Cidades
MST e MLST abrem confronto por terras

MARCOS RODRIGUES Repórter Joaquim Gomes - A violência no campo em Alagoas ganhou um novo foco: o confronto entre trabalhadores rurais. Ontem, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e do Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), se enfrentaram armados, na Fazenda Riachão, em Joaquim Gomes, distante 80 km de Maceió. A área, que integra um complexo de fazendas que soma aproximadamente 3 mil hectares, é reivindicada pelos dois movimentos. No local estão 80 famílias do MST e 90 do MLST. O enfrentamento deixou um trabalhador ferido à bala e dois com cortes no ombro provocados por facões. Um outro trabalhador que foi atingido nas costas fugiu pelo canavial e até o início da noite não havia sido localizado. Não foi um confronto e sim um massacre. Digo isto porque só existem trabalhadores feridos do nosso lado. Sem falar que o companheiro que desapareceu pode ter morrido no meio do mato com hemorragia, disse o coordenador estadual do MST, José Roberto. Segundo ele, os responsáveis pelo ataque são integrantes da direção do MLST, comandados pelo ex-militante do MST, Marco Antonio dos Santos, o Marrom. A Gazeta tentou ouvir o acusado, mas, até o fechamento desta edição, ele não foi localizado. Temos informações de que ele esteve pessoalmente no local, afirmou José Roberto. A fazenda Riachão está localizada no limite entre Joaquim Gomes e Flexeiras. A área está em processo de desapropriação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária de Alagoas e pertence ao grupo Agroindustrial Agrisa. O acesso ao local é feito pela BR-101 e em seguida mais 2,5 km em estrada de barro. Clima tenso O enfrentamento entre os trabalhadores teve início no final da manhã e mobilizou famílias de dois acampamentos. O clima só foi contornado com a chegada do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Os policiais conseguiram resgatar algumas famílias que estavam cercadas num dos pontos da fazenda. Durante a revista no acampamento do MLST foram apreendidas oito espingardas tipo soca- tempero (com chumbo) e uma pistola (tipo garrucha). O trabalhador Cícero dos Santos foi preso por manter duas armas em sua barraca. ### Movimento acusa Incra de favorecer grupo rival Joaquim Gomes - A área em disputa pelos movimentos de trabalhadores rurais está em processo de negociação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em Alagoas (Incra-AL) desde a primeira invasão comandada pelo MST, em maio de 2004. À época, o movimento havia pulverizado a ocupação em quatro acampamentos. Porém, a reação dos proprietários da Agrisa motivou um processo de reintegração no Incra. Segundo o coordenador estadual do MST, José Roberto, foi firmado um acordo pela retirada das famílias que foram removidas para as fazendas São José e Capricho. Em julho denunciamos que a direção do Incra agia com incompetência e, pior, favorecendo o outro movimento [MLST]. Por isso, pedimos a saída do superintendente do órgão [Gino César], disse José Roberto. Hoje, uma reunião decidirá se o movimento voltará a exigir a saída de Gino César. Enquanto isso, a recomendação é para que as famílias permaneçam na área, mas em clima de paz. Para isso, foram enviados ao local alguns integrantes da coordenação estadual. Ontem, parte das famílias chegou a se retirar do local temendo que, durante a noite, as ameaças de morte fossem concretizadas. Retorno Diante do impasse envolvendo a desapropriação, as lideranças do MST decidiram voltar para a área do Riachão. Com o retorno, o clima voltou a ficar tenso, já que o acampamento foi montado ao lado das famílias do MLST. Ontem, segundo o trabalhador Cícero dos Santos, 44, preso por porte ilegal de armas, o objetivo era destruir o acampamento do MLST. Eu não estava no acampamento, mas, quando cheguei, vi a movimentação. A ordem era para desmontar o acampamento. Nesse momento, as famílias do MST vieram para cima e houve a reação, confirmou o trabalhador. Ele foi preso pelo major da PM, Eraldo Ferreira. Segundo o oficial, o sem-terra estava com duas espingardas escondidas em seu barraco. Trouxemos ele para Joaquim Gomes, porém, o caso será investigado pela delegacia de Flexeiras, explicou o militar. O delegado da cidade, Sílvio de Lima, confirmou que o clima na região é tenso. Em operações realizadas, nós já apreendemos cerca de 13 armas de fogo, inclusive com sem-terra, afirmou o delegado, prometendo intensificar as revistas. MR