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Nº 5759
Cidades

Governo militar desvia o rio para inundar Canudos

Jeremoabo(BA) - O arraial de Canudos, no sertão baiano, está no fundo do açude de Cocorobó; mas a história que o exército pretendeu afogar nas  águas drenadas do Rio Vaza Barris, esguicha agora revelando o exemplo absurdo do uso da água  com fins politiqu

Por | Edição do dia 28/04/2002 - Matéria atualizada em 28/04/2002 às 00h00

Jeremoabo(BA) - O arraial de Canudos, no sertão baiano, está no fundo do açude de Cocorobó; mas a história que o exército pretendeu afogar nas  águas drenadas do Rio Vaza Barris, esguicha agora revelando o exemplo absurdo do uso da água  com fins politiqueiros – para tentar apagar os rastros do fantasma de Antônio Conselheiro, o governo militar, em 1970, construiu o açude no lugar errado. Mais de cem anos se passaram, mas a história de Canudos virou a saga que incomoda os militares, depois de dizimar o arraial, o exército descobriu que o inimigo era na verdade um bando de miseráveis, fanáticos, vítimas da segregação social. Para tentar fazer a história naufragar, o governo militar (general Médici) mandou construir o açude cem quilômetros depois da área tecnicamente viável. A água drenada do Rio Vaza-Barris inundou terras que não deveria e aumentou as perdas com a evaporação – a água evaporada no sertão baiano se precipita como chuvas na Amazônia, onde chove demais. Desperdício Além de não cumprir com o objetivo político de acabar com a saga de Canudos, a alteração do projeto trouxe problemas à jusante do Vaza-Barris. Há trechos entre Jeremoabo e Nova Canudos (a cidade projetada 60 quilômetros da antiga aldeia) em que os carros atravessam o rio sem ponte, tal a brusca redução da vazão causada pela barragem. “O açude deveria ficar cem quilômetros daqui, mas o governo preferiu gastar mais, pensando em acabar com a história de Antônio Conselheiro”, denunciou o vereador Manoel Travessa (PFL), que organizou o museu de Canudos. O desperdício só não é maior porque é possível recuperar a água evaporada, através da transposição do Rio Tocantins, que na época de cheia projeta-se em duas lagoas no extremo oeste baiano. Mas há o custo financeiro para fazer a água chegar ao São Francisco. O açude de Cocorobó tem água para irrigar dez vezes a área atualmente beneficiada, mas 60% das terras não são irrigáveis.

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