loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
sexta-feira, 21/03/2025 | Ano | Nº 5928
Maceió, AL
27° Tempo
Home > Cidades

Cidades

Fazendeiros e MLST se enfrentam em invas�o de terras

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

MARCOS RODRIGUES Repórter Branquinha - A ocupação da Fazenda Nascente do Mundaú, antiga Fazenda Nicho, no município de Branquinha, a 69km de Maceió, foi marcada, na madrugada de ontem, por um confronto de trabalhadores rurais sem-terra e o fazendeiro Antônio dos Santos, que se apresentou como proprietário da área de 220 hectares. Ao todo 84 famílias do Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST) estão no local em fase de montagem do acampamento. Eles afirmam que a terra é improdutiva. Segundo os trabalhadores, os fazendeiros da região estão se armando para enfrentar os sem-terra e impedirem futuras ocupações. A denúncia foi feita pelo coordenador do MLST, Cosme José da Silva. “Digo isso porque a pessoa que se diz dona desta fazenda depois de nos ameaçar com facão e arma voltou com outros fazendeiros e ficou nos observando à distância”, revelou Cosme. Ele conta que por volta das 8h30 o fazendeiro Antônio dos Santos chegou ao acampamento em sua camihoneta Hilux, de cor prata (MUE 1217), acompanhado por dois seguranças armados e ameaçou os trabalhadores. “Ele desceu do carro e já veio para cima dos trabalhadores de posse de um facão e começou a derrubar as primeiras barracas. Pelo menos duas pessoas chegaram a ser ameaçadas diretamente por ele”, disse Cosme. Ele acrescentou que Antônio da Silva disse em “alto e bom som” que voltaria para a fazenda hoje (ontem à noite) para retirá-los do local. Após as primeiras ameaças o fazendeiro deixou a área retornando uma hora depois com outros homens. Refém Mas, no segundo contato com as famílias do MLST, Antônio dos Santos teve o seu carro cercado e foi rendido pelos trabalhadores rurais. O fazendeiro ficou em cárcere privado, numa das barracas do acampamento, por pelo menos cinco horas, quando foi libertado depois de uma negociação mediada pelo Centro de Gerenciamentos de Crises da PM. Depois da liberação, o fazendeiro e cinco sem-terra foram para a Delegacia Regional de União dos Palmares. Lá foram ouvidos pelo delegado plantonista Eronilde Lopes Sampaio. O delegado ouviu as duas partes e optou por fazer um termo circunstanciado sobre o fato, que será remetido à Justiça. “Tomamos por termo as declarações dos trabalhadores e do fazendeiro para registrar o fato. Agora é a Justiça quem vai decidir sobre o caso”, disse o delegado. Indagado sobre se a polícia tem informações de que os fazendeiros da região estão se armando, ele disse que isso não foi discutido. ### Proprietário se diz vítima de agressões O fazendeiro Antonio dos Santos negou todas as acusações feitas pelos trabalhadores sem-terra. Na Delegacia de União dos Palmares ele disse que foi agredido pelos trabalhadores e que sua fazenda não é improdutiva. “Fui até a fazenda depois que fui comunicado da presença dos sem-terra. Assim que cheguei tive o meu carro cercado por homens, mulheres e até crianças. Todos estavam com facões e foices. Eles me agrediram, me deixaram como refém e me deram uma paulada”, contou Antônio dos Santos. Quanto à agressão ele foi orientado por seu advogado para realizar exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), em Maceió. “Quero deixar tudo isso registrado. O que fizeram comigo foi uma coisa absurda. Sequer me deixaram falar e partiram logo para a agressão. Eu não estava armado”, acrescentou Antônio. Segundo o fazendeiro a Fazenda Nicho foi vendida para pagamento de dívidas. Mas foi adquirida por ele e passou a se chamar Nascente do Mundaú. Antônio conta que tem toda a documentação que comprova a aquisição da área. “Além disso ela não é improdutiva. Eu tenho bois e planto pasto para a minha criação. Agora, do jeito que a coisa está serão os fazendeiros que ficarão sem terra”, disse Antônio, negando que tenha ido ao encontro dos sem-terra armado ou feito ameaças. Justiça O advogado de Antônio, Paulo Fragoso, disse que a reintegração da posse será encaminhada à Justiça ainda esta semana. “Iremos realizar o pedido dentro do que diz a lei sem nenhum tipo de violência e como manda o figurino”, argumentou Fragoso, evitando especulações sobre uma possível reação de seu cliente à ação dos trabalhadores. Fragoso acrescentou que ficou impressionado com a ação dos sem-terra que não libertaram Antônio, mesmo com a chegada do policiais militares do Batalhão de Branquinha. “Era uma situação clara de cárcere privado que naturalmente também argumentaremos”, frisou Paulo. Informações O representante do Incra, Valdvan Raimundo dos Santos, até o final da tarde de ontem não tinha informações sobre a situação jurídica da fazenda. “Sabemos que há sim fazendas que estão com suas terras disponíveis para pagamento de dívidas junto ao INSS. Se for esse o caso será mais fácil a disponibilidade da fazenda para fins de reforma agrária”, explicou Valdivan. Ele foi um dos primeiros a chegar na fazenda ontem pela manhã. Ao notar que a situação estava fora do controle, acionou os militares do Centro de Gerenciamento de Crises da PM. Enquanto o impasse entre fazendeiro e sem-terra continua, as famílias do movimento já decidiram o que farão na área da fazenda. A partir de hoje a terra será preparada para o plantio de milho, feijão e hortaliças. Ontem mesmo as primeiras sementes já haviam chegado ao acampamento.|MR

Relacionadas