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ALAGOANOS ABAIXO DA LINHA DE POBREZA NÃO TÊM O QUE COMEMORAR

Moradores de comunidade pobre na orla lagunar vivem do sururu e reclamam da falta de oportunidades

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Imagem ilustrativa da imagem ALAGOANOS ABAIXO DA LINHA DE POBREZA NÃO TÊM O QUE COMEMORAR
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“Tenho que comemorar o dia do trabalhador por Deus me dar forças, por eu estar viva e poder prosseguir, mas por essa luta minha, particularmente, não tenho o que comemorar. Porque não tenho emprego fixo. Meu emprego fixo quem faz sou eu mesma na beira da lagoa, com meu marido. Vou comemorar o quê?”, desabafa uma catadora e vendedora do sururu e moradora da Favela Sururu do Capote, no Vergel do Lago, bairro periférico de Maceió.

Cuidadora de idosos por cinco anos, Josineide Marinho da Silva, de 40 anos, sem ter saída para se manter financeiramente, encontrou no sururu a alternativa de sobrevivência. Há dois anos, junto com o marido, ela segue rotina exaustiva, com longa jornada de trabalho, que começa às 5h da manhã e só termina por volta de 1h da madrugada do dia seguinte. “O sururu é a última opção para a gente. Já tentei casas de família. Nada. Tentei tudo o que você poderia imaginar e nada. Então a única opção que tive foi me agarrar ao sururu”, diz Josineide.

Ela inicia a atividade antes mesmo do nascer do sol, quando segue para a Lagoa Mundaú, na companhia do marido, para pescar o molusco, tradição da gastronomia alagoana. Ao acordar, ela já se apronta para pegar o barco, que comprou fiado e paga de forma parcelada, para acompanhar o marido na pesca do sururu.

Ela exerce uma função importante, que minimiza riscos de acidente: enquanto o marido tira a iguaria de dentro da lagoa, Josineide se encarrega de retirar a água que entra na embarcação, evitando que ela afunde. Após apanhar o Sururu de dentro da lagoa, eles retornam para casa e começam a lavar o material para retirar a lama.

Colocam o molusco para despinicar, depois para cozinhar, em seguida lava novamente, para só então começar a embalar até ficar pronto e ser levado ao consumidor em uma barraca montada à margem da Avenida do Dique Estrada.

“A gente dorme pensando no trabalho e acorda pensando no trabalho. É um trabalho muito complicado e muito desgastante, tanto para homem, como para mulher. A gente não tem tempo para comer, para dormir, para se cuidar, para nada”, expõe a moradora da Sururu de Capote.

Essa rotina, descrita de forma detalhada pela marisqueira, ocorre praticamente de domingo a domingo. A folga que ela encontra, afirma, é no sábado. “No final de semana, o que você tem lucrado é o desgaste. O desgaste físico, emocional. A gente para o sábado, mas no domingo tem que ir pra lagoa de novo. Mesmo a gente querendo, a gente não pode se dar ao luxo de passar dois dias em casa, porque já é um prejuízo para a gente. Já falta feijão, já falta arroz na nossa mesa” comenta. .

TRABALHANDO DE SOL A SOL, CASAL CONSEGUE, EM MÉDIA, R$ 800 POR MÊS

Josineide conta que, no geral, o que conseguem, ela e o marido, ao final do mês, gira em torno de R$ 400 cada um. “O sururu a gente só vive dele para comer. Tem semana que você trabalha e pensa que vai ser legal, mas eu coloco a mão na cabeça, quando percebo que vou ficar sem dinheiro até pra pagar a despinicadeira e quando você vem olhar só arrumou trabalho e dívida”, relata a trabalhadora.

Josineide diz que pede a Deus, todos os dias para ela, ou o marido, encontrar outro meio de sustento, mas afirma que aos 40 anos, tudo fica ainda mais difícil. Por isso, tem que se “agarrar à oportunidade do sururu”.

“Ontem eu peneirei 11 latas, e hoje eu estou desgastada, nem um prato eu lavei porque os braços não aguentam, nada aguenta, mas você tem que encarar para ter o que comer de manhã, de tarde, de noite”, declara.

Há períodos em que o quilo do sururu custa, em média R$ 12; em outros, chega a R$ 25. “A gente estava vendendo o quilo do sururu a 25 conto e o povo estava achando ruim, mas vá para a lagoa, saber como que é.

A marisqueira bateu à porta do sururu por meio do companheiro, que já catava o material na Lagoa Mundaú. Justamente por ser um trabalho desgastante, ele não queria que a mulher entrasse no ramo. “Só que a gente não tinha o que fazer. Estou há mais de dois anos no Sururu. Peço a Deus para aparecer outra coisa, mas não aparece. É desgastante para mim e para meu marido”, diz. “Eu tenho 40 anos com cara de 50 porque o sururu acaba com a gente. Porque você não dorme bem, não come direito. Então eu vou dizer que vou comemorar? Comemorar o quê? Nada”, finaliza a marisqueira.

A Favela Sururu de Capote é uma das localidades mais vulneráveis social e economicamente de Maceió. O local não tem saneamento básico e é caracterizado por barracos paupérrimos que beiram a Lagoa Mundaú. No local, a maioria das pessoas sobrevive de benefícios sociais ou da pesca, que não está nos melhores momentos, conforme relatam vizinhos de Josineide. Eles contam que, quando não conseguem o sustento no local,migram para a Massagueira, em Marechal Deodoro.

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