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Solit�rios se unem e afastam depress�o

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CARLA SERQUEIRA Repórter O fim da solidão pode estar nas páginas dos jornais, na seção classificados. O I Encontro Alagoano de Solitários já foi anunciado e deve acontecer no final deste mês, no Clube Alagoinha, na Ponta Verde. A iniciativa é de Sara Maia, viúva duas vezes, separada uma e dona de uma vaidade que a impediu de revelar a idade. Em 1995, quando descobriu a traição de seu último companheiro, Sara sofreu por dois anos. Não acostumava com a solidão. Um certo dia, resolveu dar a volta por cima e ligou para um jornal impresso. Nos classificados propôs um encontro com pessoas que também viviam sozinhas. “Sabia que como eu, muita gente sofria com a solidão. Então resolvi me juntar a elas”, lembra. Perda conjugal E durante 10 anos, Sara Maia foi o remédio para muita gente. Cerca de 150 pessoas atenderam ao seu chamado. São homens e, principalmente, mulheres viúvas, divorciadas ou que sofreram com qualquer outro tipo de perda conjugal. Dois grupos se formaram e, quinzenalmente, se encontram em sua casa, no Poço. “Recebo muitas ligações. São pessoas que perderam a alegria e lutam para encontrá-la na companhia de outras”, afirma, explicando que faz tudo gratuitamente. “Estou sempre estudando os segredos da espiritualidade. Tem gente que vem aqui só para conversar e ouvir meus conselhos”. Ela também é admiradora do misticismo e estuda a história dos anjos e dos cristais. A pintura também lhe faz companhia. Dos encontros, alguns saem namorados e outros, casados. O objetivo, além de desenvolver uma dinâmica de grupo com leitura de mensagens, música, dança e até um licorzinho, é fazer com que as pessoas se conheçam e possam, de novo, apostar numa nova relação. Atraídas pela idéia, pessoas de Arapiraca, União dos Palmares e até paulistas já participaram das reuniões. A comerciante Raquel Souza tem 50 anos. Depois de 18 de casada foi traída pelo esposo e amargou mais de 15 anos em depressão. “Até o dia em que li nos classificados sobre os encontros de solitários”, diz ela. “Fiquei meio cabreira no começo, mas depois fui me soltando. Foi lá que conheci meu atual marido”, relatou, feliz, lembrando do primeiro encontro com Joel Barbosa. “Já tem mais de cinco anos que estamos juntos”, comemora. Sara afirma que, pelo menos, oito casais hoje vivem juntos depois de terem se conhecido nos encontros que realiza. “Me sinto muito feliz de ter proporcionado essas uniões”, comemora. Sinceridade é o que vale Mas participar dos encontros não é tão simples como parece. A organizadora Sara Maia gosta de averiguar de perto as pessoas que se mostram interessadas. Quando recebe ligações, costuma travar uma longa conversa para conhecer a pessoa a fundo. Para ela, a sinceridade é fundamental. “Já descobri um senhor que queria participar do grupo e era casado”, justifica. “Quem estiver interessado, vem a minha casa e preenche um formulário, deixando, inclusive, uma foto”, relata. “É preciso responder algumas questões como: o que levou a querer entrar no grupo e o tipo de homem ou mulher que deseja encontrar”, conta. “Virei quase uma agência de casamentos”, diz, entre risos. Depois, ela mesma analisa quem poderia se interessar por quem e convida primeiro a mulher para conferir os dados masculinos. “Não sei explicar a preferência. Acho que as mulheres são mais sinceras na escolha”, argumenta. “A maioria dos homens fixa mais nas características físicas”. Caso haja interesse, Sara entra em contato com o pretendente. “Aí, se eles toparem, marcam encontros a sós, em bares ou sorveterias da cidade”. Ser social Na opinião do psicólogo Afonso Lisboa, Sara acertou em cheio quando se solidarizou com outras pessoas para se livrar da solidão. “O homem é um ser social e não está preparado para viver sozinho”, afirma, “e quando isso ocorre, o organismo também sofre”, diz ele, explicando que a solidão é conseqüência do crescimento das cidades, “principalmente, nas grandes metrópoles, onde as pessoas estão perdendo mais rápido o costume de compartilhar o cotidiano com as outras, tornando-se mais propensas ao grande mal que a solidão provoca à saúde: a depressão”. De acordo com o psicólogo, a depressão tem níveis variados e vai desde o baixo-astral até a depreciação grave da auto-estima. “Tem gente que deixa de tomar banho, de trocar de roupa e até de comer. E se não for tratada adequadamente, a depressão pode matar”, avisa, explicando que boa parte dos suicídios está ligada ao estado depressivo da vítima. “A depressão pode ainda causar problemas cardiovasculares, como o infarto e o derrame, além de intensificar as doenças psicossomáticas, como o diabetes”. E para afastar a depressão, uma boa caminhada pode ser eficaz. “Exercícios físicos ou qualquer atividade em grupo, como cantar num coral, por exemplo, são recursos antidepressivos e, geralmente, produz resultados significativos no tratamento da doença”, afirma Lisboa, parabenizando a iniciativa da Sara. “Este grupo é muito interessante e, com certeza, está distanciando os participantes da depressão, já que reúne pessoas que sofreram com situações traumáticas, como a perda da esposa ou do marido”, conclui.

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