Alagoanos se rendem ao mercado de segunda m�o

| FÁBIA ASSUMPÇÃO Repórter O comerciante Manoel Francisco Gomes tinha pressa em comprar as prateleiras e gôndolas para montar a padaria nova. Mas, com pouco dinheiro no bolso, o jeito foi comprar tudo de segunda mão. Ele passou a semana pesquisando preços em lojas de móveis usados no Centro. Segundo Manoel Francisco, o preço das mercadorias usadas sai muito mais em conta do que comprando uma nova. As gôndolas e prateleiras de que precisava, por exemplo, novas ele não encontraria por menos de R$ 120,00. Numa loja de móveis usados na Rua Augusta, ele conseguiu encontrá-las por R$ 75,00, embora necessitassem de alguns reparos por causa da ferrugem. Assim como o comerciante Manoel Francisco, é grande o número de pessoas que recorre ao mercado de usados para adquirir mercadoria que julgam indispensáveis. Pode-se comprar de tudo no mercado de usados, desde artigos de vestuário - como roupas e sapatos, até computadores e carros. Hoje, até pela Internet é possível encontrar sites especializados na venda de usados. A principal vantagem para quem optar por comprar mercadorias de segunda mão é o preço, embora, na maioria das vezes, esse tipo de mercadoria só possa ser comprada à vista. Há 15 anos no mercado de usados, Francisco Correia Amorim reconhece que, com as facilidade de crédito oferecidas pelas lojas de móveis e eletrodomésticos, o setor enfrenta algumas dificuldades. “O mercado de usados caiu muito de um ano para cá. Além da queda do poder aquisitivo, as condições que o comércio está oferecendo fazem com que muitas pessoas prefiram comprar um produto novo”. Mesmo assim, ele afirma que o mercado de usados ainda oferece suas vantagens. Uma geladeira nova, por exemplo, que não sai numa loja por menos de R$ 1 mil, pode ser comprada por R$ 400,00 no mercado de usados. Um freegobar de 120 litros estava sendo vendido a R$ 300,00. Na loja, um novo de apenas 80 litros, não sai por menos de R$ 649,00. Para fazer um comparativo de preços, Francisco tem sempre em mãos os folhetos de propaganda distribuídos pelas lojas de eletrodomésticos. O comerciante disse que sua clientela é constituída, em sua maioria, de pessoas de classe média baixa, que tem orçamento apertado. Experiente, Francisco disse que não vale a pena vender alguns equipamentos, como cofres de tamanho grande e fogões industriais, que sempre acabam encalhados. Já produtos como fogão de quatro bocas, TV de 14 polegadas, mesas redondas e sofás têm sempre uma boa procura. Produtos de escritórios também têm boa saída. “Material de escritório e eletrodomésticos são os mais vendidos”. No mercado há um bom tempo, o comerciante afirma que há uma oferta espontânea de mercadorias para o estoque da loja. Ele diz, no entanto, que algumas não valem a pena ser adquiridas. “Não adianta oferecer um conjunto de sofá muito danificado, porque ninguém compra. ### Preço bom e boa lábia dão o toque e garantem vendas Para ser vendedor de lojas de usados também é preciso ter poder de convencimento. Os clientes são exigentes e buscam produtos de qualidade. O atendente de consultório Sidcley Vieira da Silva ficou namorando um computador que estava em exposição na loja de Francisco. Mas, como trabalha com informática e entende bem de configurações de computadores, o preço não o convenceu a fechar a compra. O computador com leitor de CD e scanner estava sendo vendido por R$ 1 mil. Sidcley argumentou que poderia comprar um novo por até R$ 1.300, dividido em até 24 parcelas. Mesmo que tivesse de investir um pouco mais na compra do scanner, ele acreditava que poderia ser mais vantajoso comprar o equipamento novo. “É preciso ver a configuração do computador, porque esse tipo de equipamento está sendo sempre atualizado”, observou. Além do computador, Sidcley estava em busca de algumas cadeiras. Nesse caso, ele confirmou que a compra das usadas era mais vantojosa. LEILÃO Os leilões de bens que foram penhorados para pagamento de dívidas também são uma boa oportunidade para adquirir produtos que ainda podem ser aproveitados e com preços abaixo de mercado. A Agência de Leilões Freire, uma das mais tradicionais de Maceió, realiza leilões periodicamente, principalmente de bens de empresas estatais. A agência também trabalha com venda direta de alguns produtos numa loja instalada na Rua Augusta, no centro de Maceió. Grande parte do acervo é formado por antiguidades, como móveis do século XIX. Segundo a secretária do leiloeiro, Cristiane Bandeira, boa parte do acervo da loja é vendida por consignação. A maioria