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Nº 5824
Cidades Localizada na orla da Ponta Verde, barraca deixa de existir depois de 25 anos funcionando

BARRACA CARLITO É DEMOLIDA NA ORLA APÓS DECISÃO DA JUSTIÇA

A prefeitura montou uma força-tarefa com cerca de 35 pessoas trabalhando diretamente na demolição

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 29/08/2023 - Matéria atualizada em 29/08/2023 às 04h00

A morte comercial da barraca Carlito parou o trânsito na orla da Ponta Verde, na Av. Álvaro Otacílio, durante todo o dia de ontem. Os carros eram desviados enquanto o lugar que por 25 anos foi cheio de vida ia sendo desmontado, tendo placas de madeiras do teto, caibros, pregos e ferro jogados ao chão.

Do lugar que um dia se podia sentir o cheiro da pizza ao forno ou do filé de camarão, exalava um cheiro de poeira que se misturava à maresia da água do mar batendo na parede de contenção.

Dentro do prédio, operários alheios a dor dos 30 funcionários e da família do proprietário, o Carlos Eduardo, o Carlito como ficou conhecido, cumpriam a missão. Destruíam, com base por ordem judicial, vigiados por homens da Guarda Municipal, Defesa Civil e DMTT (Departamento Municipal de Transporte e Trânsito), o sonho que nasceu de uma visita a capital.

Foi após um passeio que Carlito decidiu mudar de vida e fixar residência na cidade sorriso. Nunca imaginou que ainda em vida fosse verter em lágrimas os planos de oferecer uma culinária refinada à beira mar para milhares de turistas e ao cliente de bom gosto da capital.

O adiamento por uma semana da ação foi demais para ele. No final da manhã, sem que nenhuma tentativa de barrar o processo mais uma vez surgisse, Carlito passou mal e foi internado num dos hospitais da capital. Medicado, está bem, mas com uma sensação terrível de não saber como será o futuro.

DÚVIDA

A mesma situação era vivida pelo porteiro do restaurante, Diógenes dos Santos, que por oito anos atendeu clientes daqui e de fora. Ainda incrédulo com a cena, ele, às vezes, ia de uma lado para o outro e parava na entrada de onde um dia garantiu sua sobrevivência com carteira assinada.

“A gente aqui era como uma família. Todo mundo jogava junto porque os proprietários nos tratavam bem e todos com carteira assinada. No momento, o nosso futuro é uma incerteza. Vivemos um momento de desilusão. Uns mais abalados que outros, mas isso é fato. Não é fácil a vida dar um revés dessa forma como para nós e o Sr. Carlito”, lamentou Diógenes.

O gesto de união maior, em meio a crise após a notificação, veio na primeira noite, quando todos os funcionários decidiram ocupar o espaço. Isto porque a possibilidade de uma liminar favorável a barraca ainda era uma possibilidade.

“Todos nós passamos a noite aqui. Foi um momento de muita união para mostrar quantos pais e mães de família iam ser prejudicados. Mas não teve jeito. Infelizmente todos perdemos essa luta”, completou Diógenes.

Quem não entendia nada do que estava acontecendo eram os turistas que passavam diante do prédio. Pela calçada do lado oposto à desmontagem, a aposentada Maria Silva que chegou de Mato Grosso do Sul na semana passada, viu a movimentação na região mas não entendeu o que estava ocorrendo.

Ao ser informada pela reportagem, ficou com mais dúvidas, já que para quem chega de um lugar sem praias, as barracas são imaginadas como parte da paisagem assim como o mar e os coqueiros. “Quanta dó ver uma cena assim, já que vai desempregar tantas pessoas. E isso também irá ocorrer com as demais? E as pessoas daqui deixaram isso acontecerm já que ela empregava e gerava impostos?”, indaga Maria.

Pela quantidade de material retirado e dos caminhões presentes ao local para retirar os entulhos, ela foi enfática em perceber que durante os últimos anos foram muitos os investimentos. Para finalizar, antes de seguir para o hotel voltou a indagar. “E os proprietários irão abrir em outro lugar?”.

Sem resposta, saiu com a dúvida que paira na cidade por quem ainda se envolve nos debates que tomaram conta das redes sociais. Oficialmente, nem Carlito e nem qualquer pessoa da família se manifestou sobre a continuidade ou não do negócio.

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