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Via Expressa vira avenida, sem nunca ter sa�do do papel

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| CARLA SERQUEIRA Repórter Na verdade, a Via Expressa nunca saiu do papel. No projeto original da rodovia, datado de 1978, os seus 17,9 quilômetros chegariam ao Porto de Maceió, abrindo caminho para a produção agrícola do interior alagoano. A passagem seria exclusiva para veículos leves e pesados. A pista seria dupla, com canteiro central e faixas especiais de aceleração e desaceleração. Não haveria semáforos nem lombadas. O fluxo deveria ser contínuo, livre de interferências laterais de veículos e pedestres, além de estar previsto controle rigoroso de acesso. É fácil perceber que muita coisa ficou no campo das idéias. O que seria a via mais rápida de Maceió, hoje está saturada e sequer foi concluída. Em muitos trechos não existe acostamento. Carroças e bicicletas disputam a vez com veículos de todo tipo. Muita gente já foi atropelada e a expectativa dos maceioenses em ver a ligação entre o transporte rodoviário e o marítimo perdeu-se no tempo. Calculada para ocupar uma faixa de 80 metros de largura, chamada tecnicamente de faixa de domínio, a Via Expressa, hoje reduzida a uma avenida batizada com o nome do milagreiro Menino Marcelo, não ocupa mais de 12 metros. A única coisa que ocorreu conforme o programado foi o aumento do fluxo de veículos. Em 1991, por dia, passavam pela ?via expressa? pouco mais de 2000 veículos. Hoje, de acordo com o primeiro estudo realizado sobre a rodovia, apresentado pelo Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (DNIT) este ano, o fluxo é de 20 mil veículos diários. ?Sem a duplicação da pista?, diz o diretor do DNIT, Helder Rebêlo, ?a via, em alguns trechos, se torna lenta e cheia de obstáculos?, afirma ele, sem saber explicar por que a rodovia não chegou ao Jaraguá. ?Não estava envolvido com a obra na época. Provavelmente foi por falta de recursos?, acredita, dizendo que não tem mais como considerar a Avenida Menino Marcelo como uma via expressa. ?Não tem como. A cidade chegou junto dela?, justifica. ### Terrenos foram valorizados com rodovia Quando a BR-316 cruza a Avenida Fernandes Lima [BR-104], na altura do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Tabuleiro do Martins, ela se transforma na Via Expressa. A rodovia tem origem em Belém, no Pará. Sua extensão é de 2.032 quilômetros. Em Alagoas, a BR-316 corta 18 municípios e deveria se estender até o Porto de Maceió, no Jaraguá, mas por falta de dinheiro, segundo os gestores públicos, ficou no meio do caminho. Ela termina próximo ao restaurante Xô Boi, no Barro Duro, e frustrou muitos maceioenses que esperavam ver a rodovia chegar até o mar. Antes de ela ser construída, o comerciante Edmundo da Silva Brandão, de 61 anos, já estava de olho na região. ?Só vinha aqui quem tinha negócio?, diz ele, que em 1971 comprou, de uma só vez, 11 lotes. ?Era barato demais?, revela. ?Para se ter uma idéia, eu vi um amigo meu trocar um porco por um terreno?, conta, entre risos de satisfação. Na época, dono de uma lanchonete na Cidade Universitária, ele foi aconselhado a investir na região. ?Já se falava na construção da Via Expressa, mas muita gente não acreditava?, disse. Hoje ele mora na Serraria, onde mantém ainda os onze lotes. ?Isso aqui ainda vai crescer muito. Não vendi nada. Estou esperando valorizar ainda mais?, revela, dizendo que a construção da Via Expressa durou menos de dois anos. ?Lembro bem. Era muita promessa em cima da rodovia?. Faltaram 6,9 quilômetros para a rodovia chegar ao Porto de Maceió. Na opinião do coordenador do DNIT, Helder Rebêlo, a interrupção da rodovia não definiu o seu fracasso. ?A Via Expressa foi construída e trouxe muitas vantagens para Maceió. A cidade se estendeu para o Tabuleiro muito em função dela?, afirma, dizendo que outras opções de tráfego contemplaram o Porto.|CS ### DNIT anuncia projeto para duplicar pista Apesar da ocupação desordenada nas imadiações da Via Expressa, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) vai encaminhar a proposta de duplicação da rodovia para o Ministério dos Transportes. Helder Rêbelo, coordenador do DNIT, frisa que está trabalhando em parceria com a prefeitura e Polícia Rodoviária Federal. ?Estamos todos preocupados com o futuro da Via Expressa?, diz. Uma série de intervenções na atual Avenida Menino Marcelo está prevista no projeto preliminar do DNIT. Entre elas, duplicação da pista, restauração do pavimento, construção de vias laterais para o tráfego local, substituição dos cruzamentos por viadutos, além de ciclovias e passarelas