Agricultores prendem funcion�rios em secretaria

BLEINE OLIVEIRA REGINA CARVALHO Reclamando da falta de assistência e de investimentos da Secretaria Executiva de Agricultura (Seag), cerca de 500 pequenos agricultores bloquearam ruas próximas ao órgão, no Centro de Maceió, e “prenderam” funcionários durante quase duas horas no prédio da secretaria. Os servidores públicos estaduais só foram liberados com a chegada da Comissão de Gerenciamento de Crise e Direitos Humanos da Polícia Militar de Alagoas. Além da queixa contra o “descaso com que a agricultura familiar está sendo tratada em Alagoas”, como afirmava o presidente da Associação dos Agricultores da Região Fumageira, Francisco de Souza Irmão, o Chico da Capial, os agricultores pedem anistia para débitos contraídos com os bancos do Brasil (BB) e do Nordeste (BNB). No final da tarde, após reunião com o secretário regional metropolitano, Alberto Sextafeira, no salão de despachos do Palácio Floriano Peixoto, lideranças do movimento concordaram em desobstruir a via pública e desocupar o prédio da Seag para esperar por uma reunião com o governador Ronaldo Lessa na próxima terça-feira, 22. Mesmo assim, mantiveram a disposição de repetir o protesto se nenhuma medida for adotada para que o produtor familiar receba assistência do governo estadual. O presidente da Associação da Região Fumageira, Chico da Capial, disse que o nível de insatisfação é tamanho que a classe admite pedir ao governador a saída do secretário de Agricultura, Severino Leão. “Ele [Leão] só tem trabalhado para os grandes”, reclamava o agricultor e principal líder da manifestação. A mesma avaliação fez Rilda Maria Jesuíno, diretora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), uma das entidades que apoiaram e participaram ativamente da manifestação de ontem. A Fetag teve o apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Alagoas), cujo presidente, Izaac Jackson, acompanhou as negociações. Segundo Rilda, nenhum dos compromissos que Severino Leão assumiu ao ser empossado, “com o apoio aos pequenos agricultores”, foi cumprido. “Como um homem do interior [o secretário é ex-prefeito de Arapiraca], acreditamos que ele teria compromisso com a agricultura familiar, mas nada foi feito. Essa situação nos prejudica a ponto de muitos terem perdido a safra passada”, reclamava Rilda. Ela contou que, em 2003, os produtores se mobilizaram para conseguir que o governo destinasse mais recursos para a agricultura. “Conseguimos o apoio da Assembléia Legislativa, que aumentou em R$ 2,5 milhões o orçamento da Seag”, relembra Rilda Jesuíno. Segundo Chico da Capial, o compromisso era que maior quantidade de recursos fosse destinada a investimentos na agricultura familiar, segmento que congrega 70% dos produtores alagoanos. “Cada R$ 1 mil investidos na agricultura familiar gera um dente da Associação dos Agricultores da Região Fumageira. De acordo com os agricultores, no ano passado foram liberados R$ 5 bilhões para a agricultura familiar, mas Alagoas só recebeu R$ 30 milhões, o menor índice de todo o País. Indicação do deputado Dudu Albuquerque, de Arapiraca, Severino Leão é acusado de não ter feito os investimentos necessários e que foram prometidos aos agricultores. Ao contrário, segundo denunciam a Fetag e diversas associações de pequenos produtores, os recursos foram destinados a projetos de grande porte, como a criação de avestruz e produção de soja. “Sabemos que os técnicos da Seag estão se dedicando a projetos em três usinas. Enquanto isso, o agricultor pobre não recebe a mínima assistência e perde o que plantou. Nem mesmo um laudo de perda de safra a gente consegue”, reclama Chico da Capial. Os manifestantes argumentam que Alagoas recebe poucos recursos federais do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) justamente pela falta de assistência para que os pequenos agricultores do Estado encaminhem projetos ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. O subsecretário de Agricultura, Kléber Torres, disse que o órgão tem atuado de forma a atender todo o setor agrícola. Ele recebeu uma comissão de agricultores, mas deixou claro que as reivindicações e queixas só poderão ser analisadas com a presença do secretário Severino Leão, que desde segunda-feira, 14, estava em Brasília, acompanhando a eleição e posse de Renan Calheiros na presidência do Senado.