veio de famílias que residiam em casarões na cidade de Penedo. “Como vieram morar em Maceió, não encontraram espaço nos apartamento e decidiram se desfazer dos móveis”. Devido à beleza e antiguidade dos móveis, a clientela da loja é constituída principalmente por arquitetos. Cristiane disse que o motivo para isso é que na loja pode-se encontrar móveis e outros acessórios de decoração que num antiquário custariam o dobro do preço. Em média, os preços das mercadorias variam entre R$ 2 mil a R$ 5 mil. “Hoje, a tendência é misturar móveis antigos e modernos”. Lá é possível encontrar rádios, ainda em funcionamento, dos anos 50; penteadeiras do início do século XIX, lustres, além de cofres e outros equipamentos de escritório. Na maioria dos casos, as mercadorias são vendidas sem reparos. Cristiane explica que muitas vezes não vale a pena investir na reforma dos móveis antes de vender. “A gente não recupera, porque muitas vezes o cliente prefere fazer a reforma para combinar com o ambiente”. |FAS ### Roupas e carros usados em harmonia Comprar roupas em “brechós” também é uma alternativa para economizar na hora de renovar o guarda-roupa. Em alguns casos, o aluguel pode ser uma uma boa pedida. Nesse ramo entram, principalmente, roupas para festas, vestidos de noiva, madrinha, dama e ternos para formaturas e casamentos. A gerente de uma loja especializa no aluguel desse tipo de roupa, Andréa Moura, afirma ser muito mais vantojoso alugar um vestido de noiva ou mesmo para festas de gala, do que investir na compra de um novo. Segundo ela, um vestido de noiva, por mais simples que seja, não sai por menos de R$ 1 mil. Alugando, esse preço pode variar entre R$ 150 e R$ 600. Outra vantagem é que, mesmo para aluguel, a pessoa pode escolher o modelo a seu gosto e usá-lo pela primeira vez. “Você tem um vestido de noiva por um um terço do que custaria um novo e pode guardar as fotos e a filmagem com ele como lembrança, sem precisar acumular uma coisa que só é vestida uma vez”. Os meses de maior procura por vestidos de noiva são maio, setembro e dezembro. “Mas o ideal é que a pessoa faça a encomenda com três meses de antecedência”, aconselha Andréa. Na loja, além dos vestidos de noite e de noiva, são alugados também becas para formaturas (adulto e infantil) e acessórios como tiaras para noivas e sapatos para ocasiões formais. Andréa disse que no caso de aluguel de vestidos de noite, quem mais procura são pessoas de renda alta e que freqüentam grandes eventos constantemente. “Como precisam usar sempre roupas diferentes, para essas pessoas é mais vantajoso investir no aluguel do que fazer gastos considerados excessivos”. Já as pessoas de menor poder aquisitivo, de acordo com Andréa, preferem investir na compra. “Ainda assim é muito mais vantajoso alugar um traje”, diz a gerente, lembrando que sua loja trabalha somente com aluguel. carro usado Mas o mercado de usados não se restringe apenas a móveis, eletroeletrônicos, roupas e calçados. O de carros usados anda de vento em popa. Comprar carro usado é uma opção para quem não tem dinheiro para adquirir um zero- quilômetro e prefere não entrar nos financiamentos. Nesse tipo de negócio, o pagamento tem que ser à vista. Na tradicional feira de carros usados, que hoje funciona na Praia da Avenida, no centro de Maceió, o número de veículos é pouco para tanta procura. Ainda assim, segundo o vendedor Gilson José da Rocha Barros, o movimento para compra de carros usados não está tão bom no momento. Um dos motivos, afirma ele, é a disposição das pessoas de optar pela compra de carros novos. Isso faz com que haja uma desvalorização dos preços dos carros usados. “Mas como os preços de carros usados aqui são mais baixos, isso atrai muita gente de fora e acaba faltando carro para o pessoal daqui”. Esse ponto de vista é confirmado por um dos mais antigos corretores de carros usados, José Alves dos Santos, mais conhecido como “Prego”. “Quando alguém vê um carro com placa de Maceió, quer logo comprar”. Na feira é possível encontrar carros seminovos, com dois a três anos de uso, com “cara de zero”. “A maioria das lojas compra os carros daqui”, diz Gilson Barros . Ele explica que, na feira, a compra somente pode ser feita à vista. Mas, por meio das lojas, é possível conseguir financiamentos. “A vantagem aqui é que você pode comprar o carro muito barato”. Para se ter uma idéia, um carro de marca Peugeot, ano 2000, estava sendo vendido na feira por R$ 14 mil. Numa loja, ele não sairia por menos de R$ 16 mil. Nesse caso, o comprador tem uma economia de R$ 2 mil. |FAS