Cidades
Apaixonados n�o deixam sinuca morrer

MARCOS RODRIGUES Repórter O universo da sinuca em Alagoas está mais vivo do que nunca. Em todos os bairros da periferia existem mesas e a presença de aficcionados pelo esporte. Para os que tratam a prática com mais seriedade, entretanto, a única alternativa é o salão Snooker Bola da Vez, em Cruz das Almas. Localizado na Praça Ganga Zumba, o lugar é freqüentado por um público seleto, mas não menos apaixonado do que os freqüentadores de barzinhos dos bairros da cidade. A Gazeta encontrou mesas de sinuca em praticamente todos os pontos da capital. Desde os mais simples, como o Bar da Lavínia, no Sanatório, até o mais refinado no litoral, a regra é encaçapar as bolas e se divertir. ?Decidi colocar uma mesa de sinuca porque as pessoas gostam de jogar ao passo em que vão tomando uma cervejinha?, revelou Lavínia Gusmão. A mesa que mantém em seu bar, assim como os da maioria, é alugada. Ao preço de R$ 80,00, pagos mensalmente, ela consegue garantir a diversão cobrando R$ 0,25 pela ficha. Segundo Lavínia, todos os dias existem pessoas a fim de jogar. O horário predileto dos praticantes é o final da tarde. ATENTO às JOGADAS O interesse pela sinuca não atinge apenas os homens. A própria Lavínia revela que sempre que pode dar umas tacadas. Um dos freqüentadores de seu bar, Elivânio da Silva, confessa que com o tempo o jogo substituiu o interesse apenas da bebida. ?Tomei tanto gosto pela sinuca que já amanheci o dia jogando. Diminuí até a cerveja para ficar mais atento às jogadas?, confessa, revelando que joga apostando. Regras A atração pelas tacadas da sinuca seduzem, inicialmente, pela simplicidade. Isso, porém, termina quando se parte para a prática. Não é fácil, nem muito menos previsível, o final de uma partida. O tempo pode ultrapassar até as três horas ininterruptas. As regras para o jogo, em linhas gerais, envolve a eliminação do adversário a partir da derrubada das 14 bolas, à exceção da branca que serve para atingir as demais. A diferença começa quando se parte para a contagem de pontos. As bolas, que são diferenciadas pelas cores primárias, possuem pontos de um a quinze. A bola branca não possui pontuação, mas sua derrubada da mesa ou ainda sua queda em um dos seis buracos, determina a eliminação imediata do autor da jogada. Por isso a concentração é o principal aliado de qualquer jogador. Matemático A combinação de taco, bolas, giz e conseqüentemente as jogadas dão ao jogo um perfil baseado em cálculos. O jogador e proprietário do Snooker Bola da Vez, Juarez Alves, não hesita em classificar a sinuca como um jogo matemático. ?Tudo é muito minucioso. Uma boa jogada nasce do poder de observação e do cálculo feito pelo jogador. Desde a trajetória até a força que será aplicada à bola, tudo é matemática?, considera Juarez. Segundo ele, a observação, aliada ao poder de concentração do jogador, também é fator que contribui para um bom desempenho. Perfil O perfil dos jogadores também denuncia outra característica da sinuca. Na periferia ele atrai muitos jovens e aposentados. Já na litoral, onde a classe média é maioria, os jogadores oscilam, mas em sua maioria são pessoas de meia idade. Ainda assim os jovens começam a ocupar e a conquistar seu espaço no salão. Os freqüentadores do Snooker, único espaço profissional de sinuca, têm profissões variadas. São médicos, advogados, engenheiros e professores, que ajudam a distanciar a imagem clássica da malandragem, que durante anos foi a marca do jogo. ?Cada vez mais a sinuca se consolida como esporte de salão e afasta a idéia de que é jogo de malandro. Os meus clientes, por exemplo, têm um nível muito bom?, avalia Juarez. Os dias preferidos destes praticantes são as quintas e as sextas-feiras à noite. ### AL tem atletas no ranking nacional A sinuca alagoana não está organizada como na maioria dos estados. Aqui a tentativa de organização de uma federação esbarrou na falta de apoio financeiro. A ausência de