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Nº 5884
Cidades

Mais de 30 templos religiosos são realocados em bairros afundados

Fiéis se emocionam com a retirada de igrejas históricas em bairros atingidos pela mineradora Braskem

Por Greyce Bernardino | Edição do dia 26/11/2022 - Matéria atualizada em 26/11/2022 às 04h00

Sendo alguns deles históricos, os templos religiosos existem para propagar a fé. São neles que fiéis se reúnem para se conectar com o Divino, realizar suas práticas celebrativas e o bem. Locais com anos de histórias e atos de devoção.

Em Maceió, capital alagoana, alguns desses espaços, infelizmente, precisaram ser realocados e outros fechados, por estarem localizados nos bairros afetados pelo afundamento do solo - Bebedouro, Bom Parto, Mutange e Pinheiro. Um problema que surgiu em meados de 2018, por extração irregular de sal-gema pela Braskem, e que segue sem uma solução até hoje. A mineradora, por sua vez, foi responsabilizada pelo problema e vem trabalhando na realocação e compensação das dezenas de milhares de pessoas ‘forçadas’ a abandonar os bairros.

Só de templos religiosos, houve a realocação de 35 espaços, e outros quatro estão em tratativas para a realocação, por estarem em áreas de risco definidas pela Defesa Civil. “A Braskem segue em tratativas para a realocação dos imóveis localizados nas áreas de desocupação e monitoramento definidas pela Defesa Civil, incluindo os templos religiosos. Dos 39 templos identificados, 35 já estão desocupados e os demais seguem em tratativas para realocação. Cada caso é tratado individualmente”, explicou a mineradora.

A Braskem não especificou quais os templos realocados e os seus respectivos bairros. Os espaços religiosos podem ser igrejas católicas, evangélicas, centros espíritas, casas de religião de matrizes africanas, dentre outros.

A reportagem, no entanto, entrou em contato com a diretoria da Arquidiocese de Maceió, a fim de obter a informação de quantas igrejas católicas, na capital, precisam ser ou foram realocadas, sendo informada posteriormente de que três igrejas matrizes foram evacuadas nos bairros afetados pelo afundamento, passando, assim, a funcionar provisoriamente em novos locais, até que novas matrizes sejam construídas. 

A primeira desocupação aconteceu no ano passado, com a Igreja Menino Jesus de Praga, no bairro Pinheiro, que, agora, reúne a comunidade em uma matriz provisória, no Farol. As outras duas realocações aconteceram neste ano. Em 30 de outubro, a Nossa Senhora do Bom Parto passou a reunir fiéis, provisoriamente, na Igreja dos Martírios, no centro de Maceió, e na Capela de Assunção, no Farol. Já em 15 de novembro, a Igreja Santo Antônio, em Bebedouro, fechou as portas e passou a funcionar de modo temporário na Avenida Jorge Montenegro de Barros, na Santa Amélia. Não foi informado, no entanto, quando as novas matrizes ficarão prontas. 

O jornalista Matheus Tenório começou a sua caminhada na Igreja Santo Antônio no ano de 2012. Bastante ligado ao templo, ele contou que foi difícil acompanhar a última missa antes da transferência da paróquia para a Santa Amélia. A celebração aconteceu no último dia 15. 

“Foi difícil segurar a emoção na última missa. A matriz sempre esteve presente na minha vida, na vida das pessoas e no bairro. Quando se fala em Bebedouro, não tem como não pensar na paróquia, na Igreja de Santo Antônio. É um local que representa muitos momentos marcantes, de fé”, lamentou.

Desde 1913, a paróquia Santo Antônio reúne fiéis de todas as regiões e devotos do Santo, mas teve que encerrar, definitivamente, suas atividades religiosas em Bebedouro por causa dos problemas no solo. Para muitos fiéis, agora, os anos de devoção no espaço vão seguir apenas na memória.

ASSEMBLEIA DE DEUS FECHA AS PORTAS

A reportagem também entrou em contato com igrejas evangélicas da capital. A Assembleia de Deus (AD) precisou realocar nove templos em Maceió desde 2019 e, por não ter novos locais para funcionamento, os espaços encontram-se com as portas fechadas temporariamente. Porém, 19 templos estão sendo construídos para acomodar os fiéis dos bairros atingidos.  

Foram desativadas a AD Pinheiro, AD Bebedouro, AD Mutange, AD Vale Mundaú, AD Marquês de Abrantes e AD Jardim das Acácias, além da SubCongregação do Mutange, SubCongregação de Bebedouro e SubCongregação do Pinheiro. Os espaços, atualmente, foram tomados pelas ruínas, um vazio entristecedor. 

“O sentimento é de muita tristeza, pois muita gente teve que sair da sua casa, da sua igreja e, até mesmo, da sua cidade. Muitos crentes gostam de congregar em uma igreja perto da sua moradia e, por isso, sentem dificuldades em ‘migrar’ para outro templo”, informou a diretora da Assembleia de Deus no Estado de Alagoas, que estima que cerca de 6 mil fiéis foram afetados pelas realocações. 

Mesmo a igreja perdendo o total de nove templos, a Assembleia de Deus ainda não recebeu a indenização dos imóveis. Por isso, foi criada uma comissão para acompanhar o processo de restituição. Também foi criada uma conta exclusiva para este fim e todo o dinheiro será usado exclusivamente na aquisição e construção de novos templos. 

A Braskem diz oferecer todo o apoio para a mudança e cabe à administração das igrejas definir a nova localização, bem como a comunicação com os fiéis. Já em relação aos espaços religiosos indicados como de interesse cultural pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (Sedet) e Secretaria de Estado da Cultura (Secult), a mineradora está em diálogo com as autoridades e órgãos públicos para a definição de medidas a serem adotadas.gb

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