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Alagoana estuda soro contra niquim

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FÁBIA ASSUMPÇÃO Repórter O Instituto Butantan, em São Paulo, desenvolve pesquisas para colocar no mercado um soro que neutralize o veneno de peixes peçonhentos, como niquim e o bagre. A previsão é que o soro leve cerca de um ano para começar a ser usado em clínicas. Isso porque depende da avaliação e autorização de um comitê médico. E precisará de mais dois anos para se tornar um soro comercial. A produção é fruto de estudos feitos pela bióloga alagoana Mônica Lopes Ferreira. Os estudos com o peixe niquim começaram em 1996, a partir da tese de mestrado de Mônica, que hoje coordena os estudos sobre peixes peçonhentos no Butantan. Embora os peixes sejam de espécies diferentes, o soro para niquim se mostrou eficiente contra os efeitos causados pelo Thalassophryne macula - nome científico do niquim. ?É um peixe que não mata, mas pode aleijar?, explica a bióloga, que conta com apoio de médicos alagoanos em sua pesquisa. Um deles é o dermatologista Luís Alberto Fonseca. A bióloga ressalta que não é possível saber exatamente qual a incidência de ferimentos causados pelo niquim no Brasil, uma vez que os médicos não costumam registrar acidentes com peixes. ?As pessoas estão muito voltadas a acidentes com cobras, aranhas e escorpiões, mas esquecem do mundo aquático?. Ela lembra que só o médico Luís Alberto Fonseca, professor de Dermatologia da Escola de Ciências Médicas de Alagoas atende 70 pacientes feridos por niquim em seu consultório. O veneno para pesquisa da produção do soro é obtido a partir de peixes coletados em Maceió. Para cada experimento são usados cerca de 30 peixes, coletados pelos pescadores na Lagoa Mundaú. Após a captura do peixe é feita a extração da peçonha, determinando-se suas atividades nociccpetivas, edematogênicas e necrosantes. Em coelhos, o soro antiveneno obtido pela imunização dos coelhos foi capaz de neutralizar as atividades dolosas e necrosantes. Segundo alguns especialistas, no caso de contato com peixes venenosos, como niquim, o ideal é banhar ou mergulhar a área machucada em água quente por 30 a 90 minutos. HABITAT O niquim vive, principalmente, em águas salobras, comum em regiões onde há encontro de águas marítimas e fluviais, como é o caso do Pontal da Barra. Tem aproximadamente 15 centímentros de comprimento, é mais largo na altura das nadadeiras peitorais, mais fino na parte de trás e não tem escamas, mas é coberto por muco. Costuma enterrar parte do corpo na areia, em águas rasas e é bastante resistente. Chega a ficar de oito a 12 horas fora da água. Por sua coloração acinzentada, é comum ser confundido com a areia. Possui dois espinhos na região dorsal e um em cada lateral, recobertos por uma glândula de veneno. Esses espinhos são vazados e quando o peixe sofre pressão, como por exemplo no momento em que é pisado por um pescador, a glândula desce e o veneno é liberado pelo espinho. O tratamento usado hoje para aliviar a dor provocada pelo veneno do niquim é por meio de antiinflamatórios e antibióticos, mas o edema persiste por algum tempo. ### No Pontal, peixe é temido por pescador Andando pelas ruas do bairro do Pontal da Barra, não é difícil encontrar histórias de pescadores que foram vítimas do veneno do niquim, também conhecido como peixe-sapo. O peixe, muito comum na Lagoa Mundaú, principalmente na região do Pontal da Barra, tem no veneno a principal arma de defesa, que provoca dores violentas por quase 24 horas, além de edemas e necrose nos membros afetados. O niquim expele o veneno - um líquido esbranquiçado - por meio de espinhos, dois localizados na área dorsal e um em cada lateral do peixe. Ficou conhecido como peixe-sapo, por sua cabeça avolumada e rabo alongado - o que lembra um girino. Ele se esconde sobre a areia. Ao ser pisado ou quando algum incauto tenta apanhá-lo com as mãos, incha e solta o veneno por meio de seus espinhos. Foi o que ocorreu com o pescador Antônio Braga, 61, que aos 12 anos de idade teve um dos dedos do pé ferido pelo espinho do niquim. Apesar da dor forte que sentiu, o pescador não se medicou, já que não era fácil encontrar remédios naquela época. ?A dor é tão grande que é de ficar 24 horas com a mão na cabeça. Passei dois dias sentindo dor e o pé ficou todo inchado?. A falta de medicamentos para anular os efeitos do veneno, no momento do ataque do peixe, provocou uma necrose no dedo, que por pouco não foi amputado. ?Já levei pelo menos mais 10 picadas do niquim?, diz o pescador. ?Ainda hoje, nos dias de força da lua eu sinto muita dor?. O pescador Cícero Cândido da Silva, 54, conta que também foi ferido pelo ?esporão? do niquim, há cerca de 30 anos. Num dos dedos da mão ele traz ainda a marca do ferimento causado pelo espinho do peixe. ?Foi 24 horas de dor e a única coisa que coloquei foi um vinagre e um ovo quente, que era o que as pessoas ensinavam na época?. Marcos Anselmo também sentiu na pele a dor provocada pelo veneno do niquim. Desempregado, ele ganha a vida, pescando na Lagoa Mundaú. Para aliviar a dor, quando foi ferido por um niquim, há mais de um ano, a única coisa que fez foi tomar ?cachaça?. Hoje, ele ainda tem na mão, perto do dedo mínimo, a marca do ferimento. |FAS

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