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AL REGISTRA 3 CASOS DE MICROCEFALIA EM 2022 E SURTO DE ZIKA VÍRUs PREOCUPA
Não há confirmação se casos de síndrome congênita foram causados pelo vírus, mas obstetra alerta grávidas sobre prevenção


O aumento de casos de zika vírus em todo o país acendeu um alerta para ocorrência de casos de síndrome congênita - microcefalia - em Alagoas. Somente em 2022, três crianças nasceram com malformação neurológica no Estado, conforme dado da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). A secretaria diz que as crianças podem ter nascido com a doença por diversos fatores, e que ainda não há comprovação de que o problema ocorreu em virtude do zika vírus.
A microcefalia pode ser provocada pelo uso de substâncias químicas ou por infecções por bactérias ou vírus, como o zika, por exemplo, conforme explicou a obstetra Tereza Castro. “Quando uma mulher grávida é picada pelo Aedes aegypti, mosquito transmissor da zika e da chikungunya, a chance de o vírus passar para a criança é altíssima”, acrescentou.
O primeiro caso de microcefalia em Alagoas foi registrado em 2015 - período em que o país passava pelo surto - e desde então, já são 734 crianças com a doença no Estado, de acordo com levantamento repassado à reportagem pela Sesau. Com a alta dos casos de zika e um possível segundo surto global do vírus, Tereza alerta para os cuidados e pede que grávidas redobrem a atenção durante a gestação. Este ano, até o dia 26 de março, Alagoas já registra 87 casos de zika, 81 casos a mais que no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério da Saúde (MS).
“Os casos de zika estão altos em Alagoas e, por isso, precisamos ficar atentos à microcefalia, principalmente as mulheres que estão grávidas. É recomendado que a mulher não engravide enquanto estiver esse surto de zika, porque a única recomendação que a gente tem é evitar que a pessoa seja picada pelo mosquito. Depois que a doença é identificada na gestante, não há como evitar que seja transmitida para a criança”, alerta a obstetra Tereza Castro.
De acordo com a médica, o zika vírus pode ser transmitido para o bebê em qualquer fase da gestação. Os riscos, entretanto, são maiores no primeiro quadrimestre. “Os riscos aumentam do primeiro ao quarto mês de gestação, porque o bebê está em formação. O comprometimento da parte neurológica é muito maior e pode resultar, inclusive, em aborto”, explica. Mesmo com riscos maiores no início da gravidez, Tereza Castro informa que os cuidados para evitar a doença devem ocorrer até o último mês. E reforça: “Mulheres que já estão grávidas devem usar repelente, roupas que cubram os braços e as pernas. Usar telas em casa e velas de citronela também é recomendado”, orienta a médica.
Rotina de familiares de criança com a doença é de dedicação e cuidados intensos
Dayara Mota Cavalcante tem 6 anos e nasceu com a síndrome congênita causada pelo Zika vírus. A malformação foi detectada ainda na gravidez da mãe da pequena, que teve Zika e Chikungunya durante a gestação. A mãe de Dayara é surda e a criança é criada com auxílio da avó materna, Ana Cavalcante.
Ana diz que não mede esforços para cuidar da neta e hoje vive para Dayara. Ela relembra como recebeu o diagnóstico da neta:
“A minha filha e mãe da Dayara, aos três meses de gestação, teve Zika e precisou ser medicada e internada. Ela teve uma gravidez de risco. Aos oito meses de gravidez ainda teve Chikungunya. Mas foi a partir do dia que ela teve a Zika que o médico falou que a cabeça da criança tinha dois meses de diferença do corpo e que ela nasceria com microcefalia. No momento, não entendi a notícia, mas depois, refleti e aceitei”.
“Dayara nasceu de cesariana aos 9 meses. Foi uma grande batalha o nascimento dela. Ela já saiu da maternidade com o diagnóstico. Nos primeiros dias de nascida, chorava muito. Foi um período difícil, até teve crise convulsiva nos primeiros meses de vida”, acrescenta Ana.
Ela conta que Dayara ainda sofre de crise convulsiva, além de sofrer de crise epiléptica e apneia do sono. A pequena também precisa passar por sessões de fisioterapia e é acompanhada por diversos profissionais. Hoje Dayara faz parte da Associação Famílias de Anjos (Afaeal). Mantida por doações, a associação não governamental conta com especialistas, acolhe dezenas de crianças com a mesma síndrome e é lá que grande parte do tratamento de Dayara acontece. A avó da pequena, Ana, faz parte da diretoria da Afaeal, que fica no Benedito Bentes.
“Dayara já fez diversos tratamentos desde que nasceu. Tudo foi iniciado na Uncisal [Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas], onde ela chegou a fazer fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Ela também fez simulação visual e fisioterapia respiratória na Pestalozzi por dois anos. Sendo que, em seguida, eu e ela fomos para Campina Grande. Através de uma parceria da Afaeal e o centro de pesquisa voltado para crianças afetadas pela síndrome do Zika vírus de Campina, passei dois anos com Dayara na cidade, em uma casa de apoio, onde ela foi tratada com novos métodos. Esses métodos foram trazidos a Alagoas, e, a partir daí, Dayara continuou seus tratamentos aqui no Estado”’, explica.
A expectativa de vida de Dayara era de apenas 3 anos. Aos 6 anos, a pequena é submetida a medicamentos que precisa tomar diariamente. Recentemente, ela precisou fazer uma cirurgia no quadril e sua recuperação vem sendo positiva. Cada mínima evolução de Dayara é comemorada pela avó. “Sou uma pessoa que mantém os pés no chão. Dayara está viva hoje e isso é uma vitória, se levarmos em consideração a expectativa de vida dada pelos médicos”.
Cheia de vida, a menina estuda, faz natação e fisioterapia. Ela tem uma rotina movimentada na busca por estabilidade. A família conta benefícios assistenciais que ajudam na progressão dela.
Dayara toma inúmeros medicamentos e boa parte deles é fornecido por órgãos públicos, porém, outros precisam ser comprados, pela carência nas fármacias do Município e Estado, o que acaba pesando no bolso da família. Muitas vezes Ana precisa pedir ajuda na internet para a compra de fraldas, leite e outros suplementos. "Às vezes sentimos que os órgãos públicos pouco fazem por essas crianças", pondera Ana.
Porém, apesar da dificuldade, a avó da pequena se sente feliz em poder, junto da neta, enfrentar a doença.
“A microcefalia não é só uma cabeça pequena, a criança que tem a doença sofre com a hidrocefalia, paralisia cerebral. São crianças que não têm coordenação motora nenhuma, não falam e não se alimentam sozinhas. Os pequenos têm problemas nas costas e precisam ser assistidos 24 horas. Os nossos governantes precisam olhar mais para o nosso Estado. E as mulheres grávidas precisam tomar cuidado, seguir orientação de especialistas. Não é uma rotina fácil cuidar de uma criança com microcefalia, mas, pela minha neta, faço tudo ao meu alcance".