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Nº 5822
Cidades

Benon e o Mordido do Porco em Bebedouro

O calendário do carnaval de rua na periferia é indefinido. Enquanto uns blocos saem no domingo e outros apenas na segunda-feira, a maior parte não tem dia certo. “Depende da movimentação do pessoal. Quando eles me chamam eu vou. Às vezes, eu acordo e digo

Por | Edição do dia 06/02/2005 - Matéria atualizada em 06/02/2005 às 00h00

O calendário do carnaval de rua na periferia é indefinido. Enquanto uns blocos saem no domingo e outros apenas na segunda-feira, a maior parte não tem dia certo. “Depende da movimentação do pessoal. Quando eles me chamam eu vou. Às vezes, eu acordo e digo: é hoje”, diz Mestre Benon, criador do bloco Mordido do Porco, de Bebedouro – em décadas passadas um reduto sagrado do carnaval maceioense, sob a batuta do Major Bonifácio. Aos 67 anos e com mais de 50 de folclore, o mestre guerreiro Benon montou seu bloco há 18 anos e, desde então, faz a festa durante o carnaval na região entre Bebedouro e Chã de Jaqueira. Originalidade é o que não falta em seu repertório. A mistura de elementos do guerreiro, do reisado, do boi e das lendas populares é criação de Benon. Tem a burrinha, o diabo, a alma e o lobisomem. “Quando eu era pequeno via como era o folclore e passei a resgatar tudo isso nessa mistura”, explica. Utilizando papel, isopor, papelão, madeira, borracha e utensílios diversos, o mestre folclorista confecciona sozinho os adereços, as máscaras, as fantasias e ainda faz reparos no boi Testa de Aço, que sai com o Mordido do Porco. O nome, inspirado no bordão popular “simplesmente pela sonoridade”, batiza também o trio de forró que acompanha Benon há 40 anos. O trio é um dos principais componentes do bloco que inova ao misturar frevos e marchas de carnaval com forró. “É o carnaforró”, brinca o mestre, que se orgulha em cantarolar uma marchinha composta especialmente para o bloco. “Tem dinheiro para eu gastar até o fim da minha vida / Pra que eu vou trabalhar?/ Vivo no mundo sozinho/ Agora é que eu vou sambar / Vivo no mundo sozinho / Sem ter a quem dar de comer / Por isso eu digo a você/ Agora é que eu vou sambar”. Benon comenta que, com a aproximação do carnaval, populares do bairro começam a perguntar o dia em que o bloco vai sair. “Às vezes eu saio nos três dias de carnaval. No começo é só o pessoal da rua e os tocadores. Quando eu volto, já tem mais de mil pessoas. A gente fica brincando aqui até o dia amanhecer”, diz. O mestre muda o temperamento quando perguntado sobre o carnaval moderno de escolas de samba e bandas de axé. “Isso é uma porqueira. O carnaval do povo é o carnaval de rua que todo mundo brinca. Não importa se rico, pobre, menino, mulher, branco ou preto”, discursa.

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