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Nº 5759
Cidades

Moxot� perenizado esnoba sertanejos alagoanos

ROBERTO VILANOVA Mata Grande (AL) e Inajá (PE) - O Rio Moxotó, que já foi periódico, agora tem água o ano inteiro, mas o que deveria ser a solução para os agricultores alagoanos – água para irrigar a lavoura, virou pesadelo com o desperdício causado p

Por | Edição do dia 05/05/2002 - Matéria atualizada em 05/05/2002 às 00h00

ROBERTO VILANOVA Mata Grande (AL) e Inajá (PE) - O Rio Moxotó, que já foi periódico, agora tem água o ano inteiro, mas o que deveria ser a solução para os agricultores alagoanos – água para irrigar a lavoura, virou pesadelo com o desperdício causado pela evaporação. Não há projetos de irrigação  e o agricultor que tentou fazê-lo por conta própria esbarrou na falta de crédito e no custo da energia elétrica, à base de4 reais o metro cúbico. O geólogo e professor da Universidade Federal de Alagoas – Ufal - José Santino de Assis, chamou a atenção também para a grande concentração de água no subsolo. Apesar da região árida e desertificada, o professor informou que a reserva d’agua no subsolo do semi-árido entre a cidade alagoana de Mata Grande e Inajá, em Pernambuco, é promissora. “A cidade de Inajá, com cinco mil habitantes, é abastecida com água de poços, ou seja, subterrâneas”, destacou. Problema No povoado de Poço Branco, o mais avançado de Alagoas e o último na divisa do extremo oeste, a ação benéfica do homem, que perenizou o Moxotó, e a natureza, são responsáveis por verdadeiros milagres – a cultura irrigada de subsistência. A produção é ínfima, não entra na formação do Produto Interno Bruto – PIB- alagoano, mas a prova de que a região poderia ser um celeiro agrícola está no posto fiscal da Secretaria da Fazenda, que foi desativado, mas já funcionou até o final da década de 1980. “A gente produzia feijão e milho, a produção era levada para Arcoverde e Petrolândia, mas os custos foram aumentando, aí eu desliguei a bomba”, disse o agricultor João Ferro, que mora em Inajá, mas tem uma propriedade do lado alagoano. Os problemas enfrentados por ele são comuns aos demais agricultores. Antes, João Ferro conseguiu dinheiro com o Projeto Sertanejo, financiado pelo Banco do Nordeste, “dinheiro praticamente a fundo perdido”, reconheceu, referindo-se ao longo prazo para pagamento e aos juros ínfimos do projeto lançado durante os governos militares. João Ferro sente saudade da época. “Quem não sente, comparando com a realidade de hoje. Quem pegar dinheiro emprestado, hoje, ou é doido ou vai dar calote”. Desperdício O Moxotó tornou-se perene depois que a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene – já extinta, mandou construir várias barragens no trajeto mais crítico, ou seja, onde o rio estava mais degradado. A água represada formou várias lagoas, mas em nenhum deles existe projeto de irrigação pública – só existe do lado de Pernambuco. O professor José Santino lembra que a região sofre a influência das massas de ar vindas do Amazônia – é por isso que a população assiste à programação da televisão gerada a partir de Goiás ou do Amazonas. Essas correntes de ar tanto trazem os sinais de televisão e o vento do Norte, como levam as nuvens, fazendo-as se precipitar como chuva numa região onde a precipitação pluviométrica é elevada. Morrendo de sede à beira do rio cheio Mata Grande – Dona Maria José, nove filhos, poderia ser personagem de Vidas Secas (Graciliano Ramos) ou de O Quinze (Raquel de Queiroz) para comprovar que a ficção ainda se  confunde com a realidade  no semi-árido alagoano.  Ela anda uma légua e meia todos os dias para garantir a água que consome, com a qual cozinha e se banha. A personagem da vida real mora a menos de 20 quilômetros da beira do Moxotó, que tem água em abundância, mas, do lado alagoano, serve apenas à evaporação. Dona Maria se abastece na barragem do seu Noca, comerciante conhecido em Mata Grande (pai do delegado de polícia Valdor Coimbra Lou), que lhe facilita a vida e dos vizinhos. Enquanto a barragem estiver cheia, dona Maria tem água garantida. Dificilmente a água do Moxotó vai chegar até ela – o projeto é considerado caro, por causa das elevações do terreno. Dona Maria, resignada, pensou em se mudar para Inajá ou Tacaratu, mas desistiu porque os lotes irrigados no semi-árido pernambucano só beneficiaram os nativos. “Eles nem aceitaram a inscrição”.

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