Cidades
Cidadania com arte, esporte e neg�cios

FÁBIA ASSUMPÇÃO Repórter Crianças e adolescentes pobres estão conquistando a cidadania por meio da dança, das artes, dos esportes e até pela magia do circo. São projetos desenvolvidos por Organizações Não-Governamentais (ONGs), empresas privadas ou ações voluntárias que estão permitindo a centenas de crianças e adolescentes o direito de sonhar com um futuro melhor. Um exemplo dessas iniciativas é o Projeto Guerreiro: Educação, Ambiente e Cidadania, que atende cerca de 220 crianças e adolescentes na Vila Emater e no Tabuleiro. O projeto desenvolve um trabalho de educação complementar, em espaços cedidos pela Ordem dos Advogados do Brasil e na Casa da Caridade. O projeto tem origem no conjunto de esforços desenvolvidos pela Centro Ambiental São Bartolomeu, o Ministério Público e o Projeto Ficai e agregou a contribuição de diversas outras instituições. No Clube da OAB, nas oficinas do Guerreiro, cinqüenta e cinco adolescentes da Vila e jovens da Vila Emater participam de oficinas de capoeira, dança, teatro, música, ginástica olímpica e formação geral. Essas oficinas estimulam o desenvolvimento do protagonismo jovem, trabalham sua auto-estima, ajudam a refletir sobre temas de interesse, situações vividas, as relações no grupo e convergem para a construção do espetáculo Guerreiros da Vila - uma re-interpretação do folguedo Guerreiro - e para a participação ativa desses jovens na conquista de seus direitos de cidadania. Na Vila Emater vivem 300 famílias que trabalham catando materiais recicláveis no lixão de Maceió. O projeto desenvolve um trabalho de inclusão social dos catadores e para erradicação do trabalho infantil. BASQUETE CIDADÃO O esporte é outro forte instrumento que vem sendo utilizado para a conquista de cidadania de crianças e adolescentes. Os irmãos Camila, 10, e Mateus de Sena, 8, e o Roger dos Santos, 11, participam do projeto Basquete Cidadão, desenvolvido no Pavilhão de Esportes Comendador Tércio Wanderley, por meio de uma parceria da Federação de Basquete de Alagoas (FBA) e a Usina Coruripe. Camila e Mateus entraram no projeto a pouco mais de dois meses. Eles moram no bairro de Pajuçara e duas vezes por semana vão para o Pavilhão de Esportes participar das aulas de basquete. Como a mãe não acha seguro que eles andem de ônibus, eles não se incomodam de andar mais de cinco quilômetros. Acho aqui muito bom, porque a gente se diverte e recebe orientações, diz Camila. Roger, que já faz parte do projeto há mais de um ano, mostra-se apaixonado pelo basquete. Desde os três anos eu já tinha vontade de jogar basquete. A prática do esporte é também uma forma encontrada pelo garoto para superar alguns problemas familiares depois da separação dos pais. Por causa desse problema, ele se atrasou nos estudos. Das quase 200 crianças e adolescentes que participam do projeto, a maioria vem de famílias pobres. Muitas delas vão para os treinos descalças, porque sequer possuem um tênis ou roupas adequadas para a prática do esporte. Mas, dentro do projeto, eles começam a vislumbrar um futuro melhor. Aqui o basquete é usado para que eles se tornem cidadãos de verdade, diz um dos monitores do projeto, Ricardo Alexandre. Desde o início do ano participando do projeto, Ricardo disse que a experiência está sendo uma verdadeira universidade para ele, que cursa Educação Física numa faculdade particular de Maceió. Ricardo joga basquete desde os 9 anos e diz que aos 28 anos presenciou situações de vida que ele nunca imaginava. São pessoas carentes de tudo, desde roupas, alimentação, até afetiva. No projeto, as crianças estão tendo oportunidade de aprender muito mais do que simplesmente jogar basquete. Estudantes dos cursos de Medicina, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Fisioterapia da Escola de Ciências Médicas de Alagoas, por exemplo, fazem um trabalho de orientação sexual, por meio do projeto Uncisaids. Estamos também programando fazer um trabalho na universidade, para que os estudantes doem tênis para essas crianças, explica a coordenadora do Projeto Uncisaids, Olga Simone. ### Jovens podem ter acesso a mercado de trabalho profissional A música, a dança, as artes circenses também têm sido instrumentos usados para garantir a inclusão social de crianças e adolescentes que vivem em situações de extrema pobreza. São experiências como o Projeto Mundaú das Artes, que tem a direção dos bailarinos Maria Emília Clark e Fernando Gomes. Maria Emília faz questão de esclarecer que não se trata de uma ONG, nem um instituto, mas uma ação voluntária. O trabalho com as crianças do Dique Estrada teve início há cinco anos e já contou 80 participantes. Por meio de uma seleção natural, o projeto hoje tem 30 integrantes, a maioria residentes no Conjunto Virgem dos Pobres. Não estamos preocupados em formar bailarinos e sim cidadãos. Pessoas pensantes, mas é claro que deste projeto sairão bailarinos como o aluno Antônio Henrique - que, em fase de formação, já participa da Companhia de Dança Maria Emília Clark como estagiário. As crianças atendidas pelo projeto fazem atividades diversas que vão desde aulas de ballet (clássico, moderno, dança flamenca) a atividade circenses, palestras, conhecimentos antropológicos, folclóricos, reflexão do cotidiano, aula de comportamento, boas maneiras e de maquiagem. O resultado com esses alunos é, sem dúvida, positivo e incentivador, melhoram suas posturas, a questão da auto-estima, os sentidos tornam-se mais aguçados e a vontade de prosseguir na vida conta com a disciplina, concentração que o ato de dança impõe. É a dança no seu maior nível de realização. Mercado de trabalho Empresas privadas também estão investindo em projetos sociais, que trazem resultados positivos também para elas, quanto para quem participa deles. É o caso da Petrobras, que, por meio da Unidade de Negócios de Exploração e Produção Sergipe/Alagoas e a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), realiza, todas as tardes de quartas-feiras, oficinas de recolocação no mercado profissional. O público-alvo das oficinas são jovens desempregadas que desejam ingressar no mercado de trabalho. Eles têm aulas com profissionais voluntários da ABRH, que orientam, entre outras coisas, como elaborar um currículo, as competências necessárias exigidas pelo mercado de trabalho e faz uma avaliação da carreira. Banco de dados A ABRH mantém um banco de dados com os currículos dos participantes que ficará disponível para as empresas do Estado. Projeto Para o estudante Diogo José dos Santos, 18, o projeto é uma importante oportunidade para conseguir o primeiro emprego. Ainda não tenho experiência profissional e acredito que com as lições que estão sendo aplicadas na oficina, ensinando como montar meu currículo e o que o mercado de trabalho espera do profissional que eu posso ser, vou começar minha vida profissional de maneira correta, avalia. Maria Alice Ferreira, que já tem experiência profissional, também acha que precisa participar das oficinas para aprender um pouco mais sobre as exigências do mercado. Precisamos estar sempre procurando participar de projetos como este que ajudam a entender o que o mercado precisa, assim nossa chance de conseguir um emprego aumenta. O gerente do Ativo da Petrobras em Alagoas, Samuel Guimarães Santos, explica que o objetivo da empresa com o projeto é contribuir para que, cada vez mais, os jovens tenham acesso ao mercado de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento e conseqüente fortalecimento da economia local.|EE