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ALAGOANOS CONTAM AS HISTÓRIAS POR TRÁS DE SUAS TATUAGENS

Desenhos no corpo ajudam a recuperar autoestima e são usados para marcar momentos de superação, gratidão e alegria

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Existem várias formas de se contar uma história. Há quem exponha suas histórias nos livros, em diários, nas redes sociais. Há histórias contadas em filmes e há quem use o próprio corpo para contar sua própria história, ou um episódio dela, com frases, com desenhos, com símbolos, de forma muito individual, por meio das tatuagens.

As tatuagens, verdadeiras obras de arte, em que outrora, quem as tinha era alvo de preconceitos e estigmatização. Hoje é comumente vista pelo que realmente ela é: um meio de registro, recordações, demonstração de afeto, forma de expressão, mecanismo de aumento da autoestima, transformação.

Para o advogado Roberto Moura, de 30 anos, que possui cinco tatuagens, todas elas são símbolos de episódios significativos em sua vida. Uma delas está desenhada em seu braço esquerdo: uma Fênix que ressurge de um tumor. A Fênix é uma ave que simboliza o renascimento das cinzas. Comumente, ela é utilizada por quem passou por momento ou momentos difíceis na vida, e que, mesmo assim, conseguiu renascer, recuperar-se, seguir adiante, voltar a viver.

Moura conta que teve um tumor aos 16 anos. Naquela idade, ele fez uma cirurgia, e ele foi retirado. No entanto, foram deixadas pequenas partes do tumor. E, por não ter tido acompanhamento pós-operatório, o tumor “cresceu muito”, ele conta. “Quando ele [médico] viu, ele disse: ‘Isso deve ser um câncer’ e me mandou para um oncologista. Eu tinha 16 anos, estava sozinho na sala dele, foi muito chocante”, relata o advogado.

Após buscar consultas e opiniões com outros médicos, Moura decidiu fazer uma nova cirurgia em Salvador. “Retirei o tumor. Detonou toda a minha mandíbula, pois era muito grande”. Entretanto, o caroço voltou. Novamente foi retirado. Foi preciso fazer enxertos. “O enxerto não pegou. Tive infecção. Nessa saga, fiz nova cirurgia”, conta Moura, acrescentando que, após isso, outras complicações o fizeram ser submetido a outros procedimentos cirúrgicos.

“Eu, quando estava deitado na cama, ficava pensando como isso acabou me definindo. Acabou sendo uma marca, né? Uma máquina indelével, tanto que muitas vezes eu conversava com as pessoas e isso já era o primeiro assunto”, conta. Foi quando ele decidiu registrar o episódio tão marcante em sua vida na própria pele. A ideia ficou em cabeça por mais de 10 anos, até que o desenho foi feito.

“Eu tatuei para que isso fosse tanto em símbolo de toda uma luta, um símbolo de todo um aprendizado, e um símbolo também de que eu tenho que renascer. Um símbolo que eu tenho que me refazer, que eu tenho que me reconstruir. Eu tenho que olhar para isso, mas subir, subir como uma fênix e voar das cinzas, do tumor, da fênix”.

Rafaela Mendes, de 39 anos, tem boa parte do corpo tatuado. São 36 tatuagens que contam histórias de sua vida, desde os “tempos de rebeldias”, como ela define, como outras que trazem significados “muito importantes” para ela. Como a sua filha, por exemplo. E como a imagem de Nossa Senhora Aparecida estampada em antebraço, segurando um terço e acompanhada pela frase Fé e Gratidão. Esta, diz ela, é a mais importante. E Mendes diz o por quê:

Rafaela pesava 123 kg. Fez uma bariátrica e perdeu 62. Segundo ela, com a perda do peso, seus seios ficaram flácidos, assim como a barriga. Mas os seios eram a parte que mais a incomodava.

“Foi uma luta, procurei vários cirurgiões e os valores das cirurgias muito caras na época não tinha dinheiro e o plano não cobria”. Até que ela conheceu um médico que, junto com ela, batalhou para conseguir com que a cirurgia de reparação fosse realizada pelo plano. E conseguiu depois de cinco tentativas. “Fiz nossa senhora em forma de agradecimento por tudo que ele fez por mim, pelo que ele lutou junto comigo. E fé e gratidão porque nunca me faltou e sou grata a ela por tudo”, afirma.

As tatuagens, usadas também como forma de agradecimento, como ocorreu no caso de Rafaela, foram utilizadas por Ana Karla como uma forma de recuperação da autoestima e o final de um ciclo de combate ao câncer de mama. Ela, que é professora da rede pública e tem 48 anos, tatuou a auréola e o mamilo de um dos seios após ter sido mastectomizada. Ou seja, como parte do tratamento, ela retirou a mama.

Ana Karla Barros descobriu em 2015, exames de rotina, que estava com câncer invasivo na mama esquerda e um nódulo sólido no outro. Por questões de segurança, ela conta, teve que fazer mastectomia da mama direita total. O procedimento não preservou a auréola e o mamilo.

A professora passou por seis quimioterapias e 25 sessões de radioterapia. “Durante o protocolo quimioterápico, a aceitação do momento, o pensamento positivo e algumas frases que eu tenho até hoje, como mantras, são esses: ‘Eu tive câncer, mas ele nunca me teve, a fé é maior que o medo e tudo passa!’”.

Inclusive, ela conta que tatuou a frase “Tudo Passa” em seu corpo. “Nunca deixei faltar o meu sorriso e tive que aprender a viver um dia de cada vez, principalmente a cada ciclo das sessões de quimioterapia que eu as intitulava: Spa da Cura”, afirma a professora.

Ao terminar a “luta pela cura”, como ela classifica, começou a ‘luta de paciência” para a reconstrução das mamas. “O fato da mama direita ficar sem o mamilo e a aréola foi para mim um dos pontos do tratamento muito dolorido. Foi uma dor de amputação na alma. Eu o chamava de Peito Cego”, relata Ana Karla.

O mamilo da esquerda, que conseguiu ser mantido, foi dividido e uma parte dele transferido para o lado direito, por meio de um enxerto. “Mas ainda faltava a aréola”. Foi quando ela ouviu falar em um tatuador que fazia arte realista para mulheres mastectomizadas. E de graça.

“Fiz a reconstrução da aréola em apenas duas sessões. E já na primeira,como falei na época, ele fez com que eu me apaixonasse de novo por essa parte do meu corpo que nos define como mulher, mãe, devolvendo a minha autoestima, a segurança e a admiração por tê-lo de novo e tirando da minha cabeça que eu não tenho mais peito cego”, expõe, acrescentando.

“E sempre insisto em falar, que estou aqui contando a minha história, porque o tumor foi descoberto no início. Tudo no início, as chances de cura são maiores e menos sequelas você fica”, finaliza.

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