Cidades
Lessa amea�a usar pol�cia contra �ndios

BLEINE OLIVEIRA Repórter A fala mansa dos líderes da tribo indígena wassu-cocal foi duramente calada pelos gritos do governador Ronaldo Lessa, ontem, durante reunião no Salão dos Conselhos do Palácio Floriano Peixoto. Levados pelo secretário das Minorias, Zezito Araújo, 26 índios foram cobrar de Lessa promessa feita durante a campanha eleitoral de 2002, de que o Estado construiria 250 casas para substituir as moradias de taipa onde vivem as famílias que formam a tribo. Na abertura da reunião, o cacique Geová José Honório da Silva, cujo nome indígena é Wassu Soré, disse claramente que há dois anos a comunidade espera pelas casas. É um desespero ver as crianças embaixo de pingueiras ou sendo picadas pelo barbeiro, relatou o cacique. Falando baixo, e na simplicidade daqueles que sabem pouco sobre seus direitos, Wassu Soré chegou a pedir desculpas ao governador por estar ali cobrando a promessa feita. Outros líderes indígenas completaram o relato sobre as dificuldades da tribo diante da falta de assistência do poder público, principalmente nas áreas de saúde e educação Após o relato dos índios, e depois de ouvir secretários de Estado e o administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), José Heleno, que participou da reunião, o governador disse que precisava de um prazo de 10 dias para fazer levantamentos junto à Funai, que tem a tutela da população indígena, e à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para saber da disponibilidade de verbas federais destinadas à construção de moradias. GRITOS E MURROS NA MESA Como vieram a Maceió com a firme decisão de obter a garantia de que o governo estadual construiria as casas, os índios começaram a dar sinais de insatisfação com a proposta de Lessa. E reagiram diante da proposta feita pelo secretário de Infra-Estrutura, Wellington Melo, de que o governo poderia fazer um reboco nas casas de taipa, para que as moradias pudessem ser aproveitadas sem necessariamente serem substituídas por casas de alvenaria. A proposta revoltou os wassu-cocal, que começaram a agitar chocalhos para protestar. O cacique Wassu Soré deixou claro que, sem a garantia das casas, a tribo voltaria a interditar a BR-101, rodovia de acesso a Pernambuco que passa no meio da área indígena. Nesse momento, o governador Ronaldo Lessa reagiu com gritos e murros na mesa, chegando a dizer que, caso isso ocorresse, usaria a força pública (Polícia Militar) para desobstruir a rodovia. Não tenho medo de ameaças. Não radicalizem porque o Estado cumprirá seu papel. A força pública existe para garantir a ordem, disse o governador, pressionado pelos líderes indígenas. Lessa afirmou que não estava enganando os índios, mas apenas pedindo tempo para viabilizar a reivindicação que faziam. Ele negou ter prometido construir as casas em troca de votos. Não fui à aldeia negociar votos, afirmou, em referência à declaração do cacique de que, na campanha eleitoral de 2002, Lessa esteve na aldeia wassu-cocal e firmou o compromisso de construir as casas. Por isso, disse o cacique, toda a tribo votou nele para o governo. Entendimento O governador esclareceu que pediu o prazo de 10 dias para buscar informações junto à Funai sobre recursos destinados a Alagoas, dentro do projeto federal de construção de 5 mil casas para índios, a partir do segundo semestre deste ano. Lessa lembrou que o déficit de habitação para essa população é de 1.415 casas, e o custo é de R$ 14 milhões. Graças à interferência da Procuradoria Geral da República em Alagoas, o clima de tensão foi eliminado, o governador baixou o tom de voz e a reunião pôde prosseguir. Lessa disse que, por sua concepção de cidadania, sempre teve respeito pela população indígena. O procurador Delson Lyra defendeu investimentos em educação na área e disse que a PGR quer contribuir para o atendimento das reivindicações dos wassu-cocal. No final, ficou acertado que o Estado iniciará a construção das casas, mas não pode definir agora se serão as 250 reivindicadas pela tribo. Com isso, prometeu o cacique, a BR-101 não será interditada.