Cidades
Oficial da Marinha processa policiais por tortura

BLEINE OLIVEIRA O capitão-tenente da Marinha brasileira Eduardo da Costa Pereira Júnior ingressou com representação criminal contra o delegado Nivaldo Aleixo de Barros e os policiais civis Alex Fabian e Ricardo Ribeiro, acusando-os da prática de tortura. O processo, de número 001-04-0199229-7, está na 2ª Vara Especial Criminal, e a promotoria pode pedir que o delegado e os policiais sejam processados por crime de tortura, abuso de autoridade e porte ilegal de armas. Nas declarações que fez ao juiz Daniel Acioly, Eduardo da Costa disse que participava de uma festa no último dia 30, na Mansão Farias, em Mangabeiras quando, na saída, por volta das 22h, foi interpelado por Alex Fabian. O capitão afirma que estava com outros três oficiais e que, sem qualquer razão, Alex, que estava com o policial Ricardo, começou a agredi-los. O oficial relatou ao juiz que procurou as autoridades judiciais porque, além de não ter conseguido denunciar os policiais na delegacia do 6º Distrito, para onde foi, segundo disse, orientado pelos seguranças da Mansão Farias, onde se realizava a festa ?Feijoada do Nanã?, sofreu agressão física e tortura. Depoimentos Além dos oficiais e de Eduardo Costa Pereira Júnior, foram ouvidos o capitão-tenente Alex Azevedo Urbancg e o 2º tenente Elço Machado Neves. Os oficiais são tripulantes do navio oceanográfico Antares, que atracou no Porto de Maceió no dia 30 de outubro último. Eles disseram que estavam de folga e, informados sobre a festa, decidiram comparecer. Compraram a camiseta-kit e se dirigiram à Mansão Farias. Na saída, relataram, estavam conversando próximo ao veículo em que foram à festa, quando viram dois casais se aproximando. ?Quem pensam que são? Tão pensando que estão aonde??, foram, segundo as declarações dos oficiais da Marinha, as palavras dirigidas a eles pelos dois homens, que só depois se identificaram como policiais. Eduardo Costa diz que indagou o motivo das perguntas mas, diante do que definiu como reação agressiva dos dois homens, segundo ele, a essa altura, já empunhando revólveres, não conseguiu resposta. O capitão disse ao juiz Daniel Acioly que tentou informá-los de que era oficial da Marinha brasileira, mas não conseguiu. Um dos homens ? continua o relato ? agrediu-o no rosto com a arma e em seguida efetuou um disparo em sua direção. O 2º tenente Elço Machado afirma que, ao ver Eduardo sangrando, levou-o para o interior da Mansão Farias, onde narrou o episódio aos seguranças da festa. Estes os orientaram a procurar a delegacia mais próxima para prestar queixa. Lá chegando, viram quando os dois homens desciam de um carro estacionado ao lado da delegacia e que, ao vê-los, foram na direção dos oficiais com novas provocações e ameaças. Outros policiais teriam se aproximado, impedindo o tumulto. Na seqüência surge o delegado Nivaldo Aleixo, que toma a arma do policial e lhe dá voz de prisão. Em seguida determina que os oficiais entrem na delegacia. Eduardo é separado dos outros oficiais e, segundo relato de Elço Machado, à 1h30, ouve seus gritos, mas foi impedido de aproximar-se. Momentos depois, conseguem se aproximar e verificam que Eduardo apresentava sinais de tortura, com manchas de sangue e hematomas em várias partes do corpo. O oficial agredido teria sido obrigado a assinar declarações que alega não ter prestado. Em seguida, foram liberados. O episódio foi comunicado ao capitão dos Portos de Alagoas, Gérson Luiz Rodrigues Silva, que encaminhou informações ao comando do 3º Distrito Naval. O capitão não quis fazer comentários, alegando que o caso está na esfera judicial. ?Confiamos nas instituições. Só vamos nos pronunciar quando o processo for concluído?, disse o capitão. A preocupação dele é que o episódio crie um clima de animosidade entre integrantes da Polícia Civil e os militares da Marinha.