Cidades
SERVIÇO GEOLÓGICO APONTA 13 ÁREAS DE RISCO ALTO NOS CÂNIONS DE XINGÓ
Relatório aponta graus de perigo de movimentação de massa e orienta poder público sobre prevenção


O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) publicou nesta segunda-feira (18) o relatório de avaliação geotécnica dos Cânions do Xingó, entre os estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, conforme análise realizada por pesquisadores da instituição em fevereiro deste ano. O relatório contém informações técnicas sobre 19 pontos analisados, considerando o grau de perigo e risco para eventos de movimentação de massa – deslizamentos, processos hídricos e erosão – e classifica 13 pontos como de perigo alto, três como de perigo moderado e três de perigo baixo.
O trabalho também orienta o poder público sobre o monitoramento de riscos e para a tomada de decisões, além de servir como subsídio ao monitoramento geológico de outras regiões do Brasil.
O monitoramento foi executado em atendimento a solicitação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de Sergipe, depois que o desplacamento de rochas no Cânion do Lago de Furnas, em Capitólio (MG), no dia 8 de janeiro deste ano, deixou dez pessoas mortas. Os estudos foram realizados nos municípios alagoanos de Piranhas, Delmiro Gouveia e Olho D’Água do Casado, Paulo Afonso (BA) e Canindé do São Francisco (SE).
Segundo os pesquisadores em geociências do SGB-CPRM, as margens do Lago de Xingó são suscetíveis a movimentos gravitacionais de massa em praticamente toda sua extensão. O relatório analisa as características geomorfológicas das regiões mais frequentadas por turistas e aponta a suscetibilidade a acidentes nos locais.
“Além de sua vulnerabilidade natural, foi constatada, em alguns dos pontos visitados, a existência de infraestruturas permanentes e móveis, onde ocorre a permanência de turistas e moradores da região, de forma frequente. Essas estruturas usadas durante as visitações estão localizadas principalmente junto aos paredões do cânion, a distâncias menores que a própria altura dos paredões. Diante destes fatos, deve-se afirmar que existe a possibilidade de ocorrer de acidentes e movimentos gravitacionais de massa (deslizamentos, queda e rolamento de blocos, desplacamentos, tombamentos) a processos hídricos de alta energia”, informa o relatório.
NAVEGAÇÃO SEGURA
O relatório pontua, contudo, que não há riscos altos à navegação, dada a largura do trecho do rio onde a atividade é executada.
“Por outro lado, a navegação no lago, do ponto de vista geotécnico, pode ser realizada em segurança. O lago e seus braços possuem largura suficiente para que as embarcações possam se manter a uma distância maior que uma vez a altura dos paredões (?1xh)”, diz o relatório
No mesmo trecho, a avaliação técnica aponta que diferente de Capitólio (MG), o fenômeno deflagrador do processo em Minas – chuva – é de baixa ocorrência na região de Xingó (AL, SE e BA).
“Outro ponto positivo é a baixa ocorrência de fenômenos deflagradores de processos geológicos. Chuva, um dos principais agentes responsáveis pela perda de coesão do solo, através da saturação do terreno, é escassa na região. Os acumulados históricos de médias mensais no entorno do lago de Xingó são muito baixos se comparados com outras regiões do país, onde desastres naturais são mais frequentes. Para efeito de comparação, no município de Capitólio – MG -, o mês com a maior média histórica mensal costuma registrar valores de precipitação cinco vezes e meia maior do que Canindé do São Francisco e mais de seis vezes a de Paulo Afonso”, informa a publicação.
TÉCNICOS SUGEREM 14 INTERVENÇÕES PARA PREVENIR DESASTRES NA REGIÃO DOS CÂNIONS
O relatório dos Cânions de Xingó aponta subsídios à tomada de decisões por gestores públicos no que diz respeito à prevenção, mitigação e resposta a desastres, de modo a contribuir com a definição de intervenções nas áreas afetadas por movimentos de massa, enchentes, inundações e enxurradas. São enumeradas 14 sugestões:
1. Avaliar a remoção e/ou contenção de blocos soltos e instáveis localizados entre a borda e o topo dos paredões, acima de áreas onde é comum a presença humana.
2. Evitar a manutenção de estruturas de visitação, em locais que estejam a uma distância mínima menor que meia vez a altura do paredão.
3. Utilizar boias flutuantes na demarcação de perímetros de interesse.
4. Dar preferência a locais onde a face do paredão se afasta da margem do lago, com amplitudes reduzidas e inclinações mais suaves, para a implantação de novas áreas de banho.
5. Manter o tráfego de embarcações a uma distância mínima de uma vez a altura do paredão.
6. Evitar visitas e passeios em dias com elevadas previsões de precipitação.
7. Criar um plano de contingência, para ser usado na eventualidade da ocorrência de acidentes.
8. Promover campanhas de conscientização para os perigos intrínsecos ao ambiente, com divulgação de material orientativo.
9. Adoção de equipamentos de proteção individual como capacetes, em locais que apresentem um teto rochoso, como a Furna do Morcego e a Gruta do Talhado.
10. Desenvolver estudos geotécnicos e hidrológicos com a finalidade de embasar os projetos e/ou obras de contenção de encostas ou de blocos rochosos;
11. Fiscalizar e proibir a construção ou visitação em áreas protegidas pela legislação vigente;
A avaliação foi feita pelos geólogos do SGB-CPRM Anselmo Pedrazzi, Fernando Cunha e Rubens Dias, com o acompanhamento de representantes da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros dos três estados, além de técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).
O relatório e as imagens captadas durante a vistoria estão disponíveis no Repositório Institucional de Geociências (RIGeo) do SGB-CPRM e podem ser acessados no site do órgão.