DURANTE A PANDEMIA
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Os casos de sobrepeso e obesidade infantil têm invadido os consultórios médicos e as salas dos nutricionistas neste período pandêmico. Com o isolamento social e as restrições impostas pelos protocolos sanitários com o objetivo de evitar o contágio pelo novo coronavírus, os pequenos foram impedidos de ‘gastar energia’ nas ruas, nas escolas e nas praças e houve uma piora na qualidade da alimentação.

O resultado disso foi o ganho de peso que, em muitos casos, precisa ser acompanhado por profissionais capacitados para não resultar em problemas sérios de saúde ainda na infância e também na vida adulta. Não existem números recentes sobre os casos de sobrepeso e obesidade infantil no estado, mas a nutricionista infantil Janine Aragão conta que não há dúvida de que os casos aumentaram significativamente.

Segundo ela, um dos fatores mais preocupantes é o curto espaço de tempo em que isso ocorreu. “Aumentou bastante, sem dúvidas. Além do sobrepeso e obesidade, o tempo em que isso foi adquirido assustou tanto os pais quanto os profissionais. Há crianças que ganharam cerca de 10kg em 6 meses, por exemplo.

Crianças que mudaram totalmente a preferência alimentar, deixaram de comer frutas e legumes e passaram a viver à base de industrializados, alimentos ricos em açúcar e sódio”, afirma Janine.

Entre os fatores que ela aponta como principais para que isso acontecesse está o baixo gasto energético durante o período pandêmico, que aumentou bastante a exposição das crianças às telas.

“A pandemia fez com que as crianças buscassem se divertir sem muito movimento e, automaticamente, isso fez com que o gasto energético reduzisse bastante. Já que os pais precisavam trabalhar e terminaram expondo mais os filhos à tela, o isolamento fez os esportes pararem, as idas à praça não existirem e o que era uma rotina ativa se tornou uma rotina totalmente ociosa e ansiosa também”, pontua a nutricionista.

A médica pediatra especialista em endocrinologia infantil Renata Plech conta que a obesidade é uma doença multifatorial e que o mecanismo mais comum para que ela ocorra é o desequilíbrio entre o ganho e o gasto energético, geralmente ocasionado por uma alimentação inadequada associada ao sedentarismo, resultando no ganho de peso. Mas a doença não se trata somente disso.

A médica conta que a obesidade também envolve fatores genéticos, metabólicos, psicossociais, ambientais, dentre outros. As consequências para quem sofre com o sobrepeso podem ser as mais variadas, por isso é preciso estar atento e procurar ajuda profissional o quanto antes. “Como consequência da obesidade, ainda durante a infância e na vida adulta, esses indivíduos apresentam maiores chances de desenvolverem diversas doenças, como hipertensão arterial sistêmica e outras doenças cardiovasculares, resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, apneia obstrutiva do sono, doenças osteoarticulares e problemas psicológicos”, afirma a endocrinologista.

Ela ressalta a importância de levar as crianças regularmente ao pediatra, para que haja um acompanhamento do crescimento, do peso e do Índice de Massa Corpórea (IMC). “Quando identificado sobrepeso ou obesidade, frequentemente o paciente é encaminhado ao endocrinologista pediátrico, que atua na investigação da causa do processo e das suas possíveis consequências, além de realizar orientações específicas para cada caso e encaminhar para outros profissionais de saúde que também irão atuar em conjunto para o melhor tratamento do paciente”, conta a médica.

Renata pontua ainda a importância do ambiente familiar no contexto da obesidade. Os pais acabam sendo o espelho dos filhos e, por isso, é de fundamental importância que os adultos também se preocupem com a questão alimentar e a busca por hábitos mais saudáveis.

“O isolamento social afetou bastante as crianças. Durante a pandemia, elas ficaram afastadas das atividades escolares e brincadeiras ao ar livre, aumentando o tempo de tela [TV, computador, videogames], e consequentemente reduzindo o gasto energético. Muitas famílias também relataram uma piora da qualidade da alimentação, com o aumento do consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados. A ansiedade e outras alterações comportamentais também foram relatadas e interferiram nos hábitos alimentares nesse período. De uma maneira geral, vimos que a maioria dos pacientes, principalmente os que já tinham sobrepeso ou obesidade, tiveram ganho de peso importante nesse período. Os pais muitas vezes também refletiram o mesmo, o que deixa claro que o ambiente familiar é importante no contexto da obesidade”, diz a endocrinologista.

ALIMENTAÇÃO EM 1º LUGAR

Janine explica que a má alimentação é o fator número 1 quando o assunto é sobrepeso. Depois, vem o sedentarismo. “A má alimentação está em primeiro lugar, seguida do sedentarismo. Hoje, eu ouso afirmar que o sedentarismo vem caminhando lado a lado com a ansiedade. Estamos vivendo uma era de crianças extremamente ansiosas e que buscam lidar com esse emocional através do aumento no consumo de alimentos palatáveis, que são os ricos em açúcares e mais calóricos”, conta.

A nutricionista afirma ainda que a predisposição deve ser levada em consideração, mas não deve ser a única justificativa, pois na maioria das vezes ela vem junto com algum tipo de erro alimentar, falta de exercício físico ou transtorno alimentar. “Uma criança com pais obesos que segue uma alimentação saudável e pratica exercício físico regular, não necessariamente será obesa também”, pontua.

A médica Renata Plech ainda explica que o tratamento da obesidade é complexo e individualizado e que a constância na mudança de hábitos é mais importante que a preocupação com o tempo para resolução do problema. Além disso, é preciso procurar profissionais de várias áreas para que o suporte seja completo e eficiente.

“Os dois pilares do tratamento são a orientação alimentar e a atividade física, e a base dele é o suporte familiar. A criança precisa se sentir acolhida dentro de casa e os pais precisam entender a gravidade da doença e dar exemplo. O acompanhamento multiprofissional com nutricionista, educador físico e psicólogo se associam com melhores resultados no tratamento clínico. A terapia com medicamentos é reservada para adolescentes em casos específicos e deve estar sempre associada a mudanças no estilo de vida”, diz a endocrinologista.

Ela cita ainda a importância da prevenção e do incentivo para uma alimentação saudável desde os primeiros anos de vida. “Mais importante que o tratamento, é a prevenção. Hoje sabemos que o aleitamento materno é um fator protetor contra a obesidade e que a alimentação saudável deve ser estimulada desde os primeiros anos de vida. O combate ao sedentarismo e estímulo à atividade física também são pontos importantes. Mais uma vez, ressalto que o papel da família no apoio e no exemplo é fundamental para que as crianças tenham bons hábitos e cresçam saudáveis”, conclui.

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