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História

DA FIAÇÃO DE TECIDO NORTE DE AL RESTAM RUÍNAS E O ÚLTIMO OPERÁRIO

Parque foi vencido pela praga que dizimou cultura do algodão do Nordeste e invasão de tecidos asiáticos

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Do que era um próspero parque têxtil na região Norte de Maceió, restaram apenas ruínas
Do que era um próspero parque têxtil na região Norte de Maceió, restaram apenas ruínas -

Nada mais lembra o próspero parque da indústria têxtil de Alagoas. No período de 1857 a 1949, o Estado contabilizava 12 fábricas de tecidos que abasteciam os mercados internacional e nacional. Em 1925, centenas de trabalhadores estavam empregados também em 142 indústrias no Sertão e Agreste de beneficiamento de algodão (descaroçamento) que atendiam as fábricas. O maior parque fabril de panos era em Maceió, com quatro indústrias. A partir de 1930, o setor passou por sucessivas crises econômicas e não resistiu. Na metade dos anos 80, a prosperidade foi substituída pelos impactos negativos. Os operários empobreceram. Na capital, todas as fábricas fecharam e quem mais sentiu a derrocada foram 700 operários da fábrica do distrito de Saúde. Distante 20 quilômetros do centro de Maceió, no litoral norte, no lugar das 300 casas da vila operária, dos estabelecimentos comerciais, do cinema, hotel, das praças, do clube, do campo de futebol, das agitações e das festas sociais que aconteceram a partir de 1924, com a construção da Companhia de Fiação e Tecidos Norte de Alagoas – conhecida como fábrica têxtil de Saúde –, hoje tem mato. Tudo foi demolido. Restam poucas ruínas. Como as outras, a indústria também foi vencida pela falta de incentivos no setor, por administrações e gerenciamentos que não se modernizou e não conseguiu vencer a invasão das confecções chineses e europeus no mercado de confecções nacionais, afirmam as pesquisas econômicas. Da área industrial de Saúde restam as ruínas da fábrica que empregava mais de 700 operários, do templo católico em estilo gótico, da “Casa Grande” da família Nogueira [ex-proprietária do empreendimento], o rio Saúde de água cristalina e o último operário, Luiz Paulino do Nascimento, 76 anos. No Portão Central da antiga indústria, Luiz Paulino conta como passou por todos os setores produtivos. Hoje trabalha como segurança e monta guarda como se estivesse protegendo as ruínas. Lembra emocionado os bons tempos em que começou a trabalhar, com 13 anos de idade. Seu Luiz continua como empregado dos novos proprietários do que restou. Atualmente é vigia do imóvel rural de quase 200 hectares que pertence a um empresário italiano que raramente vem ao Brasil. Numa pequena área onde restam as ruínas e havia o conjunto arquitetônico construído pela família Nogueira, há cerca de arame e placas indicando que pertence à Embrapa. A autarquia federal pretende construir no local um centro de ensino e pesquisa. “Eu cheguei para morar aqui, na Saúde, com sete anos de idade. A fábrica funcionava a todo o vapor”, lembra Luiz Paulino, ao relatar que a indústria começou a ser construída em 1923 e dois anos depois (1925) foi inaugurada. Em 1954, o pai dele [Amaro Paulino do Nascimento] foi convidado para trabalhar como segurança, cargo que ocupou até se aposentar.

Nas primeiras décadas de operação, a indústria exportava toda a produção para o mercado internacional, nacional e regional. Na última década de funcionamento, a indústria, para atender exigências de mercado e suportar a pressão econômica por conta da importação de matéria-prima e a invasão dos tecidos asiáticos e europeus, começou comercializar no varejo.

Segundo Luiz, um técnico alemão abriu esse mercado de varejo e modificou a linha de produção com tecidos estampados. “Antes toda a produção era de pano branco e de cor única. Com o comércio varejista, passamos a produzir tecidos com cores misturadas, estampas coloridas, fazer lençóis, fronhas, travesseiros”. Diariamente, caminhões de várias regiões, “sacoleiras” e comerciantes de estados vizinhos vinham comprar na lojinha de varejo que funcionava em frente à fábrica –hoje, no local restam ruínas–. Nessa época, Luiz Paulino trabalhava na sala de expedição e dobrava os panos. “O tecido saia da tecelagem, seguia para o setor de alvejamento, depois para a engomadeira e, por fim, seguia até o empilhamento para o comércio. Trabalhei em todos os setores”.

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