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Nº 5759
Cidades

VENDA DE CARNE DE CACHORRO TIRA 'FEIRA DO RATO' DO ESQUECIMENTO

Famoso em todo o Brasil, espaço em Maceió volta aos holofotes com episódio divulgado nas redes sociais

Por ROGÉRIO COSTA e LÍVIA TENÓRIO | Edição do dia 09/11/2023 - Matéria atualizada em 09/11/2023 às 04h00

Para os comerciantes da "Feira do Rato", localizada no bairro da Levada, em Maceió, a repercussão das imagens de um homem vendendo o que seria carne de cachorro tirou o local do esquecimento. A feira chegou a ser pauta de matérias de alcance nacional feitas pelas principais redes de TV brasileiras. As reportagens lá realizadas também ganharam o mundo, graças as redes sociais.

Instalada há mais de 50 anos na região, a feira já passou por algumas poucas mudanças, mas quem passa por lá percebe que a sua alma e essência são as mesmas de quando tudo começou. Normalmente os negócios realizados são feitos na base da compra, venda ou troca, normalmente de produtos usados e, infelizmente, alguns com procedência duvidosa.

Tempos atrás, o espaço era conhecido como "Feira do Passarinho", e com o passar dos anos, chegou a sua denominação final, ocupando uma área próxima a uma das estações do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que cruza todo o Mercado de Maceió. O movimento dos frequentadores da feira chamou a atenção das redes nacionais de TV que exibiram as imagens capturadas que mostravam a fuga dos comerciantes momentos antes do trem passar pelo local, afinal, ninguém iria dividir o espaço com a composição da antiga Rede Ferroviária Federal, atual VLT, transporte que liga Maceió e Rio Largo.

“Desde a publicação das imagens, a feira, que já era famosa, foi novamente lembrada. A filmagem não fui eu que fiz, mas mostraram a minha placa, que estava com meu número, e as pessoas acharam que fui eu. A polícia chegou até a me procurar em busca de informações. Diante da repercussão, as pessoas botaram o cara para correr e ele não apareceu mais. É um morador de rua que vive passando por aqui, ele insiste que estava vendendo carne de carneiro, e não de cachorro”, disse Humberto Silva.

Já Cícero de Andrade, 68 anos, é um dos clientes da barbearia de Humberto. Enquanto dava um trato no visual, aproveitou para relembrar da época da sua juventude, afirmando que frequenta a Feira do Rato há mais de 50 anos. “Eu venho de vez em quando aqui na feira, sempre de passagem já tem muito tempo. Lembro quando o trem passava por aqui e o pessoal saía correndo com os produtos, lembro do comércio de pássaros e dos dias de maior movimento. Pouca coisa aqui mudou, disse Cícero.

Geraldo Francisco é vendedor de confecções na feira há mais de 30 anos, e faz da venda de roupas usadas o seu meio de vida. "A feira antiga praticamente acabou depois da pandemia. O governo tirou todas as barracas e jogou o pessoal em um galpão da antiga Ceasa. Tem muito aposentado aqui e pessoas doentes que não podem trabalhar, e o único meio de sobrevivência é aqui. Eu vendo camisas que compro em brechós e revendo aqui. Vamos supor que um tênis é R$ 200, eu vendo aqui por R$ 50", afirmou Geraldo.

Quem passa pelo local percebe que o movimento de pessoas vendendo e comprando é ativo e quase permanente. Pessoas que não frequentam o local com frequência são confundidas com policiais, curiosos, turistas e, naturalmente, como jornalistas em busca de informações. A maioria dos comerciantes que atuam no local é certeira nas críticas sobre a falta de atenção e infraestrutura do poder público em melhorar as condições do local. “Muitos aqui são vistos com outros olhos e muita indiferença. É como se as pessoas que andam, por aqui fossem todos uns foras da lei, e não é assim. Muitos tiram o seu sustento de forma honesta e sem negócios errados”, reafirmou Humberto Silva, o barbeiro.

Toda essa tradição gera desdobramentos e, às vezes, com acusações de que alguns negócios feitos na feira seriam com produto de furtos, o que a maioria dos comerciantes nega, justificando que o abandono do lugar e o desdém pelos comerciantes é fruto da discriminação sofrida pelas pessoas que frequentam a feira, a maioria pobres e desempregadas. Mas, para alguns comerciantes estabelecidos no local, o movimento de negócios na feira é fundamental para a sobrevivência de suas famílias. Todos concordam que a região poderia ser mais organizada, urbanizada e com uma infraestrutura mais adequada, indo além das promessas ainda não cumpridas por vários gestores públicos.

A Polícia Civil instaurou inquérito nesta terça-feira (7) para investigar a suposta venda ilegal de carne de cachorro na feira próxima ao Mercado da Produção, em Maceió, cabendo ao delegado Robervaldo Davino, titular da Delegacia de Crimes Ambientais e Proteção Animal, presidir as investigações para identificar a autoria e os detalhes da ocorrência que, segundo o barbeiro Humberto Silva, "fez voltar os olhares de muita gente para um pedaço esquecido da cidade".

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