para pedestres. Na proposta, cada pista terá duas faixas de 3,6 metros, além de três metros de acostamento. Do Clima Bom, conforme explicação no projeto, até a Avenida Rotary, as pistas serão separadas por um canteiro. A extensão até Jaraguá será pelo Vale do Reginaldo. Após a Rotary, as pistas serão separadas por barreiras de concreto com largura de 1,2 metros, tendo em vista a grande movimentação de pessoas já existente na área. Quatro viadutos também estão previstos - dois ligando a rodovia aos conjuntos José Tenório e Benedito Bentes, e outros dois, ao Distrito Industrial e à Avenida Rotary. O investimento para duplicação e restauração da rodovia será de R$ 43,7 milhões. Helder Rabêlo demonstra seu otimismo quando revela as quantias destinadas a rodovias alagoanas nos últimos anos. Segundo ele, em 2003 Alagoas recebeu R$ 5,8 milhões; em 2004, R$ 16 milhões; e este ano, 30 milhões. ?A cada ano temos conseguido mais dinheiro?, diz, afirmando que as obras seriam feitas aos poucos, de acordo com a liberação da verba.|CS ### Invasões ameaçam área para ampliação No projeto original da Via Expressa, a duplicação da pista só seria feita a longo prazo. A rodovia foi planejada para ocupar uma faixa de 80 metros. Na época, ocorreram as desapropriações e os donos de terrenos foram indenizados. No entanto, a preservação da área não foi garantida e o que se pode constatar hoje são construções a menos de dois metros do asfalto. ?Alguns armazéns, principalmente os mais afastados do Centro, respeitaram as medidas, mas muita gente invadiu mesmo?, disse o engenheiro civil Márcio Lanzuerksy, acreditando ter havido uma banalização do projeto após alguns anos. ?Acho que gestões passadas da prefeitura preferiram ser boazinhas a proibir as construções?, opinou. Lúcia Duarte é gerente de uma serralheria que há 10 anos foi instalada à beira da Via Expressa. Ela afirma que para construir o prédio não recebeu nenhuma recomendação da prefeitura para respeitar limites em relação à rodovia. ?Deixamos uma distância de 15 metros porque sabíamos do projeto de duplicação da pista e que problemas futuros poderiam surgir. Mas ninguém exigiu nada?, revelou. As invasões, segundo Márcio Lanzuerksy, colocam em risco a vida dos moradores e prejudicam a drenagem da rodovia. Ele explica que se o projeto original fosse seguido, cercas de concreto deveriam garantir o tráfego seguro dos carros e uma via paralela serviria aos transeuntes, onde pontos de ônibus e ciclovias poderiam ser instalados. O coordenador do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (DNIT), Helder Rebêlo, afirma que hoje as invasões estão controladas, mas reconhece que elas podem ser o grande entrave para uma futura ampliação da rodovia. ?Com certeza o preço seria muito alto para desapropriar a região?. |CS ### Cresce número de ciclistas atropelados Todos os dias, uma legião de ciclistas faz uso da Via Expressa para ir ao trabalho. Muitos são pedreiros ou serventes. Com o crescimento da região, a oferta de emprego em construções aumentou, de acordo com Júlio José da Silva, 33, e Marco Antônio Ferreira, 28. Os dois passam pela rodovia duas vezes, todos os dias, sempre em horário de pico. Eles são pedreiros e já se acostumaram com as notícias de atropelamento. ?Hoje mesmo [quinta, 29] um foi atropelado mais à frente?, disse Júlio, que já precisou se jogar para fora da via quando um caminhão Mercedez passou ao seu lado. ?Não temos outra opção de estrada. Também não temos dinheiro para o transporte. O jeito é arriscar a vida mesmo?, disse Marco Antônio. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou, no ano passado, 5 mortes na Via Expressa, entre elas a de três ciclistas. Em setembro deste ano, outros três ciclistas morreram e mais 10 pessoas foram atropeladas. Dessas, nove transitavam em bicicletas. Semana passada, preocupada com o trânsito perigoso na rodovia, a PRF realizou palestra para cerca de 150 ciclistas. ?Cada dia o trânsito fica mais complicado na Via Expressa?, reconheceu o inspetor Jerfferson Gonçalves. Para diminuir o perigo, cerca de sete semáforos e algumas lombadas já foram instalados na Via Expressa. O DNIT e a prefeitura estão pleiteando recursos para implantar uma ciclovia. Para se ter uma idéia da quantidade de ciclistas que precisam usar a Via Expressa para se locomover, o comerciante Edmundo da Silva Brandão, 61 anos, contou, em quinze minutos, 194 bicicletas passando diante da sua loja, na Serraria. ?Atropelamento é um atrás do outro?, diz ele, afirmando que muitos colégios foram construídos próximo à rodovia, aumentando o perigo. |CS

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