Cidades
AL tem 1 milh�o de habitantes sob risco

FÁBIA ASSUMPÇÃO IVAN NUNES Repórteres Cerca de um milhão de pessoas em Alagoas - entre seus 2,7 milhões de habitantes - o equivalente a 37% da população do Estado, está sob risco de contrair a esquistossomose. O alerta é da própria Secretaria de Saúde de Estado de Alagoas (Sesau), que criou uma força-tarefa na tentativa de impedir a expansão do surto. A secretária de Saúde Kátia Born admitiu que a situação é bastante grave. Segundo ela, um processo de avaliação do quadro da doença no Estado, feito pelos técnicos da Vigilância Epidemiológica, apontou para a gravidade do problema. A Secretaria de Saúde não consegue resolver esse problema sozinha, reconheceu a secretária. Pelo menos 70 municípios situados nas regiões do Agreste, Zona da Mata e Litoral são considerados áreas endêmicas da doença. A situação é mais grave no município de Santana do Mundaú, a 100 quilômetros de Maceió, onde uma criança de 10 anos morreu, há um mês, com hemorragia digestiva, forma mais grave da esquistossomose. A coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Santana do Mundaú, Rita Bittencourt, alertou que um inquérito epidemiológico feito no município mostrou que em algumas áreas 70% das pessoas estão infectadas pela doença transmitida pelo caramujo de rio. E o mais grave é que a maioria das vítimas é formada por crianças, que apresentam um quadro mais avançado da doença. A força-tarefa, definida ontem em reunião com o governador em exercício, Luiz Abílio, será formada por técnicos das secretarias de Saúde e Infra-Estrutura; Instituto do Meio Ambiente e Casal. ### Saúde mapeia as áreas mais infectadas Algumas áreas foram consideradas prioritárias para o Plano Emergencial contra o surto de esquistossomose e para o controle da doença montado pela Sesau. Onze deles ficam no Vale do Paraíba (Atalaia, Cajueiro, Capela, Chã Preta, Coqueiro, Marechal Deodoro, Paulo Jacinto, Pilar, Pindoba, Quebrangulo e Viçosa), que reúne uma população de mais de 186 mil pessoas. Oito ficam na Bacia do Mundaú (Branquinha, Ibateguara, Murici, Rio Largo, Santa Luzia do Norte, Santana do Mundaú, São José da Laje e União dos Palmares), correspondente a uma população de mais de 240 mil pessoas. Um dos poucos municípios onde a doença está sob controle é Maceió. A secretária Kátia Born salientou que a Sesau vem investindo no trabalho de diagnóstico e tratamento, mas admitiu que a doença é fruto da falta de investimentos em áreas como de coleta e tratamento de dejetos; abastecimento de água e e eliminação de criadouros de caramujos. A esquistossomose é uma infecção causada por um verme parasita, o Schistosoma mansoni, a partir da infecção das vítimas pelas fezes e urinas do caramujo de rio e se manifesta alojando-se nas veias do intestino e do fígado, causando a obstrução nas veias e em casos mais crônicos podendo levar à morte. A esquistossomose é considerada uma doença da miséria. ### Rio Mundaú: fonte de sobrevivência preocupa Santana do Mundaú - O Rio Mundaú, uma das principais fontes de sobrevivência da região da zona da mata alagoana, através da pesca artesanal, hoje é motivo de grande preocupação: a endêmica esquistossomose. O alarme foi disparado na cidade depois da constatação do primeiro caso fatal que teve como vítima a filha de um casal de agricultores, conta a coordenadora municipal de Saúde, Rita Bitencourt. Exames recentes em 919 pessoas apontaram que 616 delas estavam infectadas pelo esquistossoma do caramujo, que é pego depois que as pessoas usam água sem tratamento ou tomam banho em açudes e rios, nas áreas de balneabilidade, onde nos fins de semana famílias buscam diversão nos rios e açudes. A estrutura do Programa de Saúde da Família no município é precária: três equipes para uma população de 11,2 mil moradores. Na próxima sexta-feira, chega à cidade o gerente nacional de Controle da Esquistossomose do Ministério da Saúde, Ronaldo Santos, que virá de Brasília especificamente para acompanhar de perto essa situação. Ele vai anunciar um projeto piloto de controle da doença em Alagoas, no município de Santana do Mundaú.