Primeiro especialista a alertar para o problema envolvendo a extração de sal-gema, pela Braskem, ainda em 2010, quando ninguém falava sobre a possibilidade de um desastre ambiental, o professor Abel Galindo Marques disse, em entrevista ao Jornal da MIX, na Rádio MIX 98,3 FM, na manhã de ontem, que caberia um Maracanã inteiro no subsolo onde estão localizadas a mina 18 (prestes a colapsar) e outras duas ao lado desta.
Segundo ele, há uma grande probabilidade de essas minas vizinhas, por estarem em uma área próxima, serem afetadas pelo dolinamento, que é popularmente chamado de “sumidouro” e é caracterizado por depressão no solo, de formato mais largo que profundos, que pode ser inundado por lagoas.
Portanto, pela caracterização geológica daquela região, o especialista alerta para a probabilidade de acontecerem novos fenômenos (surgimento de grandes crateras) nos próximos meses.
“Disponho de um estudo feito por técnicos italianos que apresenta o risco de esses dolinamentos acontecerem nessas áreas de minas de extração de sal-gema com o passar dos anos. Há uma possibilidade disso ocorrer, que varia de 30% a 70%. Por isso, não se surpreenda com novos informes nesse sentido daqui a algum tempo”, destacou Abel Galindo.
Ele informou que há um risco maior de o ‘sumidouro’ se formar na mina 18, mas com perigo de comprometer as minas 19 e 7, que estão coladas. Elas estão situadas entre o antigo CT do CSA e a Casa de Repouso José Lopes. “É possível que essas minas entrem em colapso juntas”, avisou o professor.
E explicou que esse fenômeno deve provocar a formação de um lago naquela área, com profundidade de 8 a 10 metros, levando em consideração que as camadas das minas vão desabando com o tempo e preenchendo os espaços vazios.
“As minas vão subindo e, se o teto desabar, agora, formaria um grande lago com dimensões grandes, que compreenderia a lagoa até a barreira das encostas”, reforçou.
SITUAÇÃO IRREVERSÍVEL
Para o engenheiro mecatrônico Arthur Cavalcante, a situação da mina 18 é praticamente irreversível. “Cada ano que se passa, as cavidades vão chegando mais próximas da superfície, se deslocando para cima. Então algumas que foram desativadas anos atrás com 800m estão com 720m, ou seja, a cada dia que passa estão mais próximas”, explicou.
Cavalcante trabalhou durante três anos nos bairros afetados pela mineração e disse que a Braskem e os órgãos governamentais fizeram uma análise para ver quais eram as minas mais críticas, que receberam prioridade. “A mina 18 estava entre as prioritárias sim, mas havia outras que estavam mais críticas, como a 4 e a 7”.
Em relação ao trabalho de fechamento das minas, o engenheiro explicou que elas são preenchidas com areia, com profundidade média entre um quilômetro e um quilômetro e meio.
“A região que está supostamente vazia acomoda água, chamada de salmoura, que está em contato com a região da câmara de sal. A mina fica lá, e o sistema de enchimento retira a salmoura, injetando areia”, disse Cavalcante. Segundo ele, ressaltou que a cavidade da região do Mutante estava na fila para receber o preenchimento, mas não houve tempo.
O engenheiro diz ainda que, em caso de colapso, outras minas podem ser comprometidas. “Não é descartada a possibilidade de ela afetar as outras, até porque tem uma série de cavernas naquela região, do Bom Parto, Bebedouro, Mutange, e elas têm um diâmetro máximo de 150 metros cada uma. A possibilidade do pior cenário, caso desabe, é afetar de alguma forma as demais”.