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Nº 5759
Cidades

Xing� transforma semi-�rido em o�sis

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Por | Edição do dia 28/04/2002 - Matéria atualizada em 28/04/2002 às 00h00

Canindé do São Francisco (SE) – O Sertão ainda não virou mar, como pregou o fanático Antônio Conselheiro, mas para os sertanejos sergipanos já chegou bem perto. Onde antes só brotavam a macambira, o xique-xique, o faveleiro e o rasga-beiço, hoje vicejam frutas, hortaliças e coqueiro-anão – milagre da engenharia hidráulica. O semi-árido dos municípios de Canindé do São Francisco e Poço Redondo, que até o começo da década de 1980 eram os dois mais pobres de Sergipe, foi transformado em oásis, graças à irrigação promovida através da barragem de Xingó. São 40 mil hectares, distribuídos em lotes de no máximo sete hectares, onde colonos assentados pelo governo do Estado produzem quiabo, tomate, mamão, banana, melancia, laranja e coco verde para abastecer o mercado de Aracaju e Salvador. Só de quiabo, são quinze caminhões por semana. Humilhação Denominado inicialmente de projeto Califórnia, a irrigação do semi-árido sergipano humilha o agricultor alagoano, obrigado a sobreviver no inferno a um passo do céu. “Quando eu vi o projeto, me mudei para cá. Ninguém acreditava. Enquanto o governo de Alagoas (Suruagy) construía a rodovia, o governador de Sergipe (João Alves) distribuía lotes irrigados. Eu tive sorte, ganhei quatro hectares”, testemunhou o alagoano José Alves Feitosa, dono do lote 157, à margem da rodovia que liga Canindé a Aracaju. Zé Feitosa, como é conhecido, lembrou o começo do projeto, em 1983, quando ainda não havia a Hidrelétrica de Xingó. O projeto foi ampliado até Poço Redondo e hoje é chamado de Califórnia-Curituba. Subsídio Cada um dos colonos paga a taxa de consumo de água por trimestre, à razão de 260 reais para o lote de quatro hectares e 300 reais acima dessa área. O governo sergipano subsidia o produtor – o custo é de 4 reais o metro cúbico irrigado – e nem mesmo a crise energética do ano passado, causado pela redução do volume de água nas barragens, foi capaz de deter a expansão do projeto. No mês passado, o governador Albano Franco inaugurou o novo sistema de captação de água, diretamente da barragem de Xingó, o que permite a projeção por gravidade com economia de energia elétrica. Mas não é só isso, o governo sergipano também retira água do São Francisco para abastecer a população de Aracaju. Constituição “Temos a obrigação de defender o São Francisco. Para nós é uma questão de sobrevivência”, disse o técnico agrícola Hilton Rolemberg, concordando com a remuneração pelo uso da água do rio, “desde que os recursos sejam revertidos em favor do rio”. Ele lembrou que o artigo 29 da Constituição Federal de 1946 destinava um por cento da receita tributária da União para a preservação do Rio São Francisco. Para o técnico agrícola, bastaria o governo rever a lei e garantir os recursos, porque o São Francisco não é apenas o rio da unidade nacional, mas da sobrevivência de 15 milhões de brasileiros.

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