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Inc�ndio em Rio Largo n�o tem indiciados

FELIPE FARIAS Foi criminoso o incêndio que atingiu o setor de contabilidade da Secretaria de Finanças de Rio Largo, provocado na madrugada de 4 de outubro do ano passado. Essa é uma das principais conclusões do inquérito que apurou o crime, encerrado esta semana e remetido ontem à Justiça. O relatório da investigação, entretanto, não indiciou ninguém porque, segundo o delegado responsável, Marcílio Barenco, a Justiça não se pronunciou sobre seu pedido de investigar pessoas que possuem foro privilegiado, consideradas decisivas para a elucidação. O pedido foi feito em novembro do ano passado, mas até agora não houve resposta da Justiça, segundo o delegado. O incêndio foi provocado na madrugada seguinte ao dia da votação para prefeito da cidade, que elegeu Vânia Paiva para o cargo, substituindo Maria Eliza Alves, que respondia a processo por improbidade. Mas, por pelo menos três vezes, antes de eleita, Vânia Paiva que era vice de Maria Eliza assumira o cargo num dos seguidos afastamentos da titular determinados pela Justiça no decorrer do processo. Ambas foram ouvidas pelo delegado, mas as diligências, como quebra de sigilos, eram imperiosas para a elucidação do crime, sem as quais fica prejudicada a indicação dos autores e, sobretudo, dos mandantes. Ainda de acordo com o delegado Barenco, a própria prefeitura também não concluiu o inventário dos documentos que foram destruídos pelo fogo. Criminoso Dois laudos comprovaram que o incêndio foi criminoso: um do Corpo de Bombeiros e outro do Instituto de Criminalística. Os dois indícios principais que levaram a essa conclusão foram o fato de serem encontrados vestígios de óleo diesel sobre os documentos incinerados e um recipiente com o próprio combustível inflamável, no local do incêndio. Segundo apurou o delegado, por volta das 4h do dia 4 de outubro, a porta do setor de Contabilidade foi arrombada. Os criminosos entraram e atearam fogo aos papéis. Três linhas de investigação estabelecidas apontavam, porém, para uma mesma motivação: a tentativa de ocultar crimes contra a administração pública, como apropriação de verbas públicas e irregularidades em licitações. Daí se direcionou a investigação a buscar um liame [ligação] entre o fato criminoso e os maiores interessados na destruição das provas que estam arquivadas no setor de Contabilidade, informou o delegado. Na época, a então titular da prefeitura, Maria Eliza Alves, estava afastada do cargo porque era investigada pelo Tribunal de Justiça por desvio de verbas e irregularidades em licitações, e uma equipe de auditores do Tribunal de Contas realizava uma investigação sobre as finanças de Rio Largo. Segundo o delegado, na época do incêndio os auditores analisavam as contas referentes a março daquele ano, mês em que a prefeitura fora ocupada por Vânia Paiva num dos afastamentos de Eliza. Ao todo, 26 pessoas foram ouvidas, entre servidores do município, Vânia Paiva e Maria Eliza, e até o deputado Gilberto Gonçalves, que pedira ao Tribunal de Contas a auditoria nas contas de Rio Largo. Mas, segundo o delegado, os depoentes apontavam apenas para presunções de autoria, de caráter meramente subjetivo, no entender de cada um passíveis, portanto, de serem alegadas como depoimentos suspeitos pela defesa de quem quer que fosse indiciado no inquérito. Nenhum dos depoimentos, segundo Barenco, apontava indicações que pudessem servir de base segura à elucidação do evento criminoso. A saída para a polícia, portanto, era a autorização judicial para as diligências mais profundas, como a quebra dos sigilos, inclusive em relação às ocupantes que se alternavam no cargo de prefeita. Mas, devido a serem ambas prefeitas e portanto tendo foro privilegiado as diligências só podiam ser autorizadas pelo Tribunal de Justiça. Como até hoje não foram autorizadas, o inquérito foi concluído sem apontar os responsáveis pelo incêndio criminoso em Rio Largo. A prefeitura do município também constituiu uma comissão de inventário para definir que documentos foram destruídos pelo fogo. Mas, segundo Barenco, essa análise também não foi feita ainda. Justiça O relatório do inquérito foi protocolado ontem no Fórum de Rio Largo, na 3ª Vara Criminal, com essas conclusões. Procurado pela GAZETA, o juiz responsável, Mirandir Lima, alegou que só poderá se pronunciar na próxima segunda-feira, mas adiantou que a etapa seguinte é enviar o inquérito para receber parecer do Ministério Público.