
BANCADA DO AGRO PEDE ANULAÇÃO DE TRÊS QUESTÕES
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Por PAULO SALDAÑA | Edição do dia 07/11/2023 - Matéria atualizada em 07/11/2023 às 04h00
Brasília, DF – Ao menos duas questões do primeiro dia do Enem 2023, aplicado neste domingo (5), incomodaram lideranças ruralistas. Segundo os parlamentares, itens sobre a amazônia e o cerrado seriam ideológicos e criariam uma imagem negativa e distorcida do agronegócio.
A Frente Parlamentar da Agropecuária publicou nota nesta segunda-feira (6) em que pede anulação das questões. O texto diz que as perguntas não teriam critério científico. “A vinculação de crimes à atividade legais no Brasil é um critério de retórica política para encobrir a ausência do Estado no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e de combate a ilegalidades”, diz a nota.
A bancada ruralista reúne 324 deputados e 50 senadores.
Questionados, o Ministério da Educação e o Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais), que organiza o exame, não responderam até a publicação deste texto.
Os itens são o 89 e 70, da prova de cor branca. A Frente de Agropecuária pede a anulação das perguntas, esclarecimentos do governo Lula (PT) e indica que vai encaminhar requerimentos de convocação do ministro da Educação, Camilo Santana.
O Sindicato Rural de Ribeirão Preto também se posicionou, por meio de carta endereçada aos organizadores do exame. No texto, afirma que há uma tentativa de “demonizar o agronegócio brasileiro”. O texto foi divulgado por Fabio Wajngarten, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As duas questões trazem trechos adaptados de artigos científicos. Pedem que o participante interprete o que os autores quiseram transmitir.
Na questão sobre o cerrado, o texto do enunciado diz que a lógica do agronegócio tem se sobreposto aos conhecimentos dos camponeses. Cita termos como “chuvas de veneno”.
Já no item que trata da amazônia, o excerto indica que o desmatamento da região tem a ver com a expansão da soja, mas também com a ação de “grileiros, madeireiros e pecuaristas”.
Os artigos utilizados na confecção das questões são facilmente encontrados na internet. Foram escritos por professores e pesquisadores ligados à USP (Universidade de São Paulo), UEG (Universidade estadual de Goiás) e UFG (Universidade Federal de Goiás), e veiculados em publicações científicas.
Não é a primeira vez que o Enem é alvo de ataques de grupos políticos por causa de questões da prova. Bolsonaro e aliados de direita já acusaram a prova de fazer doutrinação de esquerda.
Em seu governo, por sua vez, nenhum pergunta sobre ditadura militar caiu nas quatro provas realizadas no período.