Cidades
�gua ainda � privil�gio de poucos no Sert�o

ROBERTO VILANOVA Mata Grande Dona Maria José, 33, nove filhos, tem de andar uma légua e meia por dia para encontrar a água de beber e cozinhar. Se não fosse a barragem do seu Noca (pai do delegado de polícia Valdor Coimbra Lou), ela morreria de sede ou teria de dividir a água da barragem com os bichos. Onde dona Maria mora, na caatinga às margens da BR-316, antes do acesso a Mata Grande, a 266 quilômetros de Maceió, água é privilégio restrito aos que moram na cidade. Meus filhos adoeciam e o médico disse que era por causa da água que a gente bebia, explicou. A distância Aparentando ter mais da idade que declara, queimada e enrugada pela exposição constante ao sol a pino, dona Maria ainda assim se sente privilegiada. Ela conhece pessoas que são obrigadas a andar quatro léguas ( 24 quilômetros) para conseguir água. De onde a gente mora até a barragem do seu Noca, ida e volta, dá uma légua e meia (nove quilômetros). Mas é o jeito. Fazer o quê, se aqui não tem chafariz?, pergunta resignada. Para vencer a distância, o filho mais velho, de 13 anos de idade, guia o carro-de-boi. Como não tem com quem deixar os filhos menores, leva todos os mais fracos na carona, espremidos entre tonéis, na carroceria. Deveriam estar na escola, mas o marido, desempregado, não tem como bancar os estudos além disso, os filhos de dona Maria, mesmo o mais novo, de quatro anos, viraram ativos que ajudam a manter a família. Aqui a gente vive como Deus quer; se chove a gente acumula água, se não chove a gente tem de se virar. Promessas a gente já recebeu muitas e este ano, com a eleição, vão prometer de novo trazer a água. Prefiro não acreditar, para não sofrer, concluiu.