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Nº 5822
Cidades

Filhos, netos e bisnetos v�o mantendo a tradi��o

Antes de falecer, “seu” Benedito pediu à filha, Edileuza dos Santos Silva, hoje com 54 anos, que não deixasse a boneca Vitalina morrer. “Eu sempre fui a filha mais presente nas festas. Lembro dele com a zabumba nas costas me levando para uma baianada lá n

Por | Edição do dia 06/02/2005 - Matéria atualizada em 06/02/2005 às 00h00

Antes de falecer, “seu” Benedito pediu à filha, Edileuza dos Santos Silva, hoje com 54 anos, que não deixasse a boneca Vitalina morrer. “Eu sempre fui a filha mais presente nas festas. Lembro dele com a zabumba nas costas me levando para uma baianada lá na Ponta da Terra”, revelou Edileuza, orgulhosa. Desde o dia 18 de dezembro de 2001, quando “seu” Benedito, aos 84 anos, morreu, Edileuza capricha nos preparativos e reconhece a importância de atender ao pedido de seu pai. “A Vitalina já trouxe muitas alegrias para esta comunidade. A casa do meu pai enchia durante o carnaval. Todo mundo se mudava para lá”. Edileuza conta que a história tem se repetido em sua casa. “Meus netos estão dormindo aqui há uma semana para ver a Vitalina ficar pronta”. A mãe de Edileuza, Eurides Carvalho, de 79 anos, e a tia, Edelina Santos, 71, são as folionas mais antigas do bloco da Mocidade. “Este ano talvez eu não acompanhe Vitalina em todas as ruas, mas não vou ficar em casa”, garantiu Eurides. “Seu” Benedito deixou uma família grande, composta de 6 filhos, 25 netos e mais de 20 bisnetos. Edileuza, no entanto, já se preocupa com a continuidade da tradição. “Eu já disse para as minhas netas: quando morrer, quero que continuem com a brincadeira. A boneca não é do meu pai, nem minha, mas do carnaval”, declarou. Edileuza cresceu vendo a boneca Vitalina reunir a família todos os anos para brincar o carnaval. “Esta boneca representa para a nossa família alegria e lembranças. Tenho fotos onde aparecem junto de Vitalina tias minhas que já morreram”, relatou. Bisneta de “seu” Benedito, Amanda dos Santos Silva, 14 anos, fala da responsabilidade de dar continuidade a Vitalina. “Eu cresci vendo a alegria de meu bisavô quando via esta boneca na rua. Eu também gosto do trio elétrico, mas prefiro seguir Vitalina”, disse. Apesar do valor folclórico e da contribuição à cultura popular, a boneca Vitalina é quase ignorada nos carnavais de hoje. “As novas gerações acham caretice, acham cafona. Mas este tipo de carnaval, com bloco e bonecos, não tem maldade, é mais saudável e diverte crianças, adultos e idosos”, complementa Edileuza. Origem Os bonecos gigantes são remanescentes da Europa, onde eram usados em manifestações de caráter religioso. Chegaram ao Brasil com a colonização portuguesa e espalharam-se nos folguedos brasileiros. Em Alagoas, além de Maceió, ainda é possível encontrar bonecos em Penedo, Santa Luzia do Norte e Maragogi. “Muito antes de Olinda imortalizar os bonecos, eles já existiam aqui”, contou o pesquisador e folclorista, Ranilson França. “Benedito foi um remanescente e sua boneca Vitalina já faz parte do folclore alagoano”, completou. Questionado sobre a falta de espaço dos bonecos no carnaval do Estado, Ranilson França diz que eles não têm espaço na mídia, mas que na periferia eles ainda permanecem vivos. “Enquanto existir povo com capacidade de externar sua alegria, haverá folclore” (CS)

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