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Nº 5822
Cidades

Abram alas: o carnaval de rua pede passagem

FERNANDO COELHO Dias antes de a maior festa popular do País começar, uma dúvida prazerosa surge na cabeça da maioria dos brasileiros: onde passar o carnaval? Em Maceió, a população se divide. Parte da classe média migra para Recife, Olinda e Salvador. Ou

Por | Edição do dia 06/02/2005 - Matéria atualizada em 06/02/2005 às 00h00

FERNANDO COELHO Dias antes de a maior festa popular do País começar, uma dúvida prazerosa surge na cabeça da maioria dos brasileiros: onde passar o carnaval? Em Maceió, a população se divide. Parte da classe média migra para Recife, Olinda e Salvador. Outros preferem a diversão com cara de micareta nas cidades de Barra de São Miguel e Paripueira, redutos tradicionais para os foliões da capital há anos. Já aos menos abastados, resta contentar-se com o desfile de bois, blocos de frevo e escolas de samba na Rua Sá e Albuquerque, em Jaraguá, e na Praça Multieventos, na Pajuçara; ou nos festejos organizados pela prefeitura no Benedito Bentes e na Praça Moleque Namorador, no bairro da Ponta Grossa. Mas e o autêntico carnaval de rua, onde está? Aquele, famoso nas décadas passadas por arrastar multidões sem distinção de cor, raça, crença e, principalmente, nível social. Aquele mesmo, segregado ao invadir os clubes e que, nos últimos anos, voltou às avenidas mascarado de prévia carnavalesca. “Enquanto houver o povo vai haver carnaval”, responde o professor Ranílson França, um dos maiores folcloristas de Alagoas. E ele está certo. Basta dar um giro pela cidade e conferir a animação de intrépidos blocos carnavalescos que fazem a festa nos bairros de periferia. Prova de resistência esquecida pela elite local, eles mantêm o compasso e preservam o ritmo de uma celebração “dançada, pulada, gritada e catucada”, como definiu o folclorista Luís Câmara Cascudo. Em Fernão Velho, Bebedouro, Tabuleiro, Jacintinho, Ponta Grossa ou Prado, lá estão eles, empunhando estandartes inspirados, desfilando fantasias artesanais e provocando a imaginação com movimentos, formas e cores embalados ao som de pequenas orquestras e percussão improvisadas. Apesar de moldar-se aos novos tempos, a festividade pagã dança e canta no enredo da história para manter viva a irreverente tradição da expressão popular, e resgata momentos marcados na memória de outros carnavais por blocos como Onze Mil Virgens, Vassourinhas, Morcegos e Cavaleiros dos Montes – este último, um dos mais antigos de Alagoas, criado por um engraxate da Rua do Comércio, na década de 1930. Entre blocos tradicionais e remanescentes de antigos cordões, uma verdadeira legião de brincantes suburbanos conserva a identidade autêntica do carnaval. Seja no resgate e na adaptação de elementos do folclore – como o Bloco Mordido do Porco, de Mestre Benon, há 18 anos marcando presença em Bebedouro; ou as Baianas Mensageiras de Santa Luzia, que animam as ruas do Tabuleiro do Martins, ou nos novatos cheios de humor contemporâneo, como o Bloco das Virgens e o Bloco da Sombrinha, ambos de Fernão Velho. Pesquisadores e especialistas da cultura carnavalesca dizem que a aura lúdica que envolve os ritos de carnaval reforça sua função social de inclusão, mas alertam: é preciso avançar. Afinal, se a motivação inicial é o divertimento, com o tempo urge a necessidade de reconhecimento por parte de outros extratos sociais. Caso contrário, a falta de motivação incorre no risco de extinção. Este ano, o bloco Alaurso, de Chã de Jaqueira, e o Bloco das Brotinhas, no Santo Eduardo, não sairão por falta de estrutura e apoio. “É um meio de diversão para pessoas que estão na marginalidade. Por isso, o processo ritualístico é importante. É o que mantém a espontaneidade do carnaval e provoca sua renovação. A institucionalização e toda a infra-estrutura recorrente afasta o povo da manifestação”, observa Ranílson França. A Liga dos Blocos de Frevo de Maceió informa que os dez blocos cadastrados na entidade – alguns dos quais escalados para a programação oficial – vão sair nas ruas de seus respectivos bairros. Leia mais na página E2.

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