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Alunos passam fome no Agreste de AL

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MAIKEL MARQUES Repórter Igreja Nova e Feira Grande - Os mais de 4.800 alunos, matriculados nas escolas de Igreja Nova, não merendam desde a detenção do prefeito Neiwton Silva, suspeito de envolvimento com a quadrilha acusada de desviar recursos da Educação. “A agonia é grande. Há muito tempo as crianças estão sem comer na hora do recreio”, confessa o professor Rosevaldo dos Santos, diretor da Escola 31 de Março, no povoado Quaresma. A ausência da alimentação na escola, situada em comunidade carente, já afugenta crianças da sala de aula. “Eles não agüentam a fome e vão embora mais cedo. Sentem dificuldade no aprendizado”, diz o diretor. A reportagem da Gazeta visitou a escola na manhã da última quarta-feira e presenciou um grupo de crianças dividindo um pacote de pipoca. “É melhor do que ficar com fome”, explicou um garoto da 2º série. Pipoca e lucro “A falta de merenda aumenta meu lucro. Faturo até R$ 10 reais por dia”, atesta Dileuza Maria Silva (53), vendedora de doces e salgados em carrinho estacionado diante da escola. Quando enjoam da pipoca, os alunos praticam a solidariedade: dividem frutas colhidas em terrenos da região. O alimento improvisado não sustenta a criançada. A primeira conseqüência negativa é a evasão escolar. “Sem merenda, não temos como segurar a criança na sala de aula”, avisa o diretor. O professor Bento Ferreira Filho, presidente do Conselho de Alimentação Escolar, confirma a falta do alimento nas 42 escolas do município. “A merenda acabou no final de maio”, explicou o professor, que falou à Gazeta ao lado do prefeito interino, José Borges (PSB), e do secretário de finanças Márcio Peixoto, nomeado pelo próprio Neiwton Silva. “Os estoques das escolas só chegaram ao fim com o episódio [prisão] envolvendo o prefeito Neiwton Silva”, explicou Márcio Peixoto. Ao contrário de Feira Grande, onde não há previsão de compra de merenda, o novo prefeito de Igreja Nova mostrou a papelada do processo licitatório para compra da merenda que será fornecida às escolas a partir do dia 18 de julho. José Borges também garantiu fornecer alimentação para as crianças até o próximo dia 5 de julho. “Essa compra emergencial vai custar R$ 7 mil reais”, explica. O município de Igreja Nova já recebeu do governo federal os R$ 16 mil para compra da merenda de julho. Como “o valor é insuficiente”, o secretário de Finanças promete complementar a verba para garantir alimentação da criançada. Panelas vazias” “Hoje só tem água na panela. Não vejo a cor da merenda faz tempo. As panelas estão aí, ó, vazias”, confessa uma das merendeiras da Escola Antônio Bispo, no povoado Massapê, em Feira Grande. A merendeira deveria preparar a alimentação de 350, mas cumpre sua jornada de trabalho sem nada produzir. Quem ratifica o testemunho da merendeira é o próprio diretor da escola, Valdemar Rodrigues de Oliveira. “As crianças estão famintas. Fizeram poucas refeições este ano. A única remessa de merenda acabou em quatro dias. O coitado do fubá virou cuscuz que foi consumido num único dia”, confessou o diretor da escola. ### Merenda nas escolas só em 30 longos dias A Prefeitura de Feira Grande não tem “um vintém” para comprar merenda e alimentar as 5.500 crianças matriculadas na rede municipal. “A verba da merenda está bloqueada. Não há recurso federal para comprar merenda. O cofre está vazio”, explica o agricultor e vice-prefeito Admir José da Silva. Ele assumiu o comando do município 15 dias depois da prisão do titular do cargo, Fábio Apóstolo de Lira, que saiu de casa algemado pela PF no dia 17 de maio. Questionado sobre a falta de merenda, Ademir não vacila: “defende” o prefeito preso e culpa o antecessor, Almir Lira, pela inserção do município no cadastro de inadimplentes da união, o Cadim. “Desde o final da gestão dele [Almir Lira] que o município sofreu bloqueio dos recursos de inúmeros convênios celebrados com o governo federal”, explica. Para não prolongar o sofrimento das crianças famintas, Ademir promete “esforço” para deslocar recursos de outras secretarias e, dessa forma, investir em merenda. 30 dias de fome A previsão mais otimista do prefeito é comprar merenda dentro de 30 dias. “Faremos o possível”, avisou o prefeito tampão, que fica no cargo até 1º de setembro. Até lá, promete não mexer nos secretários indicados e ainda comandados pela família do prefeito preso. “Estava na roça e não fazia parte de sua administração. Ficarei 90 dias no cargo”, explicou. O prefeito também tenta renegociar pendência de R$ 6 milhões do município para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O objetivo da medida é impedir, por exemplo, o confisco de parte da verba do Fundo de Participação do Município (FPM), principal fonte de receita da cidade e sustentáculo maior do funcionalismo e da família que está no poder. A situação de penúria das 350 crianças matriculadas na escola do povoado Massapê é a mesma das mais de 5 mil crianças matriculadas em mais 33 unidades de ensino espalhadas pelo município agrestino. “De fato, não há merenda nas escolas. Recebemos e distribuímos a primeira e última remessa de 2005 no mês de maio”, confirma Maria Alencar, diretora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação. Questionadas sobre o porquê de não haver merenda nas escolas do município, Maria Alencar e suas colegas de trabalho dizem não ter explicação sobre o porquê da falta de merenda. “Nossa função é receber e distribuir a alimentação. Assim o fizemos quando havia o que distribuir”. ### Em Craíbas, merenda é fiscalizada O município de Craíbas recebe do governo federal verba de R$ 23 mil e 700 reais para alimentar os 7. 430 alunos matriculados em suas 33 escolas. O dinheiro é considerado insuficiente, mas o município garante merenda diária com complemento que pode chegar até R$ 2 mil por mês. A compra e distribuição da merenda não é problema na cidade por uma razão muito simples: os integrantes do conselho de alimentação escolar estão ligados politicamente ao grupo de oposição à administração municipal. “Cumprimos com nossa obrigação. O fato de a oposição fiscalizar a compra e distribuição do alimento faz com que não falte merenda nas escolas”, explica José Noé de Oliveira, vice-prefeito e secretário municipal de Educação. “Eles fiscalizam e determinam o cardápio. Nossa função é comprar a alimentação”, completa o secretário. Arapiraca O programa de alimentação Escolar da Prefeitura de Arapiraca atende mais de 33 mil alunos. Dados da Secretaria Municipal de Educação indicam que o município fornece 600 mil refeições por mês aos alunos da pré-escola e ensino fundamental. Os alunos matriculados, nas creches, consomem 103 mil refeições por mês. O cardápio também é diversificado e segue determinações de uma nutricionista. Os técnicos que trabalham na execução do programa acreditam que o envolvimento da sociedade no Conselho de Alimentação Escolar contribui para a regularidade do programa. A aquisição da merenda, em Arapiraca, se dá através de processo licitatório. Exceção O Peti de Feira Grande recebe mensalmente R$ 3.700 para alimentar as suas 265 crianças e é uma exceção à regra na região do agreste de Alagoas. Os professores administram e fiscalizam a verba do governo federal. Economizam e evitam o desperdício. Resultado: mesa farta todos os dias. “Se tivéssemos pelo menos 10 pacotes de fubá e alguns litros de leite, por cada turno, as crianças não ficariam com fome”, explica o diretor Valdemar Rodrigues, da Escola Antônio Bispo.

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