Cidades
Mulheres tentam escapar da viol�ncia dom�stica

FÁTIMA ALMEIDA REGINA CARVALHO Isabel Silvina Cavalcante de Sá, 48 anos, professora e psicóloga. Macléia dos Santos Souza, 23 anos, desempregada. Maria Gonçalves Costa, 32 anos, professora. Os nomes de cidadãs comuns, de vida pacata, até pouco tempo desconhecidas, passaram a estampar manchetes de jornais como os mais rumorosos casos de violência contra a mulher acontecidos nos últimos três meses em Alagoas. Isabel Silvina foi encontrada morta com três golpes de faca-peixeira, na manhã do dia 24 de fevereiro, em frente a um sítio, próximo ao Conjunto José Tenório, onde residia. Macléia dos Santos Souza desapareceu de sua residência em Atalaia, no dia 2 de fevereiro. Um corpo que provavelmente é o dela foi encontrado no último domingo, 27, quase um mês depois, num canavial, próximo ao trevo de acesso a Boca da Mata. A polícia ainda tenta desvendar o crime. Maria Gonçalves Costa desapareceu de sua casa na noite de 20 de novembro. Dois dias depois, o corpo foi encontrado em um trecho de mata, no distrito de Rio Novo, estuprada e torturada antes de ser morta com um tiro na nuca. Isabel, nome fictício de I.C.F..S., podia engrossar essa lista de vítimas da violência contra a mulher, mas ela escapou do inferno e deve reforçar as manifestações da próxima terça-feira, quando o mundo comemora o Dia Internacional da Mulher. Hoje Isabel recebe o apoio do Centro de Atendimento e Referência à Mulher Vítima da Violência Doméstica, no PAM Salgadinho. Mas desde a infância ela passou por duras experiências, e hoje, aos 34 anos, diz que é feliz e realizada. Ser vítima da fome e do abandono, ela de certa forma aceitou, mas para superar a violência do ex-marido, dos pais biológicos, da mãe adotiva e até de um desconhecido, foram necessários longos anos de tratamento psicológico e muita força de vontade. Separada há sete anos, o saldo do relacionamento foi apenas desprezo, sucessivas surras e um braço fraturado. Ele acordava de manhã e não dava sequer um bom dia, lembra Isabal. Uma vez, levei uma surra dele porque saí e deixei os pratos sujos na pia. Nessa briga tive um braço quase quebrado. O medo ainda ronda a vida das mulheres Em 2004, a Delegacia Especializada da Mulher, em Maceió, registrou 3.517 ocorrências, das quais 1.505 foram ameaças e 1.371 foram lesões. Esses números não incluem as ocorrências feitas em outras delegacias e encaminhadas à Especializada. Este ano, já foram registradas 753 ocorrências em dois meses: 378 ameaças e 228 lesões. De acordo com a delegada Paula Mercês da Silva, o foco dessa violência está dentro da própria casa, e os principais agentes são sempre o companheiro, alguém com quem a mulher já se relacionou ou com quem tem laços familiares. /// Alagoas tem rede de apoio à mulher Em todo o Brasil existem órgãos especializados para receber denúncias de casos de violência contra a mulher. Em Alagoas, a Secretaria Especializada da Mulher, órgão da estrutura organizacional do Estado, tem realizado um trabalho de orientação, organização e apoio às diversas entidades. Estado e município dispõem da Delegacia de Defesa da Mulher, Casa de Abrigo, Centro de Apoio às Vítimas de Crime e de um Centro de Referência. A delegacia especializada tem o papel de investigar e tipificar crimes praticados contra a mulher, mas as delegacias comuns também podem ser procuradas. Em Maceió, a especializada pode ser acionada pelo telefone 221-0676. As vítimas da violência podem também acionar o apoio da polícia ligando para o número 147 ou 190, das polícias Civil e Militar. Os primeiros socorros à mulher agredida podem ser prestados pelos serviços de saúde. O número 192, do Samu, pode ser acionado gratuitamente, de qualquer telefone, para buscar um serviço de atendimento médico, com ambulância e profissionais que vão ao local em caso de necessidade de atendimento de urgência. As viaturas da polícia e do Corpo de Bombeiros muitas vezes fazem, também, esse tipo de socorro. Se fizer o deslocamento sozinha, a vítima deve dirigir-se à unidade de saúde mais próxima, que dará o encaminhamento adequado. Em casos de ameaça em casa, se a mulher não tem para onde ir, deve procurar o Centro de Apoio às Vítimas da Violência (CAV-Crime), na Av. Gustavo Paiva, em frente à Secretaria de Assistência Social; o Centro de Referência à Mulher Vítima da Violência Doméstica, no PAM Salgadinho, ou uma Casa Abrigo. São locais preparados para receber essas mulheres, prestar orientações e encaminhamentos e adotar providências. Alguns deles oferecem assistência jurídica, psicológica e social.