patrocínio não impediu que o Estado produzisse campeões. Pelo menos dois atletas têm projeção nacional. O que está em melhor situação no ranking nacional é o alagoano Josivaldo dos Santos, o Coentro. Ele é um dos que têm uma história surpreendente. O apelido é da época em que vivia da venda de coentro no interior. Hoje ele mora em São Paulo e participa de competições nacionais, sendo mantido com salário fornecido pelos patrocinadores e prêmios conquistados em campeonatos. O seu melhor resultado foi obtido no campeonato sul-americano, quando se sagrou campeão. Um outro destaque alagoano é Wilson Alves, o Wilson Preto. Ele também compete em nível profissional e está registrado pela federação baiana. No final do mês, no Recife, será realizado mais um campeonato reunindo os melhores atletas das regiões Norte e Nordeste. Alagoas também já sediou esta competição. Juarez Alves foi o organizador. ?Realizamos com a cara e a coragem, já que só conseguimos um patrocinador?, explica, confirmando que vai representar Alagoas em Pernambuco. Por causa do nível de organização no Brasil e no mundo, a sinuca pode virar esporte olímpico. A única pendência é a definição das regras, já que os europeus jogam com regras diferentes das utilizadas nos Estados Unidos. Futuro Enquanto as olimpíadas não vêm, os adeptos da sinuca em Alagoas já podem pensar no futuro. É que a procura pelo esporte, mesmo com a falta de espaços profissionais, está aumentando. Um exemplo é o atleta Paulo Henrique Aguiar Ribeiro Pedrosa, 21. Depois de acompanhar o pai em alguns salões ele tomou gosto pelo jogo e hoje já compete. ?Comecei como todos, ou seja, na brincadeira. Isso foi há três anos, quando acompanhava grupo de amigos. Agora já estou competindo?, conta. Quem também já segue os passos do pai é o adolescente Júlio Paulo Teixeira, 14. Desde que conheceu o mundo da sinuca, ele se divide entre os jogos eletrônicos e o salão de sinuca. ?Adoro os jogos eletrônicos, mas a sinuca oferece algo diferente, como a concentração?, disse Júlio, confessando que ensina o que aprendeu aos amigos. ### Preço de mesa pode chegar a R$ 7 mil A manutenção dos locais de jogos também é diferenciada. Nos bares da periferia o cuidado com os equipamentos (bolas, mesa e tacos), nem sempre é a prioridade de quem aluga as mesas. A dimensão das mesas é uma outra característica. Enquanto as dos barzinhos medem 2m x 1,10m, as profissionais têm entre 2,84m e 2,67m de cumprimento. Os custos demonstram que além da paixão os donos de salão têm que ter disposição para gastar. Uma mesa profissional, por exemplo, custa R$ 7 mil. Atualmente apenas as três do Snooker estão à disposição do público. O pano verde, característico das mesas, não sai por menos de R$ 1 mil. No ?Bola da Vez?, uma hora de jogo custa R$ 5,50. Para uma partida completa, o ideal é a participação de quatro jogadores. Atletas Se no passado era impossível chamar os praticantes de sinuca de atletas, a realidade mudou. Hoje, nos grandes centros eles contam com técnico e até preparador físico. A profissionalização também já é uma realidade. Em São Paulo existem atletas, inclusive um alagoano, que vivem de patrocínios conseguidos com a prática da sinuca. Para quem já se encontra com o nível de competição os custos são elevados, mas compensados pelo resultado. Um taco inglês custa em média R$ 1.300,00. Segundo os adeptos ele é mais leve e feito com uma madeira que não se deforma com o tempo. O detalhe fica por conta de uma rosca que permite que ele se divida ao meio para ser guardado num estojo personalizado. Os mais perfeccionistas usam uma luva na mão de apoio para o taco. Até as bolas têm uma atenção especial. As consideradas ideais para os jogadores de nível de competição são importadas da Bélgica. Todo o material é importado e adquirido em São Paulo. Os valores, entretanto, não devem ser considerados obstáculos para os interessados e curiosos. ?No final o que vale mesmo é a brincadeira?, conclui Juarez.